sexta-feira, 7 de março de 2014

Não consigo viver a vida ao máximo...


Há dias, estava eu a entrar no meu prédio, carregado com uma botija nova de gás, e o meu vizinho (que em segredo apelido de BetterMan porque está seeeeeempre a cantar essa música dos Pearl Jam no apartamento ao lado do meu), que vinha com o filho de 4 ou 5 anos à minha frente, resolveu esperar por mim dentro do elevador, segurando-me a porta aberta e tudo.
Olhei para a cara dele, olhei para a do puto, ambos dentro do elevador, e a coisa não me cheirou bem. Insisti que subissem que eu iria no próximo, mas como já me estavam a fazer má cara, acabei por entrar.
E não tardou muito para ter a confirmação de que tinha sido má ideia. O BetterMan carrega no botão do 3º piso (onde ambos vivemos) e o elevador não reage. Ficamos ali uns segundos a olhar uns para os outros e, sem que nada o fizesse crer, o homem manda um murro na parede do elevador. "Às vezes é preciso."
Oi? É preciso? Claramente que o elevador não concordava com a ideia, porque nem se mexeu. Quer dizer, não se mexeu logo, porque ao fim do 3º murro lá se decidiu a subir. Também, era isso ou ficava todo amassado.
Depois daquele arranque atribulado, começa-me o puto aos saltos dentro do galinheiro. Aquilo já abanava por todo o lado e o paizinho nada. Até que, com ar de frete, o homem lá diz ao BetterSon: "Pára lá com isso." mas o puto nada. Continua naquele saltitanço constante e eu não me contenho e digo ao homem, disfarçando o pânico que me começava a correr pelas veias: "Pois, sabe, nunca fiando... Era melhor parar..."
O homem vira-se para mim e diz: "O elevador não cai, fique descansado. Eu só me chateia ele estar a saltar porque quando começa já não pára."
Chegamos ao 3º piso. O BetterMan e a papoila saltitante (aos saltos desde o rés do chão e a continuar mesmo depois de sair do elevador) saem para o apartamento ao lado do meu e eu fico uns segundos para trás a sentir-me miseravelmente. Ali estava um homem (com uma péssima voz, é certo) com um filho sem receio de viver a vida ao máximo. Eram aventureiros, conquistadores. Faziam o que lhes dava na real gana sem pensar no perigo que poderiam correr. E eu ali, a um canto, cheio de suores frios. Sempre agarrado a pequenos pormenores que não me deixavam viver a vida na sua plenitude.
Como o pormenor daquela vez em que, dentro daquele mesmo elevador, tive uma viagem que parou a meio do 2º piso porque o elevador não quis subir mais. Ou daquela, em que o elevador me deixou no 8º piso, mesmo tendo carregado no 3º. E, depois de voltar a carregar no 3º me deixou no 5º. E depois no 7º. E depois no 2º. Ou naquela em que, durante uns 10 minutos, o elevador andou entre os 2º e o 4º piso (tipo ping-pong) sem ninguém lhe ter dado ordens para isso e sem nunca parar, com a Maria a gritar do lado de fora "O que é que eu faaaaaçoooooo?"