terça-feira, 29 de outubro de 2013

O novo Código do Animal de Companhia


Desde que acolhemos um pequeno monstro devorador de seres humanos - como carinhosamente gostamos de o ver - cá em casa que olho para os animais domésticos com outros olhos.
Em casa dos meus pais sempre tivemos animais com fartura, mas estando eles no quintal, a afeição que sentia por eles era muito menor do que tenho por esta bola de pêlo cujo único interesse na vida é arrancar-nos os olhos, espetando neles uma garra de cada vez. Lá, a interacção não ia muito além de algumas festas e de fita-cola nas patas. Aqui é diferente. Especialmente porque aqui, quem manda é o animal. Quem, como eu, viu o filme do Rei Leão sabe que o animal que se empoleira no ponto mais alto da selva é o que manda nos outros.
Por isso fiquei curioso com o novo regime jurídico sobre os animais de companhia. Que diabo, por cá não há só a crise. Tinha esperança que os direitos dos animais viessem reforçados, mas parece-me que se perdeu uma boa oportunidade. Nada de novo, por estas bandas.
Limita-se o número de animais por casa e apartamento, como se todos os apartamentos fossem iguais e como se todos os animais fossem iguais. (E como se todos os vizinhos fossem iguais.) Mas deixam-se de fora os criadores de animais, porque, claro, neste caso a economia sobrepõe-se ao incómodo que os bichos possam fazer. Quando se tenta passar aquilo que é do bom senso para lei, geralmente dá asneira. Em relação à eutanásia para os bichos, parece-me uma boa medida para aqueles casos em que a doença é terminal e gera um sofrimento atroz ao animal. Mas mesmo aqui, pelo que parece daquilo que li aqui, vai ser possível praticar eutanásia em animais doentes (cuja doença possa ser transmitida às pessoas), mesmo que a sua doença seja curável. Ou seja, se o animal estiver doente, o dono leva-o ao veterinário. E depois escolhe o tratamento - um que dá umas chatices de ter que dar medicamentos e tratamentos cuidados mas que demora algum tempo a fazer efeito ou outro que faz efeito imediato e não dá nenhuma chatice. Esquisito.
Mais esquisito ainda é que muitas das associações que recolhem animais das ruas nem sequer foram ouvidas mas aquelas que criam animais com fins económicos até "ajudaram" a criar a nova lei. Acho que nem é preciso dizer mais nada.
É pena que se perca esta oportunidade para legislar em defesa dos animais. Tinha esperança que a lei fosse verdadeiramente mais à frente e que defendesse aquilo que é mais importante e que, de uma vez por todas, retirasse os animais do sofrimento por que muitos passam.
Desde logo, era essencial uma lei que proibisse vestir roupinhas aos bichos e que impedisse que se fizessem penteados com caracóis ou de pêlo esticado. E que proibisse redondamente que, de 30 em 30 segundos, houvesse alguém a pôr uma foto do seu animal no facebook.
E, ah, falta a mais importante - uma lei que proibisse a atribuição de nomes de pessoas casadas comigo a animais. Esta devia ser mesmo punível com pena de prisão de alta segurança.
No outro dia, ia a passar pelo parque quando oiço uma velhota aos berros:
"Ó Dalila, pára com isso! Já te disse, Dalila! DALILAAAA!!!"
Bolas, a pobre da caniche não merecia aquilo. Nem eu.
Olhar de repente para uma velhota aos berros a apontar para alguém na relva, que não se consegue ver à primeira vista quem era, por ter feito as suas necessidades na relva e cujo nome é o mesmo da minha Maria, pode ter um efeito traumatizante numa pessoa.
Já não bastava a outra actriz que faz sempre dela própria ter o nome da minha Maria, agora tenho que levar com a besta da vizinha.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Venham de lá esses armários suecos


A semana passada fui com um colega ver o jogo da Selecção contra Israel no Estádio de Alvalade. Nunca tinha visto o Ronaldo jogar e, na altura, pareceu-nos boa ideia...
Chegámos mais cedo ao estádio para termos tempo de ir à rulote do Rei das Bifanas, mas ainda nem tínhamos tirado a mostarda dos cantos da boca, quando uma rapariga se chegou ao pé de nós para nos fazer um inquérito sobre telecomunicações. O meu colega ofereceu-se logo (nem sei porquê - o decote dela não era assim tão grande) mas eu já só pensava em ir para o estádio. A rapariga sacou do inquérito e começou por querer saber quantos canais ele tinha em casa e a velocidade da internet. Ao fim de 10 minutos, já queria saber qual era o clube dele, se ele ia muito ou pouco ao cinema, o número de telefone, a morada e o nome completo. Já vi técnicas de engate melhores mas, mesmo assim, não estava nada mal. No fim, a rapariga virou-se para mim e perguntou-me se eu também queria. Recusei o convite educadamente. Ainda há coisas em que sou muito conservador.
Entretanto entrámos para procurar os nossos lugares. Quando se tem bilhetes para lugares quase no meio das nuvens, convém ir com algum tempo de antecedência. Encontrei os lugares ao fim de muitos degraus mas o meu colega preveniu-me que os nossos eram na fila 27 e não 21, como me tinha parecido. Olhei para as escadas mas faltou-me a coragem. E então combinámos que se alguém reclamasse os lugares, sairíamos prontamente e iríamos para os nossos, mesmo que para isso ficássemos a bater com a cabeça na cobertura do estádio e o Moutinho, visto de lá, ficasse a parecer da mesma altura que o Ronaldo.
O jogo lá começou e ao meu lado sentou-se um casal de namorados. O tipo devia ter algum problema no pescoço, porque nunca virava a cabeça para o meu lado. Tentei meter conversa, dizendo que o Hugo Almeida é que devia ser o treinador, porque passava o tempo a ver os colegas a jogar, mas o tipo nada. Voltei a mandar umas bacoradas sobre o Nani estar a jogar com chuteiras de betão e por o São Patrício ter deixado a auréola em casa mas nada. Nem para me mandar calar o tipo abriu a boca. Estranhei. A verdade é que eu e o meu colega também estávamos a ficar chateados. Não tínhamos planeado ver um jogo solteiros vs casados, mas pronto. Quando o intervalo chegou, levantámo-nos e passámos por eles para irmos ao wc (em qualidade de wc's o Sporting dá 10-0 ao meu Benfas...). Ao passarmos pelo casalinho, dei conta da namorada estar a azucrinar a cabeça ao homem porque ele não foi capaz de nos dizer que estávamos mal sentados. Eu sei que pareço uma pessoa super inacessível, especialmente quando digo coisas do calibre cultural de "Ruben Micael, és tão mau que nem a Sofia Ribeiro te queria, pá!", ou algo mais sofisticado como "Ó Ronaldo, vai masé pó c******!", mas caramba, sou uma pessoa sensível e bem educada. E aquilo mexeu com os meus sentimentos.
Tanto que depois do intervalo não voltámos àqueles lugares, nem aos nossos que, por aquela altura, já estavam ocupados. Preferimos ficar nas escadas ao fundo da bancada. Não se via grande coisa mas pelo menos ninguém teve cãibras nas pernas - escalar uma bancada não é para qualquer um.
E só tive pena que não desse mesmo para ver nada. Mas bem, o golo de Israel a 5 minutos do fim teve os seus pontos positivos: deu para acordar o pessoal das bancadas (se não fosse aquilo, os seguranças do estádio iam ter que andar de banco em banco no fim do jogo a acordar as pessoas) e fez com que o Rui Patrício pudesse pronunciar as suas palavras imortais, no fim do jogo:
"Bem, agora o que é preciso é levantar a cabeça."
E agora venha de lá o Ibrahimovic, desculpem, a Suécia. Se não adormecermos, até os comemos.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Para sobreviver às reuniões de trabalho


Longe vão os tempos em que tive a minha primeira reunião de trabalho. Mas, curiosamente, lembro-me como se tivesse sido hoje - estava eu e a minha chefe com dois clientes e levei um pontapé dela debaixo da mesa daqueles que, por mais que tente, não consigo esquecer. E eu bem que preciso de espaço no cérebro para coisas mais interessantes.
Diz-se que os primeiros ensinamentos são os que ficam para sempre. Com aquele pontapé, aprendi num instante que não se deve desenhar as pessoas que estão à nossa frente, especialmente quando temos o caderno poisado sobre a mesa e toda a gente está a topar. Mesmo que (e isto é importante) o que se estiver a dizer não seja importante e os tipos tenham uns óculos e um bigode que estejam mesmo a pedir um boneco no caderno.
Desde esse dia, muito em mim mudou. Sou uma pessoa com mais experiência e com outra forma de estar. Posso dizer, com toda a firmeza, que evoluí muito e não sou mais o irresponsável que era.
Agora desenho as pessoas com o caderno levantado para mim, de maneira a que ninguém veja o que estou a fazer. E se alguém olhar com reprovação, achando que estou, infantilmente, a fazer uns bonecos, basta parar um pouco, olhar a pessoa nos olhos, abanar a cabeça três vezes (como se estivéssemos a concordar com aquilo que está a ser dito na reunião) e tudo volta ao normal, com toda a gente convencida que estávamos era a tirar apontamentos.
E se, porventura, alguém perguntar se apontámos uma determinada informação dada na reunião, o procedimento a tomar também é simples. Mas tem que ser feito com naturalidade, senão a coisa não pega. É só responder:
- Olha, que curioso. Ia mesmo para te perguntar isso. É que também, logo por azar, não consegui tirar apontamentos sobre essa parte.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Ups, I did it again...


A caminho do jantar com a patroa e colegas de trabalho da Maria:
Maria - Olha, agora no jantar com a minha patroa, como tu não a conheces, nem os meus colegas do trabalho, queria-te pedir se podias ter cuidado com as palermices que dizes.
Eu - Palermices, eu? Fogo, tu é que arranjas sempre colegas sem sentido de humor.
Maria - A sério. Eu estou a falar a sério. Não me envergonhes, pode ser?
Eu - Poxa, fica descansada. Eu sei-me comportar. Vou estar sério toda a noite.
Maria - Fazes isso por mim?
Eu - Faço, claro.... Mas sabes que às vezes é preciso alguém que corte os momentos de silêncio pesado. E uma piadola fica sempre...
Maria - Olha, deixa estar. De qualquer das maneiras eu já lhes pedi desculpa por aquilo que provavelmente vais dizer durante o jantar.

A caminho de casa, depois do jantar:
Maria - XIÇA, EU NÃO TE TINHA PEDIDO PARA NÃO ME ENVERGONHARES?
Eu - Desculpa... Às vezes não tenho tempo de ensaiar as piadas e elas saem-me mal... É que parecia mesmo que ia ter piada...