segunda-feira, 31 de outubro de 2011

E de repente, voltei a ter 4 anos

No cumprimento dos meus deveres de marido, fui a um jantar de curso dos colegas da minha Maria. Dias antes do jantar, descontraidamente, disse-lhe que estava a pensar levar o caderno para o jantar. Nem precisei de resposta - os olhos dela disseram tudo o que precisava de saber. E quando chegou a hora, o caderninho lá ficou em casa.
O jantar correu muito bem. Foi bom voltar a beber vinho em copos de plástico, cantar canções de 20 palavras e 30 palavrões e ver como é que a Maria era com menos 10 anos, nos cerca de 53 quilos de fotografias que os colegas dela se encarregaram de levar.
A seguir ao jantar fomos beber um copo a uma casa de fados, em Coimbra. Sinais da idade. Quando tínhamos 18, íamos às tascas. Quando passámos dos 20, íamos a discotecas. Agora, quase nos 30 anos, ou se fica em casa, ou se vai a casas de fados.
Inevitabilidade: às 2h00 fiquei com uma soneira que já nem via 2 palmos à minha frente. Presumo até, que havia pessoas a falar comigo, mas no estado em que estava não posso garantir esta informação.
Até que, num gesto desesperado para me acordar, a minha conjuge pede a uma colega que me deixe fazer um desenho num pedaço de papel de mesa de restaurante e, numa voz entre a esperança e o desespero, me diz: "Faz um desenho para ver se acordas!"
E pronto: num estalar de dedos eu estava de volta aos meus 4 anos, quando a minha mãe me dava um papel na missa para eu desenhar e ao mesmo tempo ficar acordado e sossegado. A minha Maria demorou só 8 anos a descobrir aquilo que a minha mãe sempre soube.
E pensar que tanto sofrimento se poderia ter evitado, com uma simples pergunta, entre nora e sogra.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Obrigado pelo banquinho, senhores do Mude


Este post é uma singela homenagem a todos esses homens que sofrem em silêncio, que vivem a sua vida com sacrifício, que lutam todos os dias, porque, tal como eu, têm um relacionamento com uma mulher que não pode passar mais de meia hora sem ir à casa de banho.
Quando se está em casa, nem se dá por ela. Tudo bem que às vezes ficamos a falar para o boneco, mas isso não nos obriga a sair do sofá.
Agora, quando estamos na rua é que as coisas se complicam. Passeios têm que ser em sítios onde haja casas de banho, porque se não houver, a probabilidade de termos que ir procurar uma atrás de árvore é bastante grande. E ter acabado de sair de um café e dar-lhes a vontade não pode ser mal entendido. A bexiga delas tem vida própria e não pode ser forçada. Até porque, se ela (a bexiga) estiver chateada, de nada vale a ida ao wc. E se o passeio for de carro pode acabar a alta velocidade à procura de um café ou, lá está, de uma árvore. Neste caso, penso que o excesso de velocidade não deve dar multa desde que bem explicado ao agente da autoridade. Aliás, o mais certo é estarmos a falar com alguém que padece do mesmo mal.
Uma das minhas últimas experiências neste campo foi no museu MUDE, em Lisboa. À partida, qualquer um pensaria: "Para que serve um banco no hall de entrada de um museu virado para a rua, com o wc mesmo ao lado?" Depois deste post, acho que já toda a gente percebeu. Os homens também têm direitos e um deles é o de esperarem sentados a ver o que se passa na rua.

PS: o senhor da fatiota devia ser o segurança lá do sítio. Esteve sempre a olhar para mim enquanto fazia o boneco e quando saquei do telefone para tirar uma fotografia para depois o pintar, ia-me saltando em cima... "Fotografias não!"

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A magia do Escutismo


Este último fim-de-semana, fui acampar (se é que dormir debaixo de um toldo se pode chamar acampar) a um sítio na Serra da Lousã apelidado de "Umbigo do Mundo". O sítio chama-se assim porque, basicamente, é um pedaço de rochedo sobre um penhasco com um riacho a correr lá em baixo e rodeado pela Serra. Para se lá chegar é preciso andar uns 4 ou 5km num passadiço sobre as encostas da Serra, com não mais que 40cm de largura.
Foi uma actividade escutista muito bem passada: 5 gajos no meio da Serra, a andar com mochilas às costas de noite, a reflectir sobre a vida, acompanhados de boa comida, boa bebida e um cenário incrível.
A dormida esteve, até à última da hora, para não ser ali. A ideia era dormir nas ruínas de uma casa abandonada, um pouco mais abaixo. O problema é que, nas ruínas estava pendurado um cobertor, recipientes de comida e havia sacos de plástico que indicavam que alguém deveria andar perto. Ao vermos aquele cenário, todos, sem excepção, comentámos: "Que raio de pessoa é que sai do seu conforto e vem aqui para o meio da Serra dormir numas ruínas, com uns sacos, cobertores e comida em taças? Por amor de Deus..." Há pessoas que realmente...
Assim, voltámos para o Umbigo do Mundo, tirámos as nossas taças de comida, os nossos cobertores, os nossos sacos das mochilas e passámos uma noite espectacular!
Para desintoxicar do dia-a-dia não há melhor.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

As obras em Portugal correm sempre bem


Já andava para lá ir há uns tempos e hoje acabou por acontecer. Fui ao parque de Loures desenhar a réplica da catedral de Macau que lá está, em tamanho real. Bem, não é propriamente a réplica da catedral, é mais da fachada. Sim, porque atrás da fachada está uma galeria de arte municipal num edifício vermelho de aço e vidro.
O que é que uma coisa tem a ver com a outra? Não faço ideia. Mas cá para mim, devem ter começado a obra pelo jardim e, quando deram conta já não tinham espaço para fazer a catedral e a galeria de arte, e a solução foi fazer só a fachada da catedral e chamar à galeria Pavilhão de Macau.
Não, não deve ter sido isso... coisas desse género nunca acontecem nas obras...

domingo, 16 de outubro de 2011

Obrigadinho, Dr. Passos Coelho


Tenho notado ao longo dos últimos dias que o nosso Primeiro, o Doutor Passos Coelho, tem sido muito atacado. Pois bem, já que ninguém o faz, aqui venho eu defender o homem, dando a minha preciosa ajuda para dar a conhecer as suas medidas de estímulo à economia, nomeadamente à criação de emprego e ao pequeno comércio tradicional.
A semana passada fui ao Centro de Emprego, por motivos bem alheios à minha vontade. Cheguei por volta das 9h30 da manhã e fui tirar a minha senha. Aberto a apenas meia-hora e já tinha 60 pessoas à minha frente. Fiz umas contas rápidas: se cada pessoa demorasse 5 minutos, tinha ali 5 horas antes de chegar a minha vez. Aproveitei, então, para conhecer aquela parte do subúrbio da cidade. Conheci o pequeno jardim, que desenhei, e uma série de prédios mesmo bonitos. Após uma hora, fui ver como estava a correr o atendimento. Fiquei logo mais animado: em vez dos normais 5 minutos, a média estava agora em 4min30' por pessoa. A espera de 5 horas seria reduzida para 4h e 40 minutos! E bem, fui acabar de ler o livro que levei, já a contar com a eventualidade de ter que esperar, para o jardim, onde estava já um homem a dormir num banco com uma senha igual à minha na mão. E ainda dizem que o Governo não promove a Cultura...
Depois de ler o livro 2 vezes (era de BD, confesso), lá voltei ao Centro. Estava mais ou menos na média esperada. Por volta das 14h30 deveria estar a chegar a minha vez. Às 11h30, apenas duas horas depois de ter chegado, consegui lugar sentado na sala de espera. Só duas horas! Daí até às 13h45, hora em que fui chamado, foi um pulinho. Nem dei pelo tempo a passar. E reparem: 45 minutos antes da hora média a que deveria ter sido chamado!
Quando me chamaram, perguntaram-me o nome e porque estava ali. Lá respondi e mandaram-me esperar. Perguntei: "Desculpe, esperei este tempo todo só para lhe dar o meu nome?" E a senhora, muito amavelmente, respondeu: "Sim, agora tem que esperar que o chamem lá de dentro."
Esperei apenas mais 1h30 e fui logo chamado. Quando comecei a dar os meus dados pessoais, fui interrompido pela senhora que me estava a atender: "O sistema foi abaixo e vai demorar cerca de 45 minutos a reiniciar. Se ainda não almoçou pode ir agora." "Aí está", pensei eu, o apoio à economia local de que tanto fala o Governo. Com esta simples medida, o Governo prestava um apoio enorme aos cafés da zona. Procurei o café mais perto e comi qualquer coisa num instante, para não perder a minha vez.
Quando voltei ao Centro, as coisas foram mais rápidas. Dei os meus dados e a senhora conseguiu ouvir-me apesar do choros da rapariga ao meu lado e dos berros da técnica que a atendia dizendo que não podia chorar porque só piora as coisas.
No final, depois de registados os meus dados, perguntei que apoios existiam à criação de empresas e ao trabalho no estrangeiro. A resposta pronta: "Isso está tudo no nosso site. Eu já lhe dou o endereço. O que precisa de saber neste momento é que tem que cá voltar não sei quantas vezes...."
Às 16h30, quando finalmente me despachei, pude reflectir sobre aquele dia tão bem passado, e a conclusão a que cheguei foi óbvia: para além do apoio à Economia local e à Cultura, o Governo estava a fomentar nas pessoas a vontade de saírem dali e desenvencilharem-se sozinhas para criarem o seu próprio emprego ou a sua própria empresa. Está mais que visto que o Estado só estorva as boas iniciativas de empreendedorismo. Então, nada melhor do que tornar isso mesmo ainda mais óbvio para as pessoas de forma a que elas percebam que estão mesmo sozinhas nessa batalha!
Por tudo isto, obrigado Dr. Passos Coelho! E desculpe lá aquelas pessoas que não têm a capacidade de perceber as suas medidas.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Não se preocupem que não mostro os desenhos a ninguém


Já tinha percebido que fazer desenhos em reuniões onde eu estivesse a participar era algo que não se devia fazer, por razões óbvias. O que ainda não tinha percebido é que também não se deve fazer desenhos em reuniões onde não se está a participar, por razões não tão óbvias. Especialmente em reuniões de mulheres. Mas a razão é muito simples: as pessoas são vaidosas como o caraças.
E nem que seja num desenho num cadernito, querem ficar sempre bem. Assim que damos conta, estão a olhar para nós com aquele olhar de quem diz "Não me faças gorda como no desenho anterior!", "Tem atenção às minhas feições!" ou então "Nesta posição estou bem?"
O assunto da reunião pode ser da maior gravidade, que nada lhes faz alterar a expressão até que o desenho termine.
Quando era pequenito cheguei a querer ser o tipo que está nos julgamentos dos tribunais a desenhar as pessoas. Graças a Deus que não fui por aí. Só de imaginar o juiz a condenar um réu por um atentado qualquer contra a humanidade com prisão perpétua e o réu ser levado pela polícia a esbracejar e a gritar "Sim senhor, a prisão perpétua tudo bem, não tem problema. Agora desenharem uma pessoa com um nariz assim é que não se admite. Eu não merecia isto!..." perco logo o sono.
E se o gajo sair mais cedo da prisão e ainda se lembrar e quiser vingança? Este é o tipo de coisas em que é preciso pensar antes de escolher a profissão. Ah pois é.

domingo, 9 de outubro de 2011

Passei o dia na Sé de Lisboa em Coimbra


Ora aqui está o resultado de um Domingo bem passado de volta da Sé de Lisboa. O Domingo em que lá fomos também não foi mau mas o de hoje, fechado toda a tarde a pintar o desenho, foi espectacular.
E só levou cerca de 7 horas, 3 cãimbras na mão, 11 dores de pescoço, 1 queda do computador ao chão, 2 horas da minha sogra especada a ver-me a pintar, 23 "Ainda não acabaste isso?!" e uns 42 "Que boa maneira de passar um Domingo..."
E amanhã já começa outra semana...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Pronto, já desenhei nos transportes públicos


Fui passear com a minha cônjuge (estes termos dão logo um ar mais sério a este post) a Lisboa. Como estava bom tempo e não apetecia conduzir a nenhum dos dois, fomos de Metro. Como não podia deixar de ser, levei o meu caderninho. Primeiro pelo estilo, e em segundo porque há muitos bons desenhadores que se gabam de desenhar nos transportes públicos. Onde houver alguém a gabar-se de alguma coisa, o meu orgulho masculino empurra-me para lá, pensando ele que assim faz com que não fique atrás de ninguém. Já passei umas boas vergonhas à conta do meu orgulho e desta vez, voltou a levar a melhor. Mal me sentei no metro pus-me a desenhar.
A principio estava tudo a correr bem. O metro estava praticamente vazio. A meio da viagem sentam-se duas senhoras muito faladoras ao nosso lado. Enquanto estavam a conversar sobre madeixas e cabeleireiras tudo bem. O pior foi quando se calaram e começaram a trocar sorrisinhos... "Até está parecido, não achas?" Ao que a amiga respondeu: "Ih ih ih ih ih!" Não querendo ficar atrás, a primeira ripostou: "Eh eh eh eh eh!" E assim foram o resto da viagem...
E o que é que uma pessoa faz numa situação destas? Fecha o caderno? Continua a desenhar? E se começar a ficar mal? Aqui o esperto, achando melhor não estragar o que já estava feito (no desenho e na boa impressão das senhoras), passou a fingir que estava a continuar o desenho. Felizmente a viagem acabou depressa. Tão depressa não me volto a meter numa destas, mas se alguém me vier com a conversa de que desenhar nos transportes públicos é que é bom, já posso falar. O meu orgulho só quer o meu bem.