terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Que 2014 tenha o que realmente for importante!

Apesar de ser o último dia do ano, hoje coube-me levar a família do meu irmão (ele, a minha cunhada e os dois filhos - a princesa cor-de-rosa de 9 anos e o monstrinho ternuro-frenético de 6) à estação dos autocarros. No Natal a família junta-se sempre em casa dos avós (dos miúdos) mas, à alegria dos reencontros contrapõe-se sempre a tristeza dos regressos às casas de cada um. Depois do meu irmão e família saírem, também eu e a Maria sairemos, e, depois de nós, as minhas irmãs farão o mesmo, deixando a casa novamente livre para os meus pais fazerem as loucuras que quiserem e que nós não queremos nem imaginar.
Os miúdos, que por viverem a uns milhares de quilómetros de distância já vão estando habituados a estas circunstâncias da vida, são os que melhor sabem lidar com elas. A tristeza só tem permissão de se sentir mesmo na hora da despedida. Até lá, é aproveitar, que o tempo é curto e é preciso abusar da paciência: eles da dos tios e dos avós e os tios e os avós da deles, que o reencontro só é possível no Verão.
Na sala de espera da estação dos autocarros, ao ver passar um velhote de barbas brancas e compridas, o meu sobrinho ficou de queixo caído. Percebi logo que o miúdo tinha reconhecido o Pai Natal mas, o que faria ali o homem, ainda por cima de roupa normal e sem as renas?
Por isso, apressei-me a tirar-lhe as dúvidas: "É o Pai Natal, mas agora que acabou o trabalho vai passear, e deu férias aos empregados dele. Ah, e vem sem a roupa normal para ninguém o reconhecer!"
Meio aparvalhado, o miúdo olhou para o velhote e voltou a olhar para mim com ar de dúvida. Disse-lhe "É é!" e o miúdo, matutando naquele meu segundo argumento, voltou a olhar para o velhote. Demorou uns instantes e foi então que, de sorriso rasgado, se virou para mim e me disse: "Tio tio, tenho um segredo para ti! Olha que a mamã até tem o número de telefone dele!"
A princesa cor-de-rosa partiu-se a rir, pelo menos até ao pequeno monstrinho lhe roubar metade do croissant e todo a estação ficou a saber. E num instante, o maldito autocarro apareceu. Aí foi a altura de, por coincidência, lhes entrar "uma coisita" para os olhos, que se encheram instantaneamente.
"Tio, dizes-nos adeus do lado de fora do autocarro?"
Digo, pois. Digo adeus e até para o ano, que as saudades já começaram a apertar.

Um bom ano a todos, recheado daquilo que é mais importante!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

30 dias de solidão

Este último mês que passou foi especialmente complicado para mim. Tive em mãos um trabalho gigantesco, que me obrigou a estar 55 minutos por hora, 14 horas por dia, 7 dias por semana, 4 semanas por mês em frente ao computador. A tal ponto que cheguei a ponderar ir à farmácia comprar fraldas para rentabilizar mais o tempo - parecendo que não, 6 idas por dia à casa de banho ainda roubam 28 minutos ao trabalho (demoro 7 minutos em assuntos demorados, 3 em assuntos rápidos). E até já tinha a estratégia preparada - só tinha que pedir fraldas à farmacêutica e dizer que eram para a minha avó. Mas depois de ponderar bem as coisas, acabei por não ir. O mais certo era a mulher perguntar-me o tamanho das fraldas e eu descair-me e olhar para a etiqueta das minhas calças antes de responder: "Das fraldas não sei, mas as calças são tamanho 40..."
O trabalho consistiu em ilustrar e paginar um livro de dicas e truques para o dia-a-dia em casa. Fiquei a saber coisas tão interessantes como o facto de que, acender um fósforo na casa de banho depois de uma evacuação radioactiva (if you know what I mean), faz o cheiro da descarga desaparecer por completo. Ou que segurar o prego junto à parede com uma mola da roupa antes de martelar diminui as probabilidades de dar uma martelada na mão.
Ainda assim, e tendo em conta a minha experiência de longos períodos em casa, acho que ficaram algumas dicas e truques essenciais fora do livro. Por exemplo, se fosse eu o escritor, começaria logo o livro com:
"Se estiver constipado e se assoar muitas vezes em casa, assoe-se e deixe o lenço ranhoso no sítio onde se assoou. No dia seguinte, ao passar novamente por esse sítio, vai ver que o lenço está seco e já o pode usar novamente. Vai deixar de ter que se preocupar em andar com lenços atrás."
Não não, já sei. Se fosse eu, começava era o livro com:
"Se for passar o fim de semana a casa de familiares, deixe a loiça toda lavada. A menos que esteja suja de queijo. Aí vai ser bom voltar a casa, com um queijinho gourmet cheio de bolor a perfumar a casa à sua espera."
Não, esta também não. Tinha que ser uma mesmo útil. Ah, já sei:
"Se estiver a ver aqueles programas de debates de futebol com gajos fanáticos e doentes, não ponha a televisão mais alto para perceber o que é que eles estão a dizer. Não vai perceber à mesma e a vizinha do lado vai começar a dar palmadas na parede por causa do barulho e, quando lhe for pedir desculpa, ela ainda lhe vai responder que aquela hora não é a mais indicada para fazer festas com os amigos em casa."
Caramba, mas porque é que ninguém me pede conselhos...