sábado, 6 de julho de 2013

Portas, nós cá nos arranjamos sem ti, a sério


Aqui há uns dias, no dia 2 de Julho para ser mais preciso, fui com uma das minhas irmãs à Loja do Cidadão. Tínhamos umas dúvidas sobre descontos para esclarecer no balcão das Finanças e, como o Gaspar se tinha demitido de véspera, não perdemos tempo e fomos lá. Se o tipo que aumentou os impostos sai (e toda a gente, alguns até no próprio Governo, dizia que era contra esse "enorme" aumento), os impostos descem, certo? Certinho direitinho. E antes que arranjassem outro fantoche da troika para lá porem, não havia um minuto a perder.
Para além do mais, mesmo que ainda não houvessem boas notícias, havia sempre a possibilidade de por o sono em dia. As pessoas que estão a atender são muito atenciosas - chegam ao ponto de trabalhar mais devagar silenciosamente só para não fazerem barulho e não acordarem quem está a repousar.
À chegada, tirámos a senha e tivemos logo ali uma boa notícia - só estavam 44 pessoas à nossa frente. A demissão do Gaspar devia ter passado despercebida a muita gente, mas ainda bem para nós. Aquilo ia passar num instante. Demos a volta ao pé do balcão e uma segunda boa notícia - em 7 mesas de atendimento, estavam 2 pessoas a atender. Espectacular. Ora bem, 44 pessoas para 2 mesas, dava 22 pessoas por mesa. Se cada uma demorasse 5 minutos, só tínhamos que esperar 110 minutos - 1h50m! Isto sem contar com as desistências, claro. O mais certo seria esperar só 1h40m. Era, claramente, o nosso dia de sorte.
Ficámos por ali uns minutos, só para analisar a taxa de desistências e medir o tempo médio de atendimento, e fomos beber um café. O segurança informou-nos que já não tinham máquinas automáticas mas que havia um café muito bom mesmo ao lado da loja. Ia eu para agradecer a amabilidade ao homem quando ele se senta e continua a preencher uma lista de nomes enorme. Já tinha reparado que muitos seguranças nas Lojas do Cidadão o faziam. Mas só desta vez é que se fez luz na minha cabeça - era uma lista de pessoas que ele já tinha mandado para o café do lado para ir lá entregar ao dono no fim do dia. A vida está difícil e todos temos que fazer por ela. Compreendo perfeitamente e se fosse eu, acho que até uma carta de menus do café lá teria comigo para mostrar às pessoas.
No café estava um ambiente muito animado. O dono olhou para mim e deve ter visto a senha da Loja do Cidadão que eu ainda trazia na mão, porque fez logo um sorrisinho. Fizemos o pedido e olhei em volta para ver a razão daquele ambiente. Na televisão ao canto, passava a confirmação de que estava a ser um dia de sorte daqueles que aparecem uma vez em cada 31 anos - o Portas tinha-se demitido e havia já comentadores que previam a queda do Governo ou, pelo menos, a demissão dos restantes ministros do CDS.
Voltámos para a Loja e pumbas, nova boa notícia - a malta deve ter saído para festejar e fomos atendidos apenas 1h35m depois de termos chegado. Pronto, ok. Deve ter sido só uma pessoa. As outras duas tinham desistido mesmo.
A senhora que nos atendeu foi muito simpática mas explicou-nos que teríamos que ir resolver o nosso problema à Segurança Social e não ali. Para mim, descontos são descontos e às vezes tenho alguma dificuldade em distinguir o ministério que me engole os rendimentos.
Àquela hora já não havia senhas para a Segurança Social mas não me preocupei. Com a saída do Portas, o mais certo seria o ministro Mota Soares, do CDS, também se demitir no dia seguinte. E depois, já se sabe. Se o tipo que aumentou as contribuições para a Segurança Social sai, os descontos diminuem, certo?
O problema é que, depois de uma semana em stress, à espera a qualquer momento da saída do CDS, sem saber que dia planear para ir à Loja do Cidadão, parece que afinal o CDS fica no Governo e o Portas também.
Este pessoal ainda não percebeu que os portugueses precisam de saber com o que contam para poderem planear a sua vida. E se nem o dia em que se tem que voltar à Loja do Cidadão se consegue prever, já pouco ou nada lá estarão a fazer e mais valia que fossem embora.
Só pedia era que fossem embora numa 3a feira. Às 2as, a Loja do Cidadão está que não se pode.

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