terça-feira, 31 de julho de 2012

Para a próxima digo que já tenho


Quando vou a Lisboa, é certo e sabido que, mais cedo ou mais tarde, não volto de lá sem que alguém me tenha tentado vender um cavalo, um pombo ou mesmo um pato, mas, curiosamente, nenhuma das pessoas que mo tenta impingir tem propriamente ar de agricultor. Eu gosto muito de animais mas não me estou a ver a comprar um em Lisboa.
É isso e chocolate. Devo ter aspecto de quem gosta muito de chocolate porque também não passa um dia sem que mo tentem vender na rua. Eu não tenho nada contra os pasteleiros que não tomam banho há duas semanas e andam com a roupa rasgada na rua a vender chocolate que nem sequer está embrulhado, mas quando me apetece, prefiro ir comprá-lo a um supermercado. Que é que querem, manias...
Mas ontem, estava eu na rua a falar com umas pessoas sobre trabalho, quando um jovem, cuja profissão deve ser fazer ferramentas, se aproxima de mim. Eu, que já começo a topar a malta que vende coisas estranhas, tentei ignorar o gajo, mas foi aí que ele perguntou em surdina:
"Queres uma broca?"
Que raio, então está uma pessoa a falar de trabalho com outras e aparece um tipo a perguntar se quero uma broca? Se, pelo menos, explicasse se era para madeira ou betão, talvez lha comprasse, que tenho um quadro para pendurar, mas nem isso. Virei-lhe a cara, na esperança de que ele fosse embora. Não convencido, o tipo volta a insistir, agora ligeiramente mais alto:
"Olha olha, não queres uma broca?"
De forma a que as pessoas com que estava não se apercebessem, acenei-lhe com a mão que não e fiz sinal às pessoas para começarmos a andar, a ver se me livrava do chato. Ao ver que ia perder o negócio, o rapaz vem ao meu lado e mostra-me o que tinha na mão. Ao ver o que ele tinha, fiz-lhe um tão olhar reprovador que nem precisei de dizer nada para o rapaz se ficar, de tão envergonhado.
Quando as pessoas tentam ser aquilo que não são, está tudo perdido. Não devemos ter vergonha do que somos na realidade porque isso é a nossa maior riqueza. Eu sei que a profissão de ferramenteiro hoje em dia é uma profissão cheia de glamour mas, caramba, ser pasteleiro também tem o seu valor. E se aquilo que o rapaz tem para vender é chocolate (e notava-se que ele era trabalhador, pela forma como suava das mãos, cheias de chocolate que ele nem tempo tinha tido de embrulhar), então que o assuma.
Fiquei a pensar foi no tipo de receita que o rapaz usará. É que o chocolate já estava um bocadito esverdeado.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Tenho uma malapata com miudos de 8 anos


Na praia. Sim, tenho uma malapata com miudos de 8 anos, mas só na praia.
E é de 8 anos, nem de 7 nem 9. E é só na praia. Na montanha e no campo não só não tenho qualquer problema como até gosto de míudos de 8 anos.
E não é uma malapata que tenha apanhado recentemente. Desde sempre que me lembro de ter esta...esta.. esta coisa, chamemos-lhe assim para ser mais preciso - malapata podia deixar alguém na dúvida.
Sempre que vou à praia e quero ir ao banho, levo os meus bons 37 minutos a apanhar água do mar só nos pézinhos até ganhar coragem para mergulhar. E é, geralmente, aqui que começam os meus problemas com os miúdos de 8 anos.
Em primeiro lugar, tiram o charme todo a uma pessoa quando estamos, de braços cruzados, ainda a tentar ganhar coragem para entrar na água e, passam a correr e mergulham lá para dentro como se a água estivesse a escaldar. Como se não bastasse, ao correrem, chapinham tudo e, uma pessoa que esteja a tentar ganhar forças para conseguir entrar no Oceano Glacial Ártico, leva com rajadas de salpicos que mais parecem tiros de caçadeira.
Depois, não sei porquê mas, aos 8 anos todos os miúdos têm uma prancha de skimming. Skimming é aquela coisa irritante que os miúdos fazem com uma prancha fininha que é parecido a andar de skate em cima das ondas baixinhas, precisamente na zona onde, pessoas como eu molham o pézinho durante 37 minutos antes de conseguir, perdão, antes de querer entrar na água. Atiram o raça da prancha e depois vão a correr e saltam-lhe para cima.
Ora, sucede que, na minha última ida à praia, levei com uma prancha dessas no tornozelo que me arrancou um lenho do pé. Aquilo é fininho e anda depressa como o raio. Ainda estava a gemer de dores, quando me abaixei e disse ao miúdo:
"Então, pá? Como é que é??" (achei que "pá" me dava um ar de adulto fixe a ralhar...)
E foi então que, o miúdo com os seus 8 anos (mais certo que eu ser um adulto fixe) me fez a coisa mais irritante que os miúdos de 8 anos fazem. Mais do que salpicar uma pessoa, mandar pranchas aos tornozelos ou roubar-nos a masculinidade toda ao mergulharem primeiro. Sim, o puto fez-me uma coisa que ainda hoje, passados uns quantos dias ainda me faz ter remorsos de lhe ter falado mal...
Olhos de Bambi. Sacana do puto.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Ninguém me disse que era para desenhar veleiros


Este sábado que passou fui ao 29º Encontro dos Urban Sketchers, que aconteceu no cais de Santa Apolónia, onde estavam atracados os veleiros da Tall Ships Race. Na verdade, onde eu queria mesmo ir era a um encontro de malta que se juntasse para comer gomas mas, como parece que desses ainda ninguém se lembrou de organizar, fui a um encontro de pessoal que se junta para desenhar.
Eu que nunca tinha ido a uma coisa destas, resolvi ir. Curiosamente, a Maria preferiu deixar-me ir sozinho...
Tinha a ideia de que seria uma tarde descansada, entre bonecos, conversa e copos, mas enganei-me. Aquilo não é para pessoal molenga.
À hora combinada, vieram as instruções: "Têm 3 horas para desenhar e depois voltamo-nos a encontrar aqui para mostrar os desenhos uns aos outros."
Até aqui tudo bem. O pior foi que toda a gente seguiu as indicações à risca. No espaço de segundos, todos os participantes tinham encontrado um local para desenhar e já deviam ter o primeiro desenho feito quando eu me sentei. Só para terem uma ideia, é gente que vai dos 0 aos 100 em 3 horas. Eu, que ainda estava a pensar que a primeira hora era para beber um copo, a segunda para desenhar e a terceira para a despedida, precisei de alguns segundos para me recompor. Lentamente, refiz-me do susto e comecei a desenhar.
Acho que desenhei, em três horas, o que desenharia em três semanas. Sim, descobri que, por volta do 17º desenho, a mão já mexe sózinha. Só não tive tempo para perceber se se pode adormecer e continuar a desenhar. Para a próxima vou tirar essa dúvida.
Volvidas as três horas, a malta voltou a juntar-se toda para mostrar os desenhos e dar dois dedos de conversa. Também houve tempo para a tradicional foto de grupo onde todos abrem o caderno com um desenho do dia. Folheei os meus vezes sem conta e não encontrava nenhum desenho ao nível dos outros participantes. Mas também não me preocupei. Por ser um encontro de gente que apenas quer desenhar para se divertir e passar um bom bocado, sem preocupações de fazer grandes obras de arte? Não, porque os desenhos a lápis geralmente não aparecem nas fotos. Basicamente, acho que na foto sou o cromo que parece que não fez nada no caderno a tarde inteira. E ainda por cima, toda a gente desenhou veleiros menos eu...
Mas final do dia, fiquei mesmo contente por não ter sido um encontro de gomas. Se me tivessem dito que tinha três horas para comer gomas, provavelmente a esta hora ainda estaria na casa de banho de Santa Apolónia.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

À conquista da blogosfera, um header de cada vez


Se há trabalhos que gosto de fazer, são os headers de outros blogues. Mas nem por isso, deixam de ser dos trabalhos mais difíceis que há, porque o desafio é sempre muito grande.
Fazer um header de um blogue é quase como fazer a caricatura de uma pessoa com base naquilo que ela lá escreve. É resumir num pequeno espaço o espírito do blogue e da própria pessoa.
É dar vontade aos leitores de ler o blogue, apenas por gostarem do header. É fazer uma imagem que ocorra à cabeça das pessoas sempre que falem de determinado blogue, ou blogger.
E é fazer isto tudo respeitando as vontades e sugestões da pessoa que o pede.
O último que fiz foi para o blog http://abrilhosquenaobrilha.blogspot.pt/. Entre sugestões da blogger e ideias que fui tendo, surgiu o trabalho que agora lhe pertence e que poderão ver no blogue dela.
E a sugestão de a retratar como uma "cobrazinha" a escrever nem foi minha, mas encaixa na perfeição. Não perceberam porquê? Então passem lá que logo ficam com uma ideia.
Eu consegui escapar ileso, mas acho que nem toda a gente se pode gabar do mesmo...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Não há nada que uma minuta não resolva


Há dias fui ao Tribunal de Loures para tentar resolver um problema que me tem andado a chatear - ver de que forma posso cobrar uma dívida vencida já há algum tempo. O campeão que me contratou uns serviços (sim, tenho contrato e tudo...) deixou de me pagar e, curiosamente, também não atende o telefone nem responde aos mails.
Mas deixem-me que vos diga: anda por aí muita gente a acusar injustamente os tribunais de trabalhar devagar mas eu não concordo nada com isso. Eu fui despachado num instante:
"Primeiro tem que ir ao ACT. Só depois é que o processo passa para aqui."
"Mas se me pudesse explicar quanto tempo demora o processo e se tem custos..."
"Tem que ir ao ACT primeiro, como lhe disse. E tem que pagar logo para iniciarmos o processo. Pode pedir à Segurança Social que lhe arranje um advogado nomeado pelo ministério público mas só os indigentes estão a ter direito."
"Mas quanto tempo demora? E os custos são muito elevados? É que neste caso, acho que não há grandes dúvidas: eu tenho um contrato que foi cumprido da minha parte e do qual não recebi nenhum pagamento. Deve ser simples, não?"
"Já lhe disse que primeiro tem que ir ao ACT. Depois tem que pagar porque há aqui gente a trabalhar. As fotocópias custam dinheiro, sabia? E o tempo que demora não lhe posso dizer. O país está insolvente, caso não tenha reparado."
Com aquelas duas informações de tremenda intelectualidade, a senhora ganhou-me. Não só me informou que o país está em crise como ainda que as fotocópias custam dinheiro. Só fiquei na dúvida se o país estará em crise por as fotocópias nos tribunais custarem tanto dinheiro. Mas achei melhor não perguntar. Já tinha bastante informação nova para digerir para uma semana.
De regresso ao parque de estacionamento do tribunal, onde tinha deixado o meu carro, mais uma prova da rapidez da justiça: estacionar num parque praticamente vazio, mas reservado aos senhores doutores do tribunal dá multa. Já os carros estacionados na rua do mesmo tribunal, por cima dos passeios, e quase a entupir a circulação, não infringiam qualquer lei. Devo ter faltado a alguma aula do Código. Adiante. Como não podia deixar de ser, fui ao ACT. E, realmente, a senhora do tribunal tinha toda a razão: no ACT tiveram a bondade de me entregar uma minuta de carta que se deve escrever aos devedores nestas situações. Ainda bem que perdi mais uma manhã para ter direito a uma minuta. Perguntei se uma carta escrita por mim não teria a mesma validade mas a resposta foi peremptória:
"Não, tem que ser com esta minuta."
"E depois de isto ir para o tribunal, quanto tempo é que o processo pode demorar?"
"Um ano. É isso que têem estado a demorar."
Fiz mais uma pergunta, mas a senhora interrompeu-me logo:
"Não lhe sei dizer. O melhor é ir a outro serviço. Nas Amoreiras têem esse serviço."
Como ainda não tinha perdido a fé na senhora, voltei a tentar receber mais um esclarecimento, mas a resposta, apesar de pronta, não era bem o que esperava:
"Para saber isso, tem que ir à Segurança Social."
Estive para lhe sugerir mudar de profissão para guia em Lojas do Cidadão. Fazia sucesso, mas como teria mais trabalho, achei melhor ficar calado. Há pessoas que não gostam que as mandemos trabalhar.
No final desta luta toda, juntei as peças todas, reflecti e comuniquei, por sms (tive que o escrever sem a ajuda de uma minuta...), ao campeão que ia fazer a denúncia por carta ao ACT e ao tribunal.
Ainda não me respondeu. Mas aposto que deve estar cheio de medo.
Ai até aposto.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Carta aberta (de apoio) ao Ministro Relvas


Caro Ministro Relvas,

Escrevo-lhe aqui hoje para demonstrar todo o apreço que tenho por tudo o que tem feito pelos portugueses nos últimos dias. Bem sei que lhe tem custado a deterioração da sua imagem e, talvez, lhe venha a custar a manutenção do seu cargo de ministro, mas acredite que aquilo que está a dar ao país vale a pena o sacrificio. E estou convencido de que, este mesmo país, mais cedo ou mais tarde, lhe fará justiça.
Falo, claro está, da sua demonstração, clara e inequívoca a toda a sociedade, da podridão em que vivem as universidades, os serviços secretos, os meios de comunicação social, os partidos políticos, a administração pública e, quem sabe, o que mais.
Não o conheço pessoalmente mas duvido que alguma vez tenha apontado uma arma a quem tinha o poder de lhe conferir o grau de licenciado para que o fizessem. Da mesma forma que, tenho quase a certeza, que não agrediu ninguém, ou raptou familiares de jornalistas, no sentido de os obrigar a não publicarem determinadas notícias a seu respeito.
O senhor apenas tentou, ou pediu, talvez com promessas de bons agradecimentos (mas quem não agradece um grande favor?), o que pretendia a quem de direito. E que mal tem pedir? (nunca vi ninguém neste país ser preso por corrupção na forma tentada)
A seriedade das pessoas a quem o fez ditou o resto. E conforme as notícias vão saindo, e os desmentidos não aparecem, percebemos, com a sua ajuda, que todos os ramos da sociedade com que interagiu foram coniventes consigo, mostrando que estão imersos numa profunda corrupção, à qual, mesmo aqueles que mais sérios parecem, sucumbem.
Muitos dos que o criticam, insistem que o senhor é que é o culpado de toda esta situação. Mas eu pergunto-me: o que é a, possível, corrupção de um homem quando comparada com a corrupção que o senhor pôs a nu de universidades, meios de comunicação social e serviços secretos? É um favor à sociedade, é o que é.
De certeza de que todos os que o criticam hoje não irão sucumbir à corrupção quando um dia forem tentados nem, tão pouco, irão tentar obter de alguém algo que, talvez, não mereçam.
O país está melhor graças ao seu exemplo.

Por toda a corrupção que tem feito, desculpe, possível corrupção, o meu muito obrigado.

Melhores cumprimentos,

Tiago Leal

PS: Mas, ao menos, veja lá se para a próxima esconde melhor as trafulhices que faz. Já não suporto ter que levar consigo, de manhã à noite, na televisão, rádio, jornais, revistas, blogs, facebook, twitter (sim sim, eu tenho um twitter e lá também falam de si...)...

terça-feira, 10 de julho de 2012

A seriedade das pessoas está nos decibéis com que falam


Há uns tempos, fui com a Maria ao Centro de Saúde Fernão de Magalhães, em Coimbra. É numa das principais avenidas da cidade, mas mais parece um centro de saúde daqueles que se vê em documentários sobre a ex-URSS.
Chegámos cedo, e a Maria tratou de pagar a taxa para poder ir à consulta, na mesma sala onde se espera pela respectiva vez. Sentámo-nos à espera da chamada para a consulta quando, 10 minutos mais tarde, entra uma pessoa na sala (e que aqui vou tratar amavelmente por tipa) e exclama alto e bom som para todos ouvirem:
"Há pouco, paguei a inscrição para a consulta com uma nota de 20€ e não me deram os 15€ de troco. Fui lá abaixo para beber café e dei lá conta disso. Mas vão ter que me dar os 15€."
Acho sempre incrível como é que alguém consegue saber com tanta certeza onde perdeu alguma coisa. Podia ter deixado cair o dinheiro, ter pago com uma nota de 5€, em vez de 20€ conforme dizia ter a certeza, ou outra coisa qualquer, mas não. A tipa tinha a certeza que a falha tinha sido de quem não lhe tinha dado o troco. Nisto, aproximou-se do guichet e iniciou uma animada peixeirada com a administrativa, só interrompida pela chamada no megafone pregado na esquina da sala, para ir à consulta.
A tipa lá foi e nós ficámos em pulgas para ver o segundo espisódio. A coisa prometia. Entretanto, a tipa regressa à sala de espera e chamam a Maria para a consulta dela. Foi pena. Gosto sempre de ver bons filmes acompanhado, e desta vez não tive a companhia da Maria. E, se calhar, ainda bem.
A tipa aproxima-se do guichet e recomeça com a gritaria:
"Vocês não me deram o troco. Eu saí a correr para beber café antes da consulta e esqueci-me do troco."
"Mas eu não vi aqui nenhum dinheiro esquecido."
"Mas eu tenho a certeza. Conte o dinheiro da caixa que eu não vou embora."
Nesta altura eu só pensava na pena que era não ter pipocas. Nunca se pode ter tudo.
A discussão continuou até que a administrativa contou o dinheiro da caixa e respondeu à tipa que não tinha lá dinheiro nenhum a mais. Ainda assim, e para ficar de consciência tranquila, queria dar-lhe os 15 euros à mesma.
A tipa fica num impasse. Tinha gritado por todo o lado que a queriam enganar e agora queriam-lhe dar o dinheiro só para limpar consciências... Não podia aceitar. Vai daí, numa brilhante actuação, vira-se para a plateia, onde eu estava, e diz:
"Eu não vou aceitar esse dinheiro. Se não se enganaram no troco, é porque alguém me tirou o dinheiro." e nisto, abandona a sala. Foi um momento muito intenso. Durante 2 ou 3 segundos, toda a gente naquela sala se olhou de lado, tentando perceber quem seria o ladrão.
Até que, uma senhora dos seus 70 anos, estica o dedo na direcção do lugar ao lado do meu, onde tinha estado sentada a Maria, e diz:
"A senhora que ía atrás dela na fila estava sentada ali."
Como é que é? Entra uma tipa que ninguém conhece de lado nenhum a dizer que uma pessoa naquela sala lhe roubou 15€ e há logo quem comece com acusações? Curiosamente, naquele instante também formei a minha opinião sobre o possível ladrão. Mas eu não me podia ficar. Estavam a querer acusar a Maria e isso eu não podia permitir. Pigarreei um pouco, coloquei a voz e disse:
"Quem estava aqui era a minha mulher mas ela não roubou ninguém."
A resposta pronta de todos foi: "Pois não. Claro que não. Não não não."
O que vale é que aquilo era tudo gente séria, estava bom de ver.
Mas quando a Maria chegou ao pé de mim, toda sorridente e a dizer que era por a consulta ter corrido bem, também fiquei de pé atrás. Será que eu vivia com a nova Winona Ryder, a actriz com as mãozinhas mais rápidas de Hollywood? De repente, até o facto de a Maria perceber tanto de cinema americano já parecia suspeito. Isso e estar sempre a deixar cair coisas. De certeza que era para disfarçar. Mas bem, vendo o lado positivo, sendo eu casado com ela, também teria direito a metade do roubo. E será que havia mais desfalques? E contas nas Ilhas Caimão?
Estava eu nesta torrente de pensamentos quando chegámos ao nosso Peugeot 206 e...

Esperem lá. Eu estava a falar de quê?

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Os amigos são para as ocasiões


Grande parte dos meus dias, neste momento, são passados a pintar desenhos, que fiz no Caminho de Santiago, para a Travel Magazine. Quando parti para Espanha, já tinha tudo combinado com a Travel, o que colocou muito mais pressão no momento de desenhar. Já não estava a fazer desenhos só para mim, ou para o blogue, estava a fazê-los para um cliente, ainda por cima estrangeiro, e com uma visibilidade muito maior.
Daí que, para não falhar aos beefs, acabei por fazer desenhos à chuva, desenhos em pé por não ter onde me sentar (não sei como é que há pessoas que conseguem), deitado na estrada, com as mãos a tremer de cansaço, desenhos com dor de cabeça, de pés, de costas, com fome... Cheguei a atrasar-me em relação à malta para ficar a desenhar e depois a ter que correr para os voltar a apanhar. Tudo valeu para que, no fim, tivesse uma boa colecção de desenhos que não me deixassem ficar mal perante os ingleses.
E nem o facto de, numa casa de vinhos onde entrámos para descansar e beber um café, o raça da mulher que estava a ler o jornal ao balcão ter ido embora quando eu ainda só lhe tinha desenhado a cabeça me impediu de registar o momento condicentemente.
Mal a mulher saiu da bodega, olhei para os meus colegas de viagem, escolhi o mais jeitosinho (de início não é fácil, até porque o sofrimento ainda não se abateu sobre cada um mas, ao fim de uma semana, com as Marias a 400km, já qualquer um consegue ver qual é o amigo mais jeitoso...), e disse-lhe:
"Preciso que te sentes ao balcão, com a perna cruzada a ler o jornal."
E ele foi.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Aveiro é uma cidade de gente muito à frente


A brincar a brincar, já vivi em várias cidades do nosso país desde que comecei a trabalhar. A primeira onde trabalhei a sério, e que por isso me vai ficar sempre na memória, foi Aveiro, já lá vão 5 anitos.
Curiosamente, no ano e meio que lá vivi, o trabalho que tinha era tão a sério que, basicamente, a minha vida era casa-trabalho e trabalho-casa. Sim, era estagiário. Quando saí de lá, praticamente não fiquei a conhecer ninguém de lá e mesmo grande parte da cidade me passou ao lado. Em Aveiro, o que melhor fiquei a conhecer foi o caminho para lá chegar e o caminho para sair.
Mas como dizia o Steve Jobs, é muito engraçado olharmos para trás e vermos como os pontos do passado da nossa vida se ligam tão bem.
No passado sábado dia 30 de Junho, quando me preparava para sair de casa para levar a familia à inauguração da exposição que tenho por Aveiro, no Café Riff, o meu pai, avisou-me:
"Olha que o GPS não está bem. Tu sabes dar com aquilo?" (Sim, o GPS do meu pai é do sexo feminino e também tem os seus dias. Quando não está bem, nem vale a pena perguntar...)
E foi aí que, num momento de grande intensidade dramática, eu, um gajo que se perde no caminho de casa para o Centro Comercial, pensei:
"Sei."
E foi graças a ano e meio a rumar a Aveiro à segunda-feira, que só chegámos uma hora atrasados. Pode parecer pouco, mas foi o suficiente para nos cruzarmos com a malta do café Riff antes de fecharem o café para o jantar. Aquilo é malta com muito boa onda. Receberam-me bem e nem me insultaram por chegar atrasado, o que mostra bem o nível de pessoas a que eles pertencem.
Depois do jantar num restaurante típico da cidade de Aveiro, o "Serra da Estrela", fomos, finalmente, conhecer o Riff. Um espaço único em Aveiro onde, para além de uma escola de música, há exposições e um bar, sempre com música.
Aconselho vivamente. Mas se lá forem, não façam caso de um desenho a marcador de feltro feito numa parede de vidro que lá está no bar. Foram eles que me pediram para desenhar. E ao preço que está o álcol para apagar aquilo, receio que eles possam não o apagar e comecem a perder clientes.
Depois não digam que eu não avisei. Eu só quero o vosso bem...