terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Que 2014 tenha o que realmente for importante!

Apesar de ser o último dia do ano, hoje coube-me levar a família do meu irmão (ele, a minha cunhada e os dois filhos - a princesa cor-de-rosa de 9 anos e o monstrinho ternuro-frenético de 6) à estação dos autocarros. No Natal a família junta-se sempre em casa dos avós (dos miúdos) mas, à alegria dos reencontros contrapõe-se sempre a tristeza dos regressos às casas de cada um. Depois do meu irmão e família saírem, também eu e a Maria sairemos, e, depois de nós, as minhas irmãs farão o mesmo, deixando a casa novamente livre para os meus pais fazerem as loucuras que quiserem e que nós não queremos nem imaginar.
Os miúdos, que por viverem a uns milhares de quilómetros de distância já vão estando habituados a estas circunstâncias da vida, são os que melhor sabem lidar com elas. A tristeza só tem permissão de se sentir mesmo na hora da despedida. Até lá, é aproveitar, que o tempo é curto e é preciso abusar da paciência: eles da dos tios e dos avós e os tios e os avós da deles, que o reencontro só é possível no Verão.
Na sala de espera da estação dos autocarros, ao ver passar um velhote de barbas brancas e compridas, o meu sobrinho ficou de queixo caído. Percebi logo que o miúdo tinha reconhecido o Pai Natal mas, o que faria ali o homem, ainda por cima de roupa normal e sem as renas?
Por isso, apressei-me a tirar-lhe as dúvidas: "É o Pai Natal, mas agora que acabou o trabalho vai passear, e deu férias aos empregados dele. Ah, e vem sem a roupa normal para ninguém o reconhecer!"
Meio aparvalhado, o miúdo olhou para o velhote e voltou a olhar para mim com ar de dúvida. Disse-lhe "É é!" e o miúdo, matutando naquele meu segundo argumento, voltou a olhar para o velhote. Demorou uns instantes e foi então que, de sorriso rasgado, se virou para mim e me disse: "Tio tio, tenho um segredo para ti! Olha que a mamã até tem o número de telefone dele!"
A princesa cor-de-rosa partiu-se a rir, pelo menos até ao pequeno monstrinho lhe roubar metade do croissant e todo a estação ficou a saber. E num instante, o maldito autocarro apareceu. Aí foi a altura de, por coincidência, lhes entrar "uma coisita" para os olhos, que se encheram instantaneamente.
"Tio, dizes-nos adeus do lado de fora do autocarro?"
Digo, pois. Digo adeus e até para o ano, que as saudades já começaram a apertar.

Um bom ano a todos, recheado daquilo que é mais importante!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

30 dias de solidão

Este último mês que passou foi especialmente complicado para mim. Tive em mãos um trabalho gigantesco, que me obrigou a estar 55 minutos por hora, 14 horas por dia, 7 dias por semana, 4 semanas por mês em frente ao computador. A tal ponto que cheguei a ponderar ir à farmácia comprar fraldas para rentabilizar mais o tempo - parecendo que não, 6 idas por dia à casa de banho ainda roubam 28 minutos ao trabalho (demoro 7 minutos em assuntos demorados, 3 em assuntos rápidos). E até já tinha a estratégia preparada - só tinha que pedir fraldas à farmacêutica e dizer que eram para a minha avó. Mas depois de ponderar bem as coisas, acabei por não ir. O mais certo era a mulher perguntar-me o tamanho das fraldas e eu descair-me e olhar para a etiqueta das minhas calças antes de responder: "Das fraldas não sei, mas as calças são tamanho 40..."
O trabalho consistiu em ilustrar e paginar um livro de dicas e truques para o dia-a-dia em casa. Fiquei a saber coisas tão interessantes como o facto de que, acender um fósforo na casa de banho depois de uma evacuação radioactiva (if you know what I mean), faz o cheiro da descarga desaparecer por completo. Ou que segurar o prego junto à parede com uma mola da roupa antes de martelar diminui as probabilidades de dar uma martelada na mão.
Ainda assim, e tendo em conta a minha experiência de longos períodos em casa, acho que ficaram algumas dicas e truques essenciais fora do livro. Por exemplo, se fosse eu o escritor, começaria logo o livro com:
"Se estiver constipado e se assoar muitas vezes em casa, assoe-se e deixe o lenço ranhoso no sítio onde se assoou. No dia seguinte, ao passar novamente por esse sítio, vai ver que o lenço está seco e já o pode usar novamente. Vai deixar de ter que se preocupar em andar com lenços atrás."
Não não, já sei. Se fosse eu, começava era o livro com:
"Se for passar o fim de semana a casa de familiares, deixe a loiça toda lavada. A menos que esteja suja de queijo. Aí vai ser bom voltar a casa, com um queijinho gourmet cheio de bolor a perfumar a casa à sua espera."
Não, esta também não. Tinha que ser uma mesmo útil. Ah, já sei:
"Se estiver a ver aqueles programas de debates de futebol com gajos fanáticos e doentes, não ponha a televisão mais alto para perceber o que é que eles estão a dizer. Não vai perceber à mesma e a vizinha do lado vai começar a dar palmadas na parede por causa do barulho e, quando lhe for pedir desculpa, ela ainda lhe vai responder que aquela hora não é a mais indicada para fazer festas com os amigos em casa."
Caramba, mas porque é que ninguém me pede conselhos...

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Tenho um arbusto a nascer debaixo dos azulejos (ou então a casa está a ruir, prontos)


Ontem à noite, estava eu com a Maria a arrumar a loiça na cozinha depois de jantar, quando começamos a ouvir o chão a ranger. Primeiro devagarinho, depois mais alto e mais e mais.
Olhámos um para o outro aparvalhados. Aquilo não era normal. Se a laje fosse de madeira, seria normal que rangesse (ui, as vezes que me custou a adormecer em casa da minha avó porque o chão não se calava e não havia quem me tirasse da ideia que era o homem do saco que lá vinha - e não estou a falar do Pai Natal...), mas aqui não era (supostamente) esse o caso.
Procurámos com os olhos pelo sítio da laje de onde vinham os ruídos mas não precisámos de nos esforçar muito - os azulejos começavam a soltar-se do chão, formando um alto mesmo no meio da cozinha. Aquilo mais parecia que estava a crescer um arbusto mutante debaixo dos azulejos. Uma pessoa não limpa o chão como deve ser e depois é o que dá.
A Maria, consciente de que tinha chegado o dia do juízo final, saltou por cima dos azulejos saltitantes em direcção à porta da saída e gritou-me para fazer o mesmo. Parecia uma cena daqueles filmes em que uma das personagens salta por cima de um precipício e grita à outra para fazer o mesmo, só que a outra está tão aparvalhada que não tem reacção. Ok, talvez não tenha ajudado a acalmar os ânimos eu ter dito "Esta merda está toda a ruir!...". Agora que penso nisso, foram 30 segundos mesmo engraçados.
Quando os azulejos, finalmente, sossegaram, fui ao apartamento de baixo ver se do tecto dos meus vizinhos se teria soltado alguma pedra. Mal me abriram a porta, percebi logo que não - depois de ter deixado sair a fumaça toda, vi que que por lá havia muita pedra, mas nenhuma que tivesse caído do tecto.
"Estávamos a fumar, ouvimos uns barulhos vindos do tecto e pensámos - devem ter deixado cair algum electrodoméstico, ah ah ah!" disse-me a minha vizinha, abanando a mão à frente da cara para me conseguir ver através do nevoeiro e rindo à parva do assunto como se o facto de os azulejos da minha cozinha terem vida própria fosse engraçado.
Voltei para casa convencido que, fosse lá o que fosse, o apartamento não ia desabar e que, no dia seguinte, haveria tempo de chatear o senhorio. A Maria é que não se deu por convencida e passou a noite a perguntar-me se estaríamos seguros. Ao fim da 57ª vez que lhe respondi que sim, desistiu e foi para a net à procura de uma razão para os azulejos ganharem vida. Ao que parece, de acordo com a net, aquilo aconteceu por causa do calor intenso, da humidade e da casa não ter sido arejada há meses. Por acaso, ontem foi dos dias mais quentes que tenho memória... Ainda bem que temos sempre a net para nos ajudar.
Mesmo assim, continuo a achar que foi por ter nascido um arbusto mutante debaixo dos azulejos. A carne hoje em dia vem cheia de hormonas, não sei se as pessoas sabem disso. E quando se cozinha, as hormonas passam para o ar e acabam em cima dos azulejos. Depois juntam-se a pedaços de legumes e dá nisto. Parece-me mais credível. Foi isso, de certeza.

Ah, é verdade: o senhorio já cá veio. Fez aquele ar de frete que só os senhorios sabem fazer e disse-me: "Vou ver quando é que posso mandar aqui o homem para tratar disso." E nem tentou por-me as culpas daquilo em cima. Foi uma sorte não se ter lembrado dos arbustos mutantes... Ufas.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O meu Capuchinho Vermelho

Aqui há uns meses, fui à apresentação de um projecto de uns tipos cheios de ideias. Daqueles que falam sem parar e acreditam tanto nas ideias que têm que conseguem contagiar quem os ouve. Ao princípio ainda achei que fossem só mais uns Miguéis Gonçalves desta vida mas, como nunca me mandaram bater punho e ainda diziam que os ganhos eram partilhados por todos os intervenientes no projecto, comecei a prestar atenção ao que diziam.
No fundo, a ideia era bastante simples: eles sabiam fazer apps para tablets e smartphones e, por entre as linhas de programação que devem debitar todos os dias, lembraram-se que era capaz de ser giro vender histórias infantis, daquelas que toda a gente conhece menos os putos. Deram o nome de Classic Tales ao projecto e chamaram a malta dos bonecos para dar corpo à ideia.
Acabei por ficar bastante entusiasmado, ainda para mais quando pude escolher o Capuchinho Vermelho para ilustrar. O mais difícil foi arranjar tempo para fazer o trabalho. Isso e escolher um final para a minha versão da história. Descobri milhares de versões diferentes, cada uma mais hardcore que a outra.
Depois de adiar até ao limite do prazo (sou um português convicto), não tive outra hipótese senão fazer as ilustrações nas férias de Verão - duas semanas a levantar-me às 5h30 da manhã para desenhar para depois estar livre para ir para a praia a partir das 11h, quando a Maria se levantava. Tirando o facto de não conseguir acompanhar o que ela dizia a partir das 23h 22h 21h 20h, acho que até correram bem.
Agora, ao fim de uns meses, a minha história e outras cinco de outros tantos talentosos ilustradores estão à venda na appstore, desde ontem. Já há mais um grupo de histórias a entrar num futuro próximo, o que augura um bom futuro para este projecto. Oxalá assim seja. A malta bem que agradece.
Só espero ganhar o suficiente para as próximas férias de Verão. É que posso ter que voltar a trabalhar nessa altura e vou precisar de um bom argumento.

PS - pus um vidro estalado na imagem para o meu sobrinho ver como a história vai aparecer no iPad do pai dele. Ele ainda é pequenito e podia estranhar ver aqui um desenho sem rachas e depois aparecer diferente no iPad que ele pisou e rachou, levando o pai às lágrimas de emoção... Pois, isso.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

O novo Código do Animal de Companhia


Desde que acolhemos um pequeno monstro devorador de seres humanos - como carinhosamente gostamos de o ver - cá em casa que olho para os animais domésticos com outros olhos.
Em casa dos meus pais sempre tivemos animais com fartura, mas estando eles no quintal, a afeição que sentia por eles era muito menor do que tenho por esta bola de pêlo cujo único interesse na vida é arrancar-nos os olhos, espetando neles uma garra de cada vez. Lá, a interacção não ia muito além de algumas festas e de fita-cola nas patas. Aqui é diferente. Especialmente porque aqui, quem manda é o animal. Quem, como eu, viu o filme do Rei Leão sabe que o animal que se empoleira no ponto mais alto da selva é o que manda nos outros.
Por isso fiquei curioso com o novo regime jurídico sobre os animais de companhia. Que diabo, por cá não há só a crise. Tinha esperança que os direitos dos animais viessem reforçados, mas parece-me que se perdeu uma boa oportunidade. Nada de novo, por estas bandas.
Limita-se o número de animais por casa e apartamento, como se todos os apartamentos fossem iguais e como se todos os animais fossem iguais. (E como se todos os vizinhos fossem iguais.) Mas deixam-se de fora os criadores de animais, porque, claro, neste caso a economia sobrepõe-se ao incómodo que os bichos possam fazer. Quando se tenta passar aquilo que é do bom senso para lei, geralmente dá asneira. Em relação à eutanásia para os bichos, parece-me uma boa medida para aqueles casos em que a doença é terminal e gera um sofrimento atroz ao animal. Mas mesmo aqui, pelo que parece daquilo que li aqui, vai ser possível praticar eutanásia em animais doentes (cuja doença possa ser transmitida às pessoas), mesmo que a sua doença seja curável. Ou seja, se o animal estiver doente, o dono leva-o ao veterinário. E depois escolhe o tratamento - um que dá umas chatices de ter que dar medicamentos e tratamentos cuidados mas que demora algum tempo a fazer efeito ou outro que faz efeito imediato e não dá nenhuma chatice. Esquisito.
Mais esquisito ainda é que muitas das associações que recolhem animais das ruas nem sequer foram ouvidas mas aquelas que criam animais com fins económicos até "ajudaram" a criar a nova lei. Acho que nem é preciso dizer mais nada.
É pena que se perca esta oportunidade para legislar em defesa dos animais. Tinha esperança que a lei fosse verdadeiramente mais à frente e que defendesse aquilo que é mais importante e que, de uma vez por todas, retirasse os animais do sofrimento por que muitos passam.
Desde logo, era essencial uma lei que proibisse vestir roupinhas aos bichos e que impedisse que se fizessem penteados com caracóis ou de pêlo esticado. E que proibisse redondamente que, de 30 em 30 segundos, houvesse alguém a pôr uma foto do seu animal no facebook.
E, ah, falta a mais importante - uma lei que proibisse a atribuição de nomes de pessoas casadas comigo a animais. Esta devia ser mesmo punível com pena de prisão de alta segurança.
No outro dia, ia a passar pelo parque quando oiço uma velhota aos berros:
"Ó Dalila, pára com isso! Já te disse, Dalila! DALILAAAA!!!"
Bolas, a pobre da caniche não merecia aquilo. Nem eu.
Olhar de repente para uma velhota aos berros a apontar para alguém na relva, que não se consegue ver à primeira vista quem era, por ter feito as suas necessidades na relva e cujo nome é o mesmo da minha Maria, pode ter um efeito traumatizante numa pessoa.
Já não bastava a outra actriz que faz sempre dela própria ter o nome da minha Maria, agora tenho que levar com a besta da vizinha.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Venham de lá esses armários suecos


A semana passada fui com um colega ver o jogo da Selecção contra Israel no Estádio de Alvalade. Nunca tinha visto o Ronaldo jogar e, na altura, pareceu-nos boa ideia...
Chegámos mais cedo ao estádio para termos tempo de ir à rulote do Rei das Bifanas, mas ainda nem tínhamos tirado a mostarda dos cantos da boca, quando uma rapariga se chegou ao pé de nós para nos fazer um inquérito sobre telecomunicações. O meu colega ofereceu-se logo (nem sei porquê - o decote dela não era assim tão grande) mas eu já só pensava em ir para o estádio. A rapariga sacou do inquérito e começou por querer saber quantos canais ele tinha em casa e a velocidade da internet. Ao fim de 10 minutos, já queria saber qual era o clube dele, se ele ia muito ou pouco ao cinema, o número de telefone, a morada e o nome completo. Já vi técnicas de engate melhores mas, mesmo assim, não estava nada mal. No fim, a rapariga virou-se para mim e perguntou-me se eu também queria. Recusei o convite educadamente. Ainda há coisas em que sou muito conservador.
Entretanto entrámos para procurar os nossos lugares. Quando se tem bilhetes para lugares quase no meio das nuvens, convém ir com algum tempo de antecedência. Encontrei os lugares ao fim de muitos degraus mas o meu colega preveniu-me que os nossos eram na fila 27 e não 21, como me tinha parecido. Olhei para as escadas mas faltou-me a coragem. E então combinámos que se alguém reclamasse os lugares, sairíamos prontamente e iríamos para os nossos, mesmo que para isso ficássemos a bater com a cabeça na cobertura do estádio e o Moutinho, visto de lá, ficasse a parecer da mesma altura que o Ronaldo.
O jogo lá começou e ao meu lado sentou-se um casal de namorados. O tipo devia ter algum problema no pescoço, porque nunca virava a cabeça para o meu lado. Tentei meter conversa, dizendo que o Hugo Almeida é que devia ser o treinador, porque passava o tempo a ver os colegas a jogar, mas o tipo nada. Voltei a mandar umas bacoradas sobre o Nani estar a jogar com chuteiras de betão e por o São Patrício ter deixado a auréola em casa mas nada. Nem para me mandar calar o tipo abriu a boca. Estranhei. A verdade é que eu e o meu colega também estávamos a ficar chateados. Não tínhamos planeado ver um jogo solteiros vs casados, mas pronto. Quando o intervalo chegou, levantámo-nos e passámos por eles para irmos ao wc (em qualidade de wc's o Sporting dá 10-0 ao meu Benfas...). Ao passarmos pelo casalinho, dei conta da namorada estar a azucrinar a cabeça ao homem porque ele não foi capaz de nos dizer que estávamos mal sentados. Eu sei que pareço uma pessoa super inacessível, especialmente quando digo coisas do calibre cultural de "Ruben Micael, és tão mau que nem a Sofia Ribeiro te queria, pá!", ou algo mais sofisticado como "Ó Ronaldo, vai masé pó c******!", mas caramba, sou uma pessoa sensível e bem educada. E aquilo mexeu com os meus sentimentos.
Tanto que depois do intervalo não voltámos àqueles lugares, nem aos nossos que, por aquela altura, já estavam ocupados. Preferimos ficar nas escadas ao fundo da bancada. Não se via grande coisa mas pelo menos ninguém teve cãibras nas pernas - escalar uma bancada não é para qualquer um.
E só tive pena que não desse mesmo para ver nada. Mas bem, o golo de Israel a 5 minutos do fim teve os seus pontos positivos: deu para acordar o pessoal das bancadas (se não fosse aquilo, os seguranças do estádio iam ter que andar de banco em banco no fim do jogo a acordar as pessoas) e fez com que o Rui Patrício pudesse pronunciar as suas palavras imortais, no fim do jogo:
"Bem, agora o que é preciso é levantar a cabeça."
E agora venha de lá o Ibrahimovic, desculpem, a Suécia. Se não adormecermos, até os comemos.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Para sobreviver às reuniões de trabalho


Longe vão os tempos em que tive a minha primeira reunião de trabalho. Mas, curiosamente, lembro-me como se tivesse sido hoje - estava eu e a minha chefe com dois clientes e levei um pontapé dela debaixo da mesa daqueles que, por mais que tente, não consigo esquecer. E eu bem que preciso de espaço no cérebro para coisas mais interessantes.
Diz-se que os primeiros ensinamentos são os que ficam para sempre. Com aquele pontapé, aprendi num instante que não se deve desenhar as pessoas que estão à nossa frente, especialmente quando temos o caderno poisado sobre a mesa e toda a gente está a topar. Mesmo que (e isto é importante) o que se estiver a dizer não seja importante e os tipos tenham uns óculos e um bigode que estejam mesmo a pedir um boneco no caderno.
Desde esse dia, muito em mim mudou. Sou uma pessoa com mais experiência e com outra forma de estar. Posso dizer, com toda a firmeza, que evoluí muito e não sou mais o irresponsável que era.
Agora desenho as pessoas com o caderno levantado para mim, de maneira a que ninguém veja o que estou a fazer. E se alguém olhar com reprovação, achando que estou, infantilmente, a fazer uns bonecos, basta parar um pouco, olhar a pessoa nos olhos, abanar a cabeça três vezes (como se estivéssemos a concordar com aquilo que está a ser dito na reunião) e tudo volta ao normal, com toda a gente convencida que estávamos era a tirar apontamentos.
E se, porventura, alguém perguntar se apontámos uma determinada informação dada na reunião, o procedimento a tomar também é simples. Mas tem que ser feito com naturalidade, senão a coisa não pega. É só responder:
- Olha, que curioso. Ia mesmo para te perguntar isso. É que também, logo por azar, não consegui tirar apontamentos sobre essa parte.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Ups, I did it again...


A caminho do jantar com a patroa e colegas de trabalho da Maria:
Maria - Olha, agora no jantar com a minha patroa, como tu não a conheces, nem os meus colegas do trabalho, queria-te pedir se podias ter cuidado com as palermices que dizes.
Eu - Palermices, eu? Fogo, tu é que arranjas sempre colegas sem sentido de humor.
Maria - A sério. Eu estou a falar a sério. Não me envergonhes, pode ser?
Eu - Poxa, fica descansada. Eu sei-me comportar. Vou estar sério toda a noite.
Maria - Fazes isso por mim?
Eu - Faço, claro.... Mas sabes que às vezes é preciso alguém que corte os momentos de silêncio pesado. E uma piadola fica sempre...
Maria - Olha, deixa estar. De qualquer das maneiras eu já lhes pedi desculpa por aquilo que provavelmente vais dizer durante o jantar.

A caminho de casa, depois do jantar:
Maria - XIÇA, EU NÃO TE TINHA PEDIDO PARA NÃO ME ENVERGONHARES?
Eu - Desculpa... Às vezes não tenho tempo de ensaiar as piadas e elas saem-me mal... É que parecia mesmo que ia ter piada...

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Ser gajo é mais difícil do que parece


A semana passada, vinha eu com a minha irmã alegremente a descer umas escadas, em direcção à praceta da estação do Rossio, quando nos apercebemos de que algo não batia certo.
Um tipo de chinelos, e aspecto de quem tem uma dívida maior que a da república para com o chuveiro, atravessa a praceta a correr desenfreadamente em direcção às escadas, por onde descíamos. Ainda pensei que o tipo estivesse a acabar de acordar e com medo de perder o comboio. Mas depressa percebi que não, e não foi por ele estar a correr no sentido oposto ao da estação. (quem nunca adormeceu e acordou de repente e começou a correr para a primeira direcção que apareceu à frente? vá lá, não me deixem sozinho nisto...) O tipo estava era a fugir de dois gorilas que vinham a correr atrás dele e que gritavam a plenos pulmões para alguém agarrar o Usain Bolt de chinelos, que, de imediato, atirou ao chão uma mochila que trazia.
Quando percebi o que se estava a passar, fiquei logo chateado. Esta é uma daquelas situações em que é extremamente complicado ser homem. Quer dizer, homem não. Gajo. É mesmo difícil ser gajo nestes casos. Ser mulher não, isso é extremamente simples. Basta encolherem-se para o lado e ficarem assustadas e mais nada. A minha irmã teve um desempenho de mulher impecável. Mas para um gajo é muito mais complicado.
Ora vamos lá ver. Se eu tentasse agarrar o tipo, arriscava-me a levar uma pêra bem servida, o tipo fugia e ficaria tudo a olhar para mim com pena. Se eu o agarrasse com eficácia e o entregasse aos gandulos, podia estar a entregá-lo a uns tipos piores do que ele (eu não fazia ideia se os tipos que o perseguiam eram polícias ou não), e ficava tudo a olhar para mim fazendo-me sentir um paspalho. Se eu não fizesse nada, ficava tudo a olhar para mim com reprovação, fazendo-me sentir um coninhas. Parecia um beco sem saída.
Felizmente, o meu cérebro tem idiotices ideias muito rapidamente e, graças a isso, encontrei a solução ideal. O tipo ia a passar por mim e eu... dei-lhe um encontrão. O tipo tropeçou nos degraus, insultou-me e, com isso, perdeu tempo e os tipos que vinham atrás, e que eram mesmo polícias, apanharam-no. Se não fossem polícias, ninguém me podia fazer sentir mal, porque eu não o tinha agarrado. Mas, como eram, senti-me um verdadeiro herói.
E o melhor foi que tive, logo ali, a recompensa que tanto queria: ninguém olhou para mim.
Até fiquei emocionado.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A vantagem das farmácias é não terem taxas moderadoras


Depois de duas semanas de dores de corpo, de garganta, de ranho constante e de ouvidos tapados (que davam a sensação espectacular de viver debaixo do mar) perdi, por fim, a batalha. Não para o ranho, que enquanto houver papel higiénico com fantasmas a quem eu possa vestir uma roupinha pegajosa cá estarei para o fazer. Perdi a batalha foi para a Maria que se fartou das minhas lamúrias e lá acabei por ceder e ir com ela à farmácia. Quer dizer, na prática, não foi bem uma derrota. Ela queria-me levar ao Centro de Saúde mas, após algumas negociações (que envolveram a garantia de fazer algumas tarefas domésticas que envolvem sanitas e piassabas - mas ainda não estou pronto para falar sobre isso...) lá consegui que a coisa se ficasse pela farmácia. Os Centros de Saúde são para pessoas realmente doentes. E eu não estava. Agora que penso nisso, acho que nem nunca estive.
O problema foi que a Maria não me deixou ir sozinho. E eu até já tinha tudo pensado: entrava na farmácia, cumprimentava a senhora, pedia pelo amor de Deus para não me por na rua durante 5 minutos e depois voltava a dizer que não me tinham receitado nada. Era simples, eficaz e livrava-me da sanita.
Mas não. A menina também tinha ir. Mal entrámos, não consegui dizer uma palavra. A Maria agarrou-se de tal maneira à farmacêutica a implorar que me desse alguma coisa para não me aturar temer pela minha saúde que a única coisa credível que eu poderia dizer à farmacêutica é que estava a ser raptado e que precisava que ela chamasse a polícia. Só não o fiz porque, da maneira que estava, precisa de alguém que levasse o carro para casa. E do jeito que eu estava, achei por bem não arriscar.
A verdade é que vim de lá rendido à farmacêutica e à sua genialidade. Tenho uns comprimidos que me deixam completamente zen (e que, pelo menos na perspectiva da Maria, são espectaculares - está-me sempre a perguntar se já os tomei) mas a verdadeira maravilha é o vaporizador de água do mar.
Dantes, sentia que vivia debaixo do mar apenas por ter os ouvidos tapados. E isso, claramente, era um problema e a senhora percebeu isso. Agora, sim. Sinto que vivo debaixo do mar por ter os ouvidos tapados e por ver tudo mais clarinho e aguado. Pelo menos de cada vez que vaporizo aquele esguicho assassino pelo nariz acima. Consigo ver o esguicho a passar dentro dos olhos e, depois, fico numa choradeira toda a tarde.
A expressão "peixe fora de água" nunca fez tanto sentido como agora...

terça-feira, 10 de setembro de 2013

A motivação é o mais importante


Há muito por aqui quem diga que, em termos de tarefas domésticas, se não fossem as mulheres, os homens estariam bem tramados, já que as suas capacidades dentro de casa se resumem a saber abrir frascos e a ligar e desligar a televisão.
Como tudo isto não passa - obviamente - de uma cabala do sexo feminino, é preciso esclarecer de uma vez por todas este assunto. E, mais uma vez, parece que vou ter que ser eu.
De uma vez por todas - os homens são tão bons como as mulheres a fazer as tarefas domésticas. A diferença está só na motivação. E é aqui que as mulheres ganham vantagem. Vêm a motivação com muito mais facilidade.
Mas vamos a exemplos.
Esta semana que passou, a minha Maria saiu todos os dias antes do galo cantar e chegou já à hora do jantar a casa. Coube-me a mim, por isso, gerir o ninho durante estes dias. E foi aqui que começaram os meus problemas. Tive alguma dificuldade em encontrar motivação para as tarefas domésticas. Não é que eu não as saiba fazer, atenção.
Mas vejam: a gaveta da roupa interior tinha abastecimento para uma semana; na pia da loiça cabia imensa loiça suja até ser preciso alguma lavada; no corredor, junto à porta de casa, havia espaço para ir acumulando os sacos do lixo até ser mesmo preciso levá-los para o contentor; o chão da cozinha, com manchas de comida até se torna mais seguro porque não escorrega tanto... Acho que já deu para entender.
Agora, como eu sabia que ela chegava cansada todos os dias, encontrei aí a minha motivação para fazer eu o jantar. Sim, sim, todos os dias lhe fiz um petisco dos meus. Fosse massa com atum, arroz com atum, ovos mexidos com atum, piza do MiniPreço ou piza do Pingo Doce, não houve dia em que não a tivesse maravilhado com as minhas habilidades culinárias.
E a coisa estava a correr tão bem que eu até me estava a convencer de que era bom a gerir a casa. O problema foi que, a meio da semana, não consegui encaixar mais loiça suja na pia (encaixar pratos sujos uns nos outros sem tirar os talheres entre eles é uma arte) e a pilha começou a subir muito. Para além disso, esqueci-me de me certificar se a gaveta da roupa interior da Maria estava ainda abastecida... O que vale foi que consegui encontrar logo a motivação para tratar daquilo num instante.

- Ai de ti que logo à noite a casa não esteja um brinco. Não fazes nada, caneco. Tenho que estar sempre a pedir? Quando não sou eu a fazer, também não fazes nada, xiça. Pelo menos agora que chego tarde podias ajudar mais, não achas?

Só queria que as pessoas vissem. Dava para comer no chão e tudo. O brilho da casa via-se a quilómetros. É o que eu digo. A motivação é que importa. E eu nunca gostei muito de dormir no sofá da sala.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Verão, está na altura de cada um seguir o seu caminho


Verão, não me leves a mal, mas esta relação já deu o que tinha a dar. Temos que ser realistas e ver que isto já não tem futuro. A culpa não é tua. Tu fizeste o que eu faria no teu lugar. O problema não és tu - sou eu. Diz-me sinceramente - quando olhas para o futuro, o que é que vês? Pois, aí é que está. Eu sinto que esta relação vai arrefecer com o tempo. E continuar não seria justo para ti. (se me tiver esquecido de algum lugar comum, avisem-me)
Eu dei tudo o que tinha, a sério. Já não tenho mais nada para dar. E tu sabes disso.
Eu aguentei os programas da tarde da televisão cheios de música pimba e de apresentadores a falar aos berros. Aguentei as repetições infindáveis dos programas da rádio de manhã. Até aguentei um mês inteiro sem debates políticos de jeito e as propostas da treta como a do Bloco de Esquerda para acabar com os piropos. (se é para dar cabo dos traços mais importantes da cultura de todo um povo e de uma nação, também podiam ter pedido o fim do Fado, sei lá)
Aguentei o cheiro das sardinhas assadas todos os dias no meu prédio e os putos com a música aos berros à noite no pátio.
Ouve, eu até fiz um poster para a festa na praia, quer dizer, a Sunset Beach Party que a minha irmã organizou para os anos dela, daqueles que servem para a malta tirar fotografias que tu te encarregaste de estragar. Sim sim, sabes bem que fechaste tudo o que era centros de cópias de impressão de grandes formatos em Agosto.
Olha, eu nem era para falar nisto, mas também sabes que aguentei a Maria todo o santo dia a implorar para ir à praia. E as hipotermias que eu apanhei? Disso não falas tu. Se, depois disto, eu não puder procriar, espero que isso te fique na consciência. E as horas que joguei "às raquetes" com ela na praia, mesmo que ela não se mexesse um bocadinho para o lado para acertar na bola? Pois é.
E as miúdas que tu puseste a passar à minha frente na praia? Sempre a atentar-me o juízo. O que vale é que eu não ligo nada a isso. Sou um tipo sério. Nunca reparei se os bikinis eram curtos ou se mais pareciam uma fralda, se elas saíam do mar com frio... E qual foi a necessidade de as fazeres apertar as margaridas de cada vez que saíam da água? Havia alguma necessidade? A sério...
E não penses que me esqueço quando me fizeste deixar cair a aliança de casado na areia, que se enterrou de imediato. Meia hora a esfregar a areia à procura. O que vale é que a Maria pensou que eu estava preocupado por a encontrar e não por ficar a parecer mal com um bocado do dedo sem estar bronzeado. Foi por um triz. Mas agora não dá mais.
Espero que compreendas esta minha decisão. Não quero é que fiques chateado comigo. Gostava que ficássemos amigos, sem ressentimentos.
Olha, para o ano procura-me outra vez. Está bem?
Então vá.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Vivo numa creche


No espaço de pouco mais que uma semana, nasceram duas bebés de amigos meus. Uma verdadeira alegria. Cada uma delas é filha de casais que não se conhecem entre si, por isso estou bastante certo de que não devem ter combinado entre eles. Isto para não falar de mais uns amigos que já encomendaram o deles, outros que estão a tratar do assunto (if you know what I mean...) e outros três casais com filhos na casa dos 12 meses (só a partir dos 2 anos é que se começa a contar a idade em anos, certo?).
Esta sensação de viver numa creche, tem-me feito reflectir muito em questões essenciais. Qual é a nossa missão na vida? Qual o caminho para a felicidade? Como que raio se pega num recém nascido sem o desmanchar aos bocados? Parecem questões de resposta fácil, mas não é bem assim.
A semana passada, fomos visitar uma das bebés, com a bonita idade de 8 dias. Agora que penso nisso, eu tenho 11423 dias de idade, e sinto que ainda não fiz nada de jeito... Bem, adiante.
Comprámos o belo do patinho de borracha para o banho para oferecer (que não cabe sequer na mini banheira para bebés que eles têm, mas isso não interessa nada) e lá fomos nós.
Foi uma tarde bem passada a olhar para um bonito pedaço de esperança no futuro da Humanidade, que enchia os pais de orgulho. Incrível como há quem pense que a esperança num mundo melhor esteja na diminuição dos juros da dívida ou no aumento do PIB. Enfim.
A conversa foi muito agradável, apesar de, por mais que me esforçasse, não conseguir intervir. Nunca ninguém quer saber a minha opinião acerca de rebentamento de águas, dilatações (descobri que se mede em dedos... de médico), dores, injecções, mamilos doridos e mamadas. Estranho.
Para o fim estava reservado o momento alto. O equivalente à sobremesa quando se vai almoçar a casa de alguém ou ao charuto, quando se vai a um casamento. Pegar no bebé. Primeiro foi a Maria. Um desempenho notável. Chorou um bocadito mas com umas palmaditas no rabiosque ficou toda satisfeita. Estou a falar da bebé.
Depois foi a minha vez. Eu já tinha pegado em recém nascidos. Peguei muita vez na minha irmã mais nova mas, caramba, há 20 anos os miúdos andavam cheios de roupa. Pareciam os bonecos da Michellin - se caíssem (e acreditem que sei do que falo...), rebolavam e nada de mal acontecia. Desta vez, tinha ali uma bebé só com a fralda. Quando lhe peguei, senti uns toques no chão (a choradeira era tal que deve ter acordado a vizinha de baixo). Abanei-a um bocadinho e consegui que se acalmasse durante 2 segundos, antes de retomar o exercício pulmonar. Dois segundos inteirinhos! Ah pois é! Quem sabe não esquece.
Para a semana há mais, com uma bebé diferente. O objectivo é 4 segundos sem chorar. Três, vá. É melhor ir com calma.
É uma sensação muito engraçada. E se com um bebé de outros já o é, imagino com um nosso...

Calma mãe. Calma dona Sogra. Foi só um pensamento.

PS - O desenho é da minha sobrinha, que apesar de não ser bem uma bebé, também não é com 3086 dias que se pode dizer que seja muito crescida. Eu só dei uma ajudita na pintura.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Brincar aos pobretanas


Aqui há dias, fui passar a tarde com a Maria, e a família dela, a brincar aos pobretanas numa praia fluvial. Bem que gostava de ter ido brincar aos pobrezinhos para uma praia tipo, agora assim de repente, sei lá, Comporta mas, os dias não estão para grandes loucuras e acabámos por ir à fluvial.
E não devemos ter sido os únicos a não querer praticar insanidades, porque o parque de estacionamento estava à pinha. Não era um parque de estacionamento minúsculo pavimentado nem tinha parquímetros caríssimos, como aquele onde se deixa o carro para ir à praia dos pobrezinhos, mas, como era o que havia, tivemos que nos contentar.
O areal confirmava a lotação do estacionamento, a tal ponto que só conseguimos estender as toalhas fora da zona vigiada. A sorte foi que a maré estava baixa e não havia muita ondulação. Tivemos direito a bandeira verde toda a tarde, de maneiras que deu para tomar banho até fartar. Incrível. A água pareceu-me foi um bocadito amarela mas, como leio o Expresso, não me preocupei.
Depois do banho, ao cair da tarde, deu-nos a vontade de ir ao bar da praia beber uma cervejola e comer o marisco preferido do Eusébio (no tempo em que ele ainda tinha a conta bancária como a minha - pobretana, claro), que é como quem diz - tremoços.
No bar, cheio até não poder mais de gente a refastelar-se com marisco, estava um simpático cavalheiro, cuja estrutura física fazia lembrar um guarda-fato de casal, que se sentiu incomodado pela forma como a empregada do balcão o atendeu. Tenho-me dado conta que, quanto maior é o físico, maior também fica a sensibilidade. Na opinião do senhor extremamente sensível, a empregada que o atendeu não tinha formação nem apresentação. Por acaso também achei. As empregadas sem olheiras, de bikini e com meio quilo de silicone de cada lado atendem sempre muito melhor. Podem não saber contar o troco, mas isso também não interessa nada. A senhora ripostou que estava lá era para atender e não era para conversar e o ambiente subiu de tom, com o homem a pedir o livro de reclamações e os colegas da empregada a fazerem uma rodinha à volta dele. Se a coisa desse para a pancadaria, eu era incapaz de dizer que ganharia porque as coisas estavam muito equilibradas - os colegas da mulher todos juntos pesavam tanto como o homem sozinho. O que valeu foi que alguém telefonou imediatamente para a GNR. Nunca tinha visto um telefonema fazer tanto efeito. A malta deve ter pensado que ia para lá o Corpo de Intervenção e desapareceram num instante. E foi uma sorte porque esse corpo deve andar nalguma praia de pobrezinhos porque ali, e só meia hora depois, é que chegou um enfezado militar sozinho, com ar de novato e a olhar para o chão, com ar de não-olhem-para-mim-por-amor-de-Deus-que-hoje-não-me-calha-nada-bem-andar-à-batatada.
Como o espectáculo já tinha acabado, contámos os trocos e chegámos à conclusão que ainda dava para mais meio fino para cada um e um pratinho de marisco da terra. Há dias em que uma pessoa só se contenta com o melhor - depois do marisco do Eusébio, o pratinho de caracóis da praxe. Despachada a iguaria e limpo o queixo (está comprovado que é impossível comer caracóis sem ficar com o queixo a brilhar - quando o Expresso escrever sobre isto, eu ponho o link), voltámos à toalha, mesmo antes da Maria começar com vómitos. Nunca percebi muito bem o nojo dela por animais viscosos cheios de nhanha e que quando se tiram da casca ainda vêm com o número 2 agarrado ao corpo. Enfim. Manias. Antes do regresso a casa, mais uma banhoca e o desenho da praxe.
Gosto cada vez mais de brincar aos pobretanas. Na próxima, vou tentar brincar aos remediados, a ver se também é giro. Mas um dia, quando estiver na loucura, ainda hei-de brincar aos pobrezinhos. Duvido é que tenha tanta piada.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O Saramago nem sabe o bem que já me fez


É nestas coisas que vejo que, se não sou o tipo mais ingénuo do mundo, ando lá perto.
Há dias, tinha uma reunião a seguir ao almoço. A menina Maria, nesse mesmo dia, tinha um almocinho com uma amiga num centro comercial gigantesco, daqueles cheios de restaurantes e lojas de roupa e perfumes e mais não sei quê, perto de mim. E eu achei por bem aceitar trazê-la de volta de carro para casa, convencido de que o seu "almocinho rápido" iria durar tanto ou "ainda menos" que a minha reunião.
Resultado - 3 horas à espera de S. Exa.
Ainda por cima, tinha o carro estacionado ao sol e, dormir lá dentro não estava fácil (E acreditem que tentei arduamente. O melhor que consegui foi meia horita, mas fiquei a suar como os bebés na nuca e acabei por acordar. Como é que será que os sacanas conseguem aguentar? O que é que eles sabem que eu não sei?...). Acabei por ir para a biblioteca e agora, à conta da menina, tenho cá em casa um livro do Saramago para ler.
Para me armar em intelectual é do melhor. Nisso o Saramago fez um bom trabalho. Um livro dele debaixo do braço dá o poder a qualquer pessoa de olhar com desdém e superioridade para alguém que passou 5 horas a ver montras de roupa ou que queira ver o Jersey Shore à noite na televisão. Já para ler...quer dizer... Se ao menos estivesse escrito em português de Portugal, caramba. E como se não bastasse, trouxe logo um de tamanho pequeno que nem um Patinhas consigo encaixar dentro dele.
Só espero que este livro não seja só mais um Objecto Quase lido da minha estante cá de casa. Xiiiii. Perceberam? Esta é só para o circulo restrito de pessoas de nível intelectual superior (ao qual eu agora pertenço, claro) que lêem Saramago. E que trabalham em livrarias. E bibliotecas. E que se são casadas com gente com a mania que é intelectualóide, vá.

terça-feira, 30 de julho de 2013

O meu "outro" estaminé


De vez em quando, recebo um ou outro mail de pessoas que vêm aqui ler as idiotices que escrevo. Se isso por si só já é esquisito, ainda mais esquisito é não serem mails de pessoas a pedirem-me conselhos sobre relações amorosas. Caramba, tenho vindo a deixar pérolas de sabedoria sobre o meu relacionamento e ninguém me pede conselhos. É mesmo frustrante. Eu sei que não é problema meu, porque eu percebo bastante sobre o assunto e tenho uma sensibilidade acima da média, mas pronto. Tenho que esperar que o Quintino e o Machado Vaz se reformem, é o que é.
Em vez disso, as pessoas escrevem-me a perguntar se faço ilustrações profissionalmente, e não apenas uns rabiscos num caderno preto, que depois servem para por no blogue. Estranho. Umas perguntam se faço convites de casamento, outras se faço headers para blogues, outras querem livros infantis. Mas não há uma que queira saber se passar a tarde a lavar a loiça é mesmo afrodisíaco ou se foi uma valente peta que a nossa mulher nos enfiou. 
De qualquer das formas, para mostrar que sou um tipo atencioso e extremamente sensível, dediquei-me a fazer um site novinho em folha com o meu trabalho, para esclarecer os mais distraídos. Está em inglês porque parece que lá fora vive mais gente do que aqui, mas também só tem 3 ou 4 linhas de texto, vá. Se não perceberem alguma coisa, podem perguntar.
O link vai ficar ali ao lado. (porque tem muito espaço vazio e tinha que lá por alguma coisa)
Sejam todos bem vindos aqui.

PS - no separador "Contacts" há um formulário de contacto. Se quiserem mesmo saber se vale a pena irem ao Chinês jantar nhanha com a vossa Maria porque ela adora e vocês acham que isso vos vai trazer algum dividendo (para além da dor de barriga, claro), não hesitem em contactar.

domingo, 28 de julho de 2013

Descobri o meu super-poder


Agora que terminou a época de casamentos 2012/2013, é altura de fazer o respectivo balanço. De entre as várias conclusões a que cheguei, a mais importante que tirei é que, quando vou a casamentos de amigos com a Maria acontece sempre uma coisa extraordinária. Ok, talvez duas, se contar com o facto de duas pessoas unirem as suas vidas para sempre, com um amor eterno que torna o mundo num sítio melhor e permite ter esperança na Humanidade.
A coisa extraordinária de que estou a falar é que, tanto eu como a Maria, nos transformamos numa espécie de super-heróis. É verdade. Acontece sem darmos conta, por isso acredito que os nossos super-poderes ainda devem estar a despontar, mas dá-me a ideia de que vão crescer no futuro. Até já escolhi os nossos nomes - a Maria vai ser simplesmente a Princesa e eu vou ser o Mordomo que Percebe de Moda Feminina Especialmente Aquela que a Maria Veste. Só pelos nomes dá logo para ver o poder que nos rodeia e, por aquilo que vejo nestes dias, não devemos ser os únicos com estes poderes.
Senão, vejam. Nestes dias, a Maria veste o seu melhor vestido, pinta as unhas, arranja o cabelo, põe maquilhagem, calça sapatos com um salto tão grande que fico sem perceber como é que não anda tombada para a frente e usa uma carteirinha onde só cabe o telemóvel (se for eu a fechar a dita,os óculos escuros também cabem). Passa o dia inteiro sem se conseguir mexer muito, a não ser, talvez com a língua, claro.
Já eu, levanto-me 3 horas antes da boda para... ir lavar o carro. Em mais nenhum dia eu o faria. Se tivesse uma reunião de trabalho com um tipo importante e levasse o carro, nunca o lavaria. Em vez disso, o mais certo seria desculpar-me com a sujidade exterior do carro dizendo que um camião de porcos se tinha despistado à minha frente a caminho da reunião e com a sujidade interior dizendo que a Maria tinha andado com o carro sem eu saber. Mas nos dias de casamento, não sei porquê, vou lavar o carro e nem me queixo à Maria de ter que tirar as 2 toneladas de lixo que ela lá deixa nem nada. Estranho.
Depois, chego a casa e faço a barba. Esta é tão estranha que nem vou comentar. A seguir visto um fato, com a gravata de cor igual à da Princesa. Este pormenor é importante. Tenho visto nos casamentos mais casais que aparentam ter os mesmos super-poderes que nós. Por isso é importante que cada Princesa distinga bem o seu Mordomo.
Finalmente, pego na mãozinha da Princesa e vamos para o carro. Oiço duas bocas acerca da falta de limpeza no tablier e na ausência de um perfumezinho, repondo 10 vezes afirmativamente à pergunta: "Estou bem? Vê lá? Estou mesmo bem? A sério, vê lá se estou bem.", ligo o carro e seguimos para a festa.
Já na festa, anoto os pedidos de canapés e bebidas para a Maria e vou buscar. Geralmente vou ao bar com outros Mordomos e aproveitamos para beber qualquer coisa. Não convém que a Maria saiba porque, já se sabe, quem conduz não bebe e a qualquer hora posso ter que ir a casa buscar os sapatinhos rasos que ela lá deixou esquecidos.
Outra das minhas ocupações, durante a comezaina, é responder sempre negativamente às perguntas "Estás a olhar para o decote daquela? Está mais bem vestida do que eu? Está, não está? Nota-se muito que fiz aqui uma nódoa no vestido com uma azeitona?" e afirmativamente a "Estou bem? Mesmo? Não olhaste para mim quando respondeste." Aqui até parece fácil, mas não aconselho a quem não tiver prática. Um simples pestanejar pode deitar tudo a perder. Ser Mordomo não é para meninos.
E a quem acha que isto não são super-poderes, eu pergunto que outro motivo me faria aguentar (quase) tanto tempo a dançar como a Maria, no bailarico da festa. Sim, porque quando saímos à noite num dia normal, o mais que consigo fazer é bater com o pé no chão e ficar a ver a Maria a dançar.
No final do dia, outra das obrigações do Mordomo é ceder o casaco à Princesa já que, por estranho que possa parecer, a "echarpe não aquece o suficiente". Esquisito. Aquilo tem um ar tão quentinho...
O dia termina com a viagem de regresso a casa, onde trago sempre o carro com suavidade, como um bom Mordomo o faz. A Princesa está cansada e precisa de descansar.

Por fim, deixo só aqui um conselho a quem só agora descobriu o seu super-poder: se, eventualmente, o vosso teor alcoólico for elevado e conduzirem aos arranques até casa passarem por cima de um buraco na estrada, olhem a vossa Maria nos olhos e digam com convicção:
"Este foi giro mas o nosso casamento foi (ou vai ser) muito mais bonito!"
Se for com convicção, podem ir em primeira até casa sem problema nenhum.
À confiança.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Um calor selectivo


Um tipo passa o ano inteiro a dormir de pelota para conseguir aguentar os 5 cobertores e o edredão que a Maria precisa para se sentir "quentinha" de noite, a suar que nem um porco, sujeito a ser acusado de ainda fazer xixi na cama.
Um tipo tem que aguentar as viagens de carro, o ano todo, a conduzir de t-shirt (em tronco nu parece que é proibido) porque a chauffage, quer dizer, a sofagem (esqueço-me sempre que é uma palavra derivada de sofá) vai sempre no máximo, para S. Exa. Maria não ter frio, porque o calor, esse malandro, só aparece acima dos 30º.
Um tipo não pode, em altura nenhuma do ano, arrumar o aquecedor de casa, porque nunca se sabe quando é que a temperatura vai baixar e, nestas coisas, já se sabe, "uma pessoa gosta de se sentir confortável na sua própria casa, não achas?"

Um tipo tem que disfarçar a cara de palerma com que fica quando, ano após ano, no primeiro dia em que vai à praia e a água do mar está completamente gelada, a Maria entra pelo mar adentro como se estivesse numa sauna, a gritar "Está tão booooaaaa! Anda lá, não sejas totóóó!". E o pior é que um gajo não consegue reagir porque os pés acabaram de congelar ao tocar naquela mesma água e, andar para a frente, mesmo que se quisesse, torna-se impossível porque se deixou de sentir o que quer que exista dos tornozelos para baixo. E responder também é melhor não, já que o tom de voz nestas situações poderia levar alguém a pensar que alguma parte do meu corpo poderia ter sido, vamos lá, amputada.
Mas ainda não perdi a esperança de um dia conseguir perceber porque é que alguém com 15º de temperatura ambiente tem que vestir uma samarra, mas com 15º de temperatura no mar, um bikini chega perfeitamente. É que não consigo mesmo perceb... Oi. Espera lá. Será que os bikinis aquecem? Às tantas é isso. Tu queres ver... Tenho que experimentar isso. Só para perceber se é daí, claro.

(Eu acho piada aqueles tipos que dizem que vão ao banho ao mar porque adoram e é espectacular e mais não sei quê. Eu, pelo menos, não tenho problemas de admitir que vou ao banho por causa do meu estúpido orgulho masculino. Se a Maria vai, eu também tenho de ir. Se a Maria vai e se putos de 8 anos ficam a olhar para um gajo com aquele ar pensativo de quem está a tentar perceber que problema é que um gajo tem para não ir à água. Não fosse isso e ninguém me arrancava da toalha.)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O incómodo de andar de metro


Há dias, vinha eu no metro, quando se senta um cavalheiro francês ao meu lado. O senhor já era frequentador da 3a idade e trazia consigo o "Le Monde", que lhe atestava a nacionalidade e o grau superior de inteligência.
O culto senhor senta-se, abre o jornal e, nem dois segundos depois, olha para mim muito sério, passa a mão entre a perna dele e a minha (que se tinha encostado involuntariamente) várias vezes seguidas, e exlama, com um ar meio creepy:
- Regardez!
Completamente aparvalhado, fiquei ali uns segundos a tentar perceber o que é que se tinha passado e cheguei à conclusão que só podia ser uma de 3 coisas:
1) O meu odor corporal estava a incomodar o senhor e ele queria que eu me afastasse para o mais longe possível.
2) O homem achava que eu era panisgas e que me estava a fazer ao piso por ter a minha perna encostada à dele e quis mostrar que não estava interessado.
3) Aquilo tinha sido fruto de algum delírio meu, que, com tanto calor, imaginei coisas que não tinham acontecido.
Apesar de estar mais inclinado para a 3a hipótese, apertei os braços contra o corpo para fechar bem a sovaqueira e pus a mão com aliança de casado no colo. Entretanto percebi que estava a ser estúpido e parei com aquilo. Afinal de contas, tinha posto desodorizante e o casamento gay já é legal há uns tempos.
Tentei não pensar mais no assunto mas, quando o metro parou na estação seguinte, o homem levantou-se de imediato e foi para os lugares da frente, que tinham ficado vagos. Ao virar-se, mandou-me duas faíscas com os olhos que até fiquei a bater mal.
Se a coisa estava a ser surreal, ainda mais ficou quando, na paragem seguinte, entrou um senhor com os seus calções e sandálias com meias brancas e se sentou ao pé do homofóbico. Aquilo que eu já estava a ficar certo de ter sido imaginação voltou a repetir-se: a mesma mão a afastar a perna do homem e a mesma expressão creepy. A única diferença foi que, desta vez, a exclamação aziada foi: "Attention!" Uma coisa era certa - o homem tinha bastante vocabulário.
Ao olhar para o homem que ia ao lado dele, fiquei com a ideia de me estar a ver uns instantes atrás tal foi a expressão de aparvalhamento na cara dele. A única diferença foi que ele não deve ter tido tempo para acreditar que aquilo estava mesmo a acontecer porque, naquela altura, chegámos a uma estação onde entrou uma rebanhada de gente que, ao passar pelo superior francês, lhe tocava involuntariamente nos braços, nos pés e nas pernas fazendo a cabeça do homem rodar que nem um pião, tentando perceber quem se atrevia a perturbar a sua leitura. Foi o suficiente para o fazer sair na estação seguinte.

Agora a sério: eu compreendo bem o homem e sei bem o que ele estava a sofrer. Há dias, no mesmo metro, completamente cheio de gente e com um calor desgraçado, iam umas moçoilas bem constituídas de bikini em pé ao meu lado (certamente a caminho da praia), sempre a tocar-me por causa dos balanços da carruagem e aquilo também já me estava a deixar incomodado.
A minha sorte foi ainda não estar na 3a idade. Senão também teria saído na estação seguinte.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

É nestas alturas que gosto de ter pouco pêlo


Há pessoas que só lhes dão da comida mais cara.
Há pessoas que lhes passam creme hidratante.
Há pessoas que lhes limpam o rabo depois das necessidades.
Há pessoas que lhes dão banho todos os dias.
Há pessoas que os escovam dia sim dia não, mesmo que eles lhes risquem o cromado todo.
Há pessoas que os levam todas as semanas ao veterinário.
Há pessoas que os enchem de beijos. (Maria, como é que é possível?)

Eu abro a porta do frigorífico ao meu gato para ele se refrescar.

E acho que estamos conversados quanto a quem toma melhor conta do seu animal de estimação.

sábado, 6 de julho de 2013

Portas, nós cá nos arranjamos sem ti, a sério


Aqui há uns dias, no dia 2 de Julho para ser mais preciso, fui com uma das minhas irmãs à Loja do Cidadão. Tínhamos umas dúvidas sobre descontos para esclarecer no balcão das Finanças e, como o Gaspar se tinha demitido de véspera, não perdemos tempo e fomos lá. Se o tipo que aumentou os impostos sai (e toda a gente, alguns até no próprio Governo, dizia que era contra esse "enorme" aumento), os impostos descem, certo? Certinho direitinho. E antes que arranjassem outro fantoche da troika para lá porem, não havia um minuto a perder.
Para além do mais, mesmo que ainda não houvessem boas notícias, havia sempre a possibilidade de por o sono em dia. As pessoas que estão a atender são muito atenciosas - chegam ao ponto de trabalhar mais devagar silenciosamente só para não fazerem barulho e não acordarem quem está a repousar.
À chegada, tirámos a senha e tivemos logo ali uma boa notícia - só estavam 44 pessoas à nossa frente. A demissão do Gaspar devia ter passado despercebida a muita gente, mas ainda bem para nós. Aquilo ia passar num instante. Demos a volta ao pé do balcão e uma segunda boa notícia - em 7 mesas de atendimento, estavam 2 pessoas a atender. Espectacular. Ora bem, 44 pessoas para 2 mesas, dava 22 pessoas por mesa. Se cada uma demorasse 5 minutos, só tínhamos que esperar 110 minutos - 1h50m! Isto sem contar com as desistências, claro. O mais certo seria esperar só 1h40m. Era, claramente, o nosso dia de sorte.
Ficámos por ali uns minutos, só para analisar a taxa de desistências e medir o tempo médio de atendimento, e fomos beber um café. O segurança informou-nos que já não tinham máquinas automáticas mas que havia um café muito bom mesmo ao lado da loja. Ia eu para agradecer a amabilidade ao homem quando ele se senta e continua a preencher uma lista de nomes enorme. Já tinha reparado que muitos seguranças nas Lojas do Cidadão o faziam. Mas só desta vez é que se fez luz na minha cabeça - era uma lista de pessoas que ele já tinha mandado para o café do lado para ir lá entregar ao dono no fim do dia. A vida está difícil e todos temos que fazer por ela. Compreendo perfeitamente e se fosse eu, acho que até uma carta de menus do café lá teria comigo para mostrar às pessoas.
No café estava um ambiente muito animado. O dono olhou para mim e deve ter visto a senha da Loja do Cidadão que eu ainda trazia na mão, porque fez logo um sorrisinho. Fizemos o pedido e olhei em volta para ver a razão daquele ambiente. Na televisão ao canto, passava a confirmação de que estava a ser um dia de sorte daqueles que aparecem uma vez em cada 31 anos - o Portas tinha-se demitido e havia já comentadores que previam a queda do Governo ou, pelo menos, a demissão dos restantes ministros do CDS.
Voltámos para a Loja e pumbas, nova boa notícia - a malta deve ter saído para festejar e fomos atendidos apenas 1h35m depois de termos chegado. Pronto, ok. Deve ter sido só uma pessoa. As outras duas tinham desistido mesmo.
A senhora que nos atendeu foi muito simpática mas explicou-nos que teríamos que ir resolver o nosso problema à Segurança Social e não ali. Para mim, descontos são descontos e às vezes tenho alguma dificuldade em distinguir o ministério que me engole os rendimentos.
Àquela hora já não havia senhas para a Segurança Social mas não me preocupei. Com a saída do Portas, o mais certo seria o ministro Mota Soares, do CDS, também se demitir no dia seguinte. E depois, já se sabe. Se o tipo que aumentou as contribuições para a Segurança Social sai, os descontos diminuem, certo?
O problema é que, depois de uma semana em stress, à espera a qualquer momento da saída do CDS, sem saber que dia planear para ir à Loja do Cidadão, parece que afinal o CDS fica no Governo e o Portas também.
Este pessoal ainda não percebeu que os portugueses precisam de saber com o que contam para poderem planear a sua vida. E se nem o dia em que se tem que voltar à Loja do Cidadão se consegue prever, já pouco ou nada lá estarão a fazer e mais valia que fossem embora.
Só pedia era que fossem embora numa 3a feira. Às 2as, a Loja do Cidadão está que não se pode.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Agora, até de olhos fechados


Depois de algumas semanas a procurar um substituto em 2ª mão para o meu Nokia (que preferiu ir no tabuleiro do MacDonalds do que voltar comigo para casa) nos Olx e ebays desta vida, tive a sorte de um amigo meu me vender um que já não precisava. E digo sorte porque nesses sites só se encontram telemóveis quase ao preço deles em 1ª mão. A malta enche-os de valor afectivo e depois é o que dá.
Quando me chegou às mãos, tratei logo de o configurar à minha maneira - a data, as horas, as aplicações no ecrã, a foto da Maria no ambiente de trabalho, os toques até que, ao configurar a conta de email, não consegui eliminar o registo de utilizador do anterior dono que ainda lá estava.
Como toda a gente sabe, ler o livro de instruções de qualquer electrodoméstico reduz o tamanho do órgão sexual masculino, por isso, com medo de retaliações da Maria, só tive uma opção - experimentar todas as funções do telemóvel até que alguma libertasse a gaita do registo anterior da conta de mail.
Procurei, procurei, procurei até que encontrei a função "Repor desktop". Era aquilo. Só podia ser. A única dúvida era - repor o desktop como ele era quando? Como não consegui encontrar uma resposta, percebi logo que isso não podia ser importante. Tinha a certeza que aquilo me resolvia o problema do registo da conta de mail, e isso é que importava.
É verdade que o telemóvel me perguntou se queria mesmo avançar com aquilo porque depois de aceitar não haveria volta a dar, mas tanto preciosismo já me começava a irritar. Eu só queria resolver o problema do registo.
Cliquei para seguir em frente e.. resolvi o problema. Fiquei mesmo orgulhoso de mim. Demorei foi um bocadito a perceber que o tinha resolvido. É que Coreano não é o meu forte. Quer dizer, se era Coreano ou Chinês não sei. Uma coisa é certa - era uma língua qualquer inventada por um miúdo de 2 anos.
Mas lá que foi uma tarde de Domingo bem divertida a descobrir como o voltar a pôr em português, lá isso foi. Graças a isso, devo ser das poucas pessoas no mundo que sabem trabalhar com telemóveis de olhos fechados.

sábado, 15 de junho de 2013

Hoje vou guardar o que sinto só para mim


Hoje vou guardar tudo aquilo que sinto dentro de mim. Não vou despejar tudo o que me está a fazer contorcer de dores e me revolve o estômago. Por muito que me apeteça deitar a porcaria que sinto no meu íntimo cá para fora, hoje vou ser assim.
Mas espero que só tenha que ser assim da parte da manhã. É que tenho a gaita da sanita entupida.
Que mal é que eu fiz para merecer isto? (não precisam de responder, agora que pensei nisso, tenho uma ou outra vaga ideia do que possa ter sido)
À terceira panela de água a ferver, ponho as minhas esperanças todas na Coca-Cola Dia...
Vai ser um longo dia.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Descobri a solução para a Justiça andar mais depressa


Pela segunda vez na minha vida (terceira, se contar com aquela vez em que entrei só para perguntar se podia deixar o carro no parque de estacionamento em frente), fui a um Tribunal.
Desta vez, fui como testemunha num caso entre uma empresa onde trabalhei e outra, numa história que já vem de alguns anos atrás. O caso era bastante simples - a empresa onde trabalhei fez uns trabalhos para outra e não foi paga por isso, apesar da empresa que recebeu os trabalhos admitir que eles foram feitos e bem feitos.
A coisa parecia-me extraordinariamente simples, tão simples que eu nem conseguia perceber como era preciso um Juiz para a resolver. De qualquer das formas, para não facilitar, não só estudei todo o processo, como escolhi uma roupinha séria e até fiz a barba. Ah, e também tomei banho.
Antes do julgamento (só o nome já mete respeito), quando me encontrei com o advogado da empresa onde trabalhei, a primeira coisa que me explicou foi a forma como eu deveria falar e a postura que deveria adoptar - calmo, assertivo e confiante. Depois, olhou-me para a roupa e não disse nada. Na vez anterior em que tinha estado com ele, criticou-me por ter levado uma mochila. Não percebi muito bem o que é que isso tinha que ver com o apuramento da verdade, (ainda para mais vindo de alguém que usa um bibe dos pés à cabeça todo preto) mas deixei-o levar a bicicleta. Por fim, explicou-me as perguntas que me iria fazer e aquilo que eu poderia e deveria responder em cada uma, de forma a não criar dúvidas ao Juiz.
Depois dos conselhos, e como o caso me parecia tão simples e directo que até dava para ser o meu gato a depor já que havia documentos escritos que comprovavam tudo, não resisti e perguntei-lhe:
 - Se está provado que os trabalhos foram feitos, isto são favas contadas, ou não?
Ao que o homem me respondeu, para me deixar mais descansado:
 - Depende de si. Quando o advogado deles o questionar, não trema nas respostas. É que se isso acontecer, podem achar que temos fragilidades e depois o Juiz pode ficar na dúvida se temos razão ou não.
 - Pois mas, um julgamento é sempre uma situação stressante. Caramba, mas não há documentos que comprovam os factos?
E foi aí que o homem acabou com a conversa:
 - É pá, você não me está a ouvir com atenção. Não percebeu o que acabei de lhe explicar?

O que é certo é que o caso foi resolvido por acordo antes da audiência. Às tantas foi por eu estar a abanar muito a perna, quando estava sentado no corredor antes da audiência e o homem não quis arriscar e ficou mais descansado com um acordo.
Cá para mim, se houvesse mais testemunhas nervosas como eu, havia mais acordos e a Justiça não era o que se vê. A malta vai para os julgamentos cheia de confiança e depois o Juiz não sabe em quem acreditar.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A maneira mais cruel de um gajo ver que está a ficar velho


Este fim de semana fui a uma festa de aniversário e vim de lá a sentir-me mais velho e acabado que nunca.
Não foi por ser a festa do 1º aniversário do 1º filho da malta da faculdade nem por o miúdo olhar para mim como se eu fosse um serial killer e se agarrasse ao pai com quantas forças tinha, com aquele ar de quem deseja secretamente que o pai desse um enxerto de pancada ao gadelhudo que não parava de lhe querer pegar ao colo.
Também não foi por 75% dos meus colegas da faculdade que ainda não foram pais estarem de esperanças (ou a pensar tratar do assunto) fazendo com que toda a conversa girasse à volta desse facto, levando-me a saber coisas tão importantes como ser preciso tomar ácido fólico para engravidar (ainda não descobri se é só para as mulheres ou se é para os homens também) ou que amamentar dói (neste caso, apesar de ninguém ter dito, acho que só dói mesmo às mulheres).
E muito menos foi por a malta ter oferecido um triciclo da Chicco ao aniversariante, quando há uns anos teríamos certamente comprado um da Chiko ou mesmo daquela outra marca, a Xico.
Foi por uma coisa bem mais cruel, que mostra que o impiedoso ciclo da vida não perdoa ninguém.
A festinha teve direito a almoço no pátio da casa, para aproveitar o bonito dia de sol que estava. Antes do almoço, para acompanhar a conversa, bebi um copo de licor, ao almoço um copo de vinho e, a seguir à sobremesa e ao café, o tradicional digestivo. Tudo normal. O problema é que o meu fígado está farto de me aturar e mandou o cérebro resolver o assunto. Resultado - uma dor de cabeça como há muito não tinha.
E de nada valeu dizer à Maria que tinha sido por causa do sol na cabeça durante toda a tarde. A última coisa de que me lembro nesse dia foi de chegar a casa, aterrar no sofá da sala, tapar-me com um cobertor e ouvir a Maria:
"Já não tens idade para beber assim, caneco. Já devias saber."

PS: Ainda tenho uma secreta esperança que tenha sido por falta de treino. Tenho saído pouco. É por isso, de certeza. Tem que ser. Para a semana tenho um casamento e vou tirar este assunto a limpo. Assim a Maria deixe.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Post de autoajuda


Há dias em que tudo parece mau:
O telemóvel vai no tabuleiro do MacDonalds e temos que voltar ao velhinho tijolo.
O computador da Maria cai ao chão e o ecran passa a funcionar só em metade do tamanho.
O trabalho corre mal e dá a ideia de que se vai viver para debaixo da ponte porque mais ninguém vai querer o nosso trabalho.
O carro arranja uma avaria nova super irritante em que parece que está um piriquito debaixo do capot.
Jesus mostra vontade de passar a usar vestes azuis e brancas.
O gato passa por frestas de janelas e empoleira-se na guarda metálica (com 3cm de largura) da janela da cozinha, no 3º andar.

Mas não. Não é tudo mau, porque é nesses dias que se:
Volta a jogar o Snake, ideal para viagens de autocarro e metro.
Começa a treinar a lidar com um ecran de pc pequeno, para quando se comprar um tablet a adaptação ser mais fácil.
Apercebe que até conseguimos fazer coisas novas e diferentes no trabalho.
Descobre que pondo o auto-rádio mais alto a avaria do carro desaparece.
Deseja que o Jesus continue a ser o mesmo profissional com os mesmos resultados.
Vê que o gato não tem tendências suicidas e que afinal não estamos condenados a ter sempre as janelas fechadas.

Nota: este desenho foi feito mais tarde, após a acrobacia do menino, recorrendo à imaginação, depois de levar quase com um ataque cardíaco em cima. Estou a falar a sério. Não façam queixa de mim a nenhuma associação de defensores dos animais. É que nem uma foto tirei, caneco.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

É mais chata do que eu


Desde que fiz o meu blogue que tenho vindo a fazer headers para outros blogues. Eu sei. Vindo de um tipo cujo header do próprio blogue aparece com as letras cortadas, não era de esperar que isso acontecesse, mas é melhor não trazer esse assunto que às tantas ainda ninguém reparou e depois afugento a clientela.
Desta vez, o header foi uma prenda de uma blogger para outra, o que é sempre bom para aumentar o stress da coisa - não só é preciso agradar a quem nos pede como ficar a fazer figas para que a outra pessoa também goste.
Mas verdade seja dita que, neste caso, tive uma grande ajuda. Afinal de contas só tive que imaginar uma cena que conseguisse juntar: um vibrador massajador facial, uma garrafa de vinho Lambrusco, uma mala de senhora, um pacote de amendoins, um livro, um monte de vernizes, o Joge Jasus, o Glorioso e uma farmácia.
Com excepção do equipamento de vibração - ela não precisa, se é que entendem (estou a piscar o olho com olhar maroto), isso é praticamente a definição da mala da Maria. Quer dizer, vendo bem, há outra diferença: a foto que a Maria tem na mala não é do Jesus - é do seu "ai Jesus". (e volto a piscar o olho... é melhor não exagerar, certo?)
No blogue dela podem ver a versão a cores do boneco. E já agora, se não conhecem o blogue, aproveitem. São reflexões antropofilosóficas sérias acerca da problemática do atendimento de utentes de estabelecimentos de comercialização de fármacos em estados psicológicos adversos, cuja explicação acerca das suas enfermidades nem sempre é a mais correcta ou mais explícita, levando, por vezes, a lapsos de ordem farmacológica por parte da funcionária do estabelecimento, que a obrigam a exceder a sua capacidade de percepção do mundo que a rodeia e a superar-se, fazendo deste, no fundo, um mundo melhor, sabendo-se à partida das dificuldades acrescidas pelas quais a funcionária sofre por ser adepta de um clube praticante de futebol que equipa de vermelho.
Recomendo.

domingo, 19 de maio de 2013

A importância de "acertar as pontas"


Aqui há tempos, num jantar entre amigos, a conversa foi parar à política. Eu sei que é imperdoável mas caramba, os temas futebol, religião, profissões, famílias, livros, banda desenhada, poesia, música, passeios, viagens, terras de origem de cada um e gastronomia já se tinham esgotado. As alternativas já só se resumiam a Política e Big Brother Vip, por isso, e porque como já era tarde, escolhemos o tema com menos conteúdo.
Mas tendo em conta que anda tudo cheio de falar dos Passos Coelhos, Paulos Portas, Vítores Gaspares e Cavacos Silvas desta vida, era preciso que alguém lançasse o tema de forma convincente. Ao fim de 5 segundos calados há espera de um corajoso que conseguisse entrar no tema, oiço, do outro lado da mesa:
"Vamos eleger o melhor político da actualidade!" (eu sei, quando se quer mesmo muito conversar às 2 da manhã, a beber "refrescos" de Macieira, é preciso estar preparado para tudo)
Toda a gente gostou da ideia (sim, estávamos todos no mesmo barco) e as votações começam. O António Costa já ía destacado, até que chega a minha vez. Antes que eu pudesse  fazer a minha votação, levo um par de estalos verbal, que até fico com vontade de votar José Seguro:
"Vá, escolhe lá um de esquerda. Sim, com essa barba toda a gente sabe que és de esquerda!"
Oi? Barba de esquerda? Passo a mão na cara, sinto as saudades de 6 longas semanas afastado da minha lâmina de barbear (desde que foi passar umas férias à banheira e passear nas pernas da Maria que nunca mais a vi), olho em volta e fico sem perceber: todos os gajos têm barba grande mas só eu é que tenho barba de esquerda? Eu à espera de ouvir elogios do género "Ena, pareces o Bruno Nogueira na Odisseia! Ele é um tipo porreiro, por isso, tu também és de certeza! E giro. E altamente. E espectacul..." Mas nada disso. Ai, se fosse o Bruno Nogueira, era espectacular, como sou eu, sou só um tipo que gosta dos Comunistas e Bloquistas e que, às tantas, até tem um didgiridoo em casa e uns vasos na janela.
Dados os meus fracos conhecimentos na matéria, passei o resto da noite a tentar descortinar o porquê de só a minha barba, no meio de tantas, ser a única de "esquerda". Pelo tamanho não era. Pela farfalhudice também não, porque havia delas lá bem jeitosas. Já estava a desanimar quando me ocorre que, às tantas, por estúpido que possa parecer, era por não ter as pontas da barba aparadas. As barbas daqueles tipos estavam alinhadas nas bochechas e no pescoço. Tipo Miguel Frasquilho, estão a ver? Deputado do PSD, lá está! Tudo fazia sentido. E a minha não. Eu sempre achei que "acertar umas pontas" era coisa de mulheres quando iam ao cabeleireiro. Mas já se deve ter alastrado aos homens. Caramba, havia coisas bem melhores que os homens podiam roubar às mulheres sem ser os cuidados capilares. Roubar a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo tinha sido muito mais bem pensado.
Mas não deixa de ser incrível como cortar uns pelos nas bochechas e outros no pescoço pode logo alterar a área política de um gajo. Quer dizer, no jantar, quem ganhou a eleição do melhor político foi mesmo o António Costa com maioria absoluta por isso, às tantas, a barba acertada não é um exclusivo do pessoal de direita. Esperem lá, será que os tipos de esquerda que acertam a barba é porque querem passar despercebidos? Cada vez percebo menos disto. Vai na volta, o pessoal que acerta a barba nas bochechas e no pescoço é porque acha que fica bonito assim. Nááá....
Por via das dúvidas, na próxima vez que fizer a barba (deve estar para breve, a Maria já me disse: "A sério, já não te fica bem." sem se rir.), vou acertá-la nas bochechas e vou assim ao banco pedir um empréstimo, a ver o que é que acontece. Da última vez que a fiz, experimentei fazer a barba à Pacheco Pereira e fui à padaria comprar pão só para ver se me tratavam de forma diferente mas não consegui perceber se os papos-secos que me puseram no saco eram os "mais cozidinhos" ou não. Mas não volto a experimentar esse tipo de barba. Duas velhotas olharam para mim de uma maneira esquisita e não quero voltar a passar por isso.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Amanhã a taça é nossa


Tenho andado preocupado com uma coisa que me tem vindo a tirar o sono já desde sábado. Uma coisa que, a ser verdade, é capaz de deixar 6 milhões de pessoas chateadas comigo. Como isto me anda a corroer por dentro, decidi deitar tudo cá para fora.
Cá vai - tenho quase a certeza que o Glorioso perdeu no sábado por minha culpa. Sim. Há um culpado para o desaire e não é um tipo com o cabelo pelos ombros, impenteável e amarelado. É um que tem o cabelo quase pelos ombros, impenteável mas castanho. Sim. Moi même.
O Benfas, por mais dinheiro que gaste em jogadores e treinadores, só ganha quando eu estou a acompanhar os jogos - seja no estádio, pela televisão ou pelo rádio. As pessoas nem imaginam o que é a minha vida quando o SLB joga, e, mesmo com tanto esforço e dedicação, nunca recebi, sequer, um agradecimento da direcção do clube. Ou um cheque, vá.
Neste sábado, antes do jogo com o Porto, fui jantar a um centro comercial com a Maria. Para grande espanto da minha parte, na zona da restauração, todas as televisões estavam na tvi. Nada de Sportv. Como tinha que me despachar para apanhar o jogo nalguma loja, engoli a refeição à pressa. O que vale é que era daquelas de fast-food já pré-mastigadas. Com tantas vantagens que trazem, não sei como é que ainda há pessoas que dizem mal daquele tipo de comida.
Como a Maria não fazia ideia de que ía haver jogo e queria ir ver umas montras, aproveitei a dica e fomos dar uma volta por ali. Ela à procura de umas pulseiras, eu à procura de uma tv.
De passagem pela loja da Meo, vi um aglomerado de gente e saí disparado para lá, para "...ver o pacote da fibra...". A Maria, que não gosta de conversas sobre o pacote, foi dar uma voltita e eu prometi-lhe que seriam só 5 minutos - é o correspondente a 45 minutos a ver montras para ela.
O jogo começou com grande expectativa e bastaram uns minutos para o Lima marcar. Tudo estava a correr bem quando a senhora da Meo, que deve ser tímida e não gostar de plateias na sua loja, se levanta e, sem dó nem piedade, muda para a Sic. Instala-se o pânico em mim, sabendo o quanto a equipa precisava do meu apoio. Olho em volta e avisto ao longe um magote de pessoas numa loja tmn. Corro até lá e chego mesmo a tempo de... ver o "auto-golo" do Artur. Nada estava perdido, mas ficou o aviso - não me poderia distrair mais.
Passados 45 minutos certos, lá apareceu a Maria ao pé de mim. Esperámos só pelo tempo de compensação da primeira parte e resolvemos ir para casa. O intervalo dava o tempo suficiente para chegar até ao carro.
A viagem até casa a ouvir o relato foi relativamente calma, mesmo tendo em conta que, quando deixei de ouvir momentaneamente o relato para responder à Maria o que tinha almoçado, o Jackson Martinez fez um remate perigoso à baliza do Benfica. A culpa foi minha em achar que me podia desligar só um bocadinho do relato. Um gajo é romântico e depois arrisca-se... e a Maria nem deu valor. Um gajo tem uma responsabilidade do camandro, e ela ainda se chateia por eu responder à pressa.
Chegados ao parque de estacionamento de casa, a dúvida instalou-se: teria eu tempo de sair do carro, chegar a casa e ligar o rádio sem que o Benfica sofresse um golo? Eu sei. Tudo indicava que não devia arriscar, mas o jogo estava quase a acabar e resolvi ter fé na equipa e saí a correr do carro para casa. Liguei o rádio e... "... o Benfica está a conseguir manter este empate a grande custo..." estava tudo bem. Um alívio.
Dois minutos depois, ouve-se um grito estridente. Era a Maria:
"O GATO MORDEU-ME!"
Num momento de fraqueza, desliguei-me do jogo e perguntei-lhe:
"Estás bem? Estás a sangrar? Queres que te leve alguma cois..."
O resto já toda a gente sabe. O Kelvin aproveitou a desconcentração da equipa e marcou. É o que dá eu ser um romântico incurável.
Por isso, prometo que amanhã vou ver o jogo na sala de casa de porta fechada à chave, com o telemóvel desligado e uns phones para ouvir o relato.
Ah, e vou deixar um papel pendurado no frigorífico com a descrição do que tiver comido ao almoço e pendurar o abat-jour do candeeiro da mesinha de cabeceira no pescoço do gato.
Vai ser limpinho limpinho.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Somos todos feitos do mesmo


Outra das coisas que mais gosto no facebook (nota-se muito por este post e pelo anterior que tenho passado algum tempo no facebook? já tentei o twitter mas acho que as postadas lá até fazem eco, de tão vazio que aquilo é) é a possibilidade que nos dá de conhecer e conversar com imensas pessoas de outros lados do Mundo. E o que mais me admira sempre é o quão parecidos na maneira de ser todos nós somos.
Tenho falado com tipos em Espanha, Irlanda, Angola, Moçambique, Marrocos, entre outros, e as semelhanças são impressionantes. Oiço pessoas a dizer que fora do nosso país há diferenças culturais muito grandes mas, pela minha experiência de conversas no facebook vida, aquilo que posso concluir é que as pessoas destes países, por incrível que pareça, têm uma maneira de ver a vida muito parecida com a minha, idades muito parecidas com a minha, estudos muito parecidos com os meus e até algumas andaram nas mesmas escolas que eu mas o mais surpreendente (e disto não estava nada à espera) é que muitas delas nasceram no mesmo que sítio que eu. E todas falam português correcto.
Daqui só posso tirar uma de 4 conclusões possíveis: as pessoas de todo o Mundo nasceram todas na década de 80 e passaram a vir ao nosso país para aproveitar o excelente sistema de ensino e aprender a nossa língua e voltar ao país de origem; há alguém a conversar comigo a fazer-se passar por outras pessoas para me castigar daquilo que eu fazia no mIRC há anos; só ando a conversar com colegas meus que imigraram ou então sou só mesmo um idiota. Estou indeciso entre duas mas como sou um idiota não vos vou dizer quais. Bolas, acho que acabei de dizer uma delas...
Estava eu nesta dúvida existencial quando a آناهیتا میم.ب, (para quem não domina persa, isto lê-se Anahita) cuja imagem de perfil era um desenho de uma rapariga com um gato, meteu conversa comigo no facebook para me pedir um like na página dela. Fiz-lhe o like e pedi-lhe o mesmo. É impressionante o entendimento que se consegue ter com alguém escrevendo só o link da nossa página, um smile e um ponto de interrogação.
Perguntou-me, depois, em inglês, se eu era espanhol (caramba, devo ter feito o boneco demasiado amarelo moreno), respondi e perguntei-lhe de onde era. Disse-me que era do Irão e não perdi a hipótese de brilhar: "Ah, isso aí é mesmo como no filme Persepolis?" Para eles, esta pergunta deve ser o equivalente a "Portugal? Cristiano Ronaldo?" porque a rapariga respondeu logo com enfado, dizendo que o filme retrata o Irão de há 30 anos e que agora não tem nada a ver. Mesmo assim, ainda a medo, perguntei-lhe como era a vida lá, especialmente para as mulheres, e fiquei meio aparvalhado. Pronto, ok, fiquei completamente aparvalhado. Parece que a vida lá é bem boa. Há emprego para todos, recebem imensos emigrantes qualificados lá, o país está a modernizar-se, têm grandes obras em curso (vão ter metro em 3 cidades), as mulheres têm liberdade como os homens (ela está a tirar arquitectura e a mãe é engenheira mecânica e a cena do lenço na cabeça é opcional) e a maior parte gosta de lá viver. O único problema são os governantes idiotas e a mania das bombas nucleares, que fizeram com que os preços das coisas disparassem por causa dos embargos internacionais.
Não sei porquê, mas tirando as semelhanças óbvias: governantes idiotas, o embargo internacional e o metro em 3 cidades (Lisboa, Porto e sei que há noutra mas não me consigo lembrar qual...), fiquei com a ideia de que o Irão pode ser um país bastante atractivo.
E sim, eu estava certo: as pessoas de todo o Mundo são mesmo muito parecidas. :)

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Bes Run Challeng3

O facebook é um sítio curioso: um gajo uma pessoa vai deambulando e nunca sabe bem o que vai encontrar. É certo que na maior parte das vezes não se descobre nada de jeito mas, às vezes, lá calha qualquer coisa interessante. Há dias, depois de me deparar com uma página fictícia (acho eu...) sobre astronautas suicidas que se matam com um saco de plástico na cabeça por cima do capacete, descobri a Bes Run Challeng3, uma corrida tri-partida, em Cascais, Sintra e Lisboa cujo prémio, para os melhores de entre as 3 corridas, é a participação na maratona de Nova Iorque.
Como gosto muito de correr, aquilo chamou-me a atenção e fui ver do que se tratava. Depois de ver, cheguei à conclusão que, afinal, não gosto assim tanto de correr e não me inscrevi. Aquilo, basicamente, é para gente doida. Mas acabou por me ficar a vontade de ir ver a de Cascais, a única que já aconteceu. É uma zona bonita e, de certeza, que me iria proporcionar umas bonecadas engraçadas.
E foi aí que me lembrei: "Olha, já que lá vou ver, aproveito e peço uma acreditação de imprensa à organização e assim posso desenhar em sítios onde não poderia entrar sem um cartão ao pescoço." Sim, é o que dá passar muito tempo no facebook - a realidade começa a confundir-se com a ficção.  A parte mais esquisita foi preencher o formulário: "Meio de Comunicação - www.viagensnomeucaderno.blogspot.com, Função - blogger/ilustrador...".
Por incrível que pareça, o meu pedido foi aceite. Não excluo que tenha sido por terem lá acreditações a sobrar ou por alguém na organização também andar a passar muito tempo no facebook, mas o que é certo é que fui muito bem tratado. E nem os meus "colegas" fotógrafos com máquinas de meio metro de objectiva me insultaram nem nada. Ok, talvez por terem pensado que um tipo com um caderno a desenhar e a tirar fotos com um telemóvel tivesse uma acreditação de imprensa por ser filho de alguém da organização mas isso não interessa nada.
O resultado pode ser visto na página do Bes Run Challeng3.
Ah, é verdade: a melhor mulher fez os 10 km em 33 minutos, com uma média de 18,2 km/h. E o vencedor masculino fez os mesmo quilómetros em 30 minutos - média de 20 km/h. Ambos do Sporting. Na cerimónia do pódio, estava um velhote ao pé de mim que quem o ouvisse gritar "Vivó Sporting! Limpámos tudo, caneco! O Sporting é grande!" ia jurar que tinham ganho o Campeonato. Ou o acesso aos lugares europeus, vá.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Não sei o que é o karma - parte 2

Aqui há tempos decidi aderir à moda das mochilas para computadores. O saco só com uma alça não é muito prático quando é preciso andar muito com o pc às costas e, para além disso, não cabia quase nada. Ainda por cima, quando tenho que sair com o computador, o meu lado feminino ataca em força e sinto uma vontade incontrolável de por mais e mais acessórios na mochila - é o rato, o carregador, a pen, a tablet para desenhar, o disco rígido, os lenços de papel para limpar o ecran, o caderno, o lápis... Já para não falar na carteira, qualquer coisa para comer e... as chaves.
Felizmente, saio poucas vezes com o pc e, por isso, a minha masculinidade ainda está intacta. Quer dizer, desta última vez que saí com a mochila que já não tenho bem a certeza disso.
Vinha eu, ao fim do dia, no autocarro para casa, à procura de umas bolachas num dos 27 bolsos da mochila quando, à procura de um fecho deparo com um bolso lateral que mal se via. Abro-o e, a brilhar lá dentro, o meu chaveiro antigo, aquele que eu julguei que tinha perdido, juntamente com a minha superioridade moral na minha relação conjugal o meu porta-minas.
Depois de limpar as lágrimas de emoção, decidi dedicar o resto da viagem de autocarro a imaginar como iria mostrar à Maria que não tinha perdido as chaves em vez de continuar a ouvir a conversa do banco de trás, de uma senhora ao telemóvel a aconselhar a amiga do lado de lá a não se deixar encornar enganar mais uma vez pelo namorado.
Tentei, tentei, tentei mas... não me consegui concentrar. A senhora atrás de mim queria mesmo que toda a gente no autocarro ouvisse os conselhos dela e, por isso, quando cheguei a casa tive que improvisar. Eu sabia que só tinha uma hipótese de mostrar à Maria que não perco as coisas como ela, mas tinha que me sair a frase certa no momento certo. E as frases que ecoavam na minha cabeça naquele momento, tais como "Ai comigo ele não fazia isso que eu mostrava-lhe logo quem é que mandava!" ou "Ai filha, livra-te desse gajo que ele não vale nada!" de pouco ou nada me serviam.
Confiei nos meus instintos de improviso e, quando cheguei a casa, abri a porta com as chaves antigas, que afinal não tinha perdido, cheguei ao pé da Maria e, sem dizer nada, poisei as chaves na mesa ao pé dela. Durante 3 segundos não me saía nada, até que ela resolveu desbloquear aquela situação:
- Olha, as tuas chaves antigas! Encontraste-as?
- Sim. Vês, não sou como tu. (eu sei, tinha obrigação de ter feito melhor, mas era isso ou "Ai comigo tu não fazes isso que eu mostro-te logo quem é que manda!"...)
- O quê? Não és o quê? Desculpa lá, tu foste mandar fazer cópias de chaves que afinal nem perdeste e ainda te estás a armar?
Estava a perder a discussão. Com a minha grande astúcia, percebi que estava num beco sem saída e só havia uma coisa que eu poderia dizer para sair dali por cima:
- O que é que se faz para o jantar?