segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O meu desejo para o momento que se aproxima


Quer escolham viver esse momento mágico em casa, na casa de amigos, numa discoteca, num cruzeiro ou na rua, o importante é não perder a noção de que o mais importante ainda está por vir, de que grandes emoções ainda estão por viver e que as dificuldades só se farão sentir depois da festa.
Por cá, as mulheres da casa já estão a guardar o lugar no sofá para esse grande momento.
Para o evento só tenho mesmo um desejo: que não ganhe a Jéssica. Não é por mim nem pela Maria, que nem sequer sabemos quem seja a moçoila. É pela minha mãe. Ela não lhe acha piada e as minhas irmãs concordam. E se elas o dizem, eu estou nessa.
Ah, é verdade, parece que o ano muda hoje. Com toda esta emoção, quase que nem dava por isso. Também não percebo quem é que marca a passagem de ano para o mesmo dia da final da Casa dos Segredos...
Mas bem, desejo um Bom Ano Novo a todos, que seja repleto de sucessos a todos os níveis e que saibamos dar a volta aos desafios que se aproximam, com a elevação que desde que somos uma nação temos mostrado a todo o Mundo!
Ah, e que não ganhe a Jéssica.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Não deitem fora os burros e as vacas

Recentemente foi publicado um documento que deixou muita gente em suspenso. Um texto que conta a história de pessoas muito pobres, da difícil vida que lhes estava destinada, e que faz a sociedade reflectir num dos maiores enigmas da Humanidade. Um enigma maior até que a expulsão do Wilson da Casa dos Segredos. Bem, não exageremos. É grande, mas talvez não seja assim tanto. Falo, afinal, da existência (ou não) do burro e da vaca no Natal.
Uma leitura atenta deste documento, que parece ter sido escrito por um alemão, não deixa quaisquer dúvidas e confirma os piores receios: há mesmo burro e há mesmo vaca. Não há volta a dar.
O livro, chamemos-lhe assim, dada a sua profundidade, não pode ser lido de forma literal. Tem de ser lido com toda a atenção, pois as grandes revelações estão nas entrelinhas. Uma leitura baseada apenas na interpretação directa das suas palavras não será capaz de extrair a grandeza dos acontecimentos e ensinamentos nele contidos. E ele contém grandes revelações. Sim, porque a existência de um burro e uma vaca é, porventura, a mais pequena de todas.
Neste histórico texto de que falo, com o sugestivo título "Orçamento de Estado 2013", uma das maiores revelações está na passagem "Cortes nas Pensões". É aqui que é mais evidente a existência do burro, apesar de a sua presença também estar implícita noutros capítulos. Só mesmo o burro conseguiria olhar para as ilegalidades contidas neste capítulo e encolher os ombros, quando tudo o que lhe competia era que perguntasse aos seus amigos se aquilo era grave ou não. Em vez disso, o burro preferiu ignorar que pessoas reformadas, já de si pobres, vão ficar ainda mais pobres, apesar de terem descontado toda a vida. Talvez tenha sido por inveja dos pensionistas que, ao contrário dele, também reformado, ainda conseguiam esticar a sua reforma para as despesas e que agora vão, certamente, deixar de conseguir. Pelo menos assim, o burro vai estar em pé de igualdade com os outros reformados do país.
É fácil perceber as dúvidas da sociedade quanto à existência ou não do burro, já que não é qualquer um que o consegue ver. É preciso acreditar que ele lá está, porque na verdade, ninguém o vê a fazer nada. É uma questão de fé. Eu tinha avisado que era preciso ler nas entrelinhas.
Já no caso da vaca, não é preciso escolher nenhuma passagem em particular para se perceber que a sua existência é bem real. Ela está em todas elas, mas de forma subliminar. Seja no aumento do IRS, nos cortes da Saúde ou da Educação, a vaca marca a sua presença, cada vez menos discreta. Ao contrário do burro que nada faz, a vaca, como animal que dá de mamar, acaba por ter uma maior intervenção na história, cobrando o que bem entende pelo seu leite que alimenta quem a rodeia. Como, inclusivamente, é mais corpulenta que o burro, ela própria aquece mais o ambiente que o próprio jumento, levantando, também aqui, sérias dúvidas quanto à real necessidade de se ter um burro.
Toda a história tem pouco de novo e fica-se, até, com a ideia de que apenas foi publicado o início, ficando o final por desvendar. Para já, deu para perceber que vai acabar mal. Só ainda não se sabe para quem. Quer dizer, para o burro vai de certeza.
Só achei curioso que tenha sido lançado na mesma altura um outro livro, escrito pelo Papa Bento XVI, que também aborda a temática do burro e da vaca. Apesar do autor deste livro também ser originário da Alemanha, à semelhança dos verdadeiros autores do primeiro texto de que falei, é bastante mais explícito na sua mensagem. Aqui não foi a presença dos animais no presépio que me causou dúvidas, porque isso está bem explícito na passagem “(…)Nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento.” E por isso não acredito que haja alguém que saiba ler que não o perceba. A única coisa que me suscitou alguma desconfiança foi a proveniência dos Reis Magos. De Espanha? Parece-me mais que o Gaspar e os seus amigos partiram de terras lusas para levar os presentes à vaca, quer dizer, ao menino, mas isso já sou eu a divagar.

PS: esta foi a idiotice #4 publicada no P3, que também podem ler aqui. Sim sim, já são 4 e ainda ninguém me bateu à porta de casa para me por um saco na cabeça e levar até ao Relvas. Só por isso já está a correr bem.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal! (sim, a todos...)


Escapei-me do árduo trabalho de polvilhar os cuscurões com açúcar e canela que a minha mãe está a fazer para vir aqui deixar os meus desejos sinceros de Feliz Natal a todos os que se dão ao trabalho de passar por aqui! Aos outros também, vá, que no Natal fico assim um mãos largas.
Bem, agora tenho que voltar, porque há cuscurões que precisam de mim. Estes ainda é o menos. Estou a ver é que ainda vou ter que ir impor respeito a uma tablete de chocolate e uns ovos que estão mesmo a pedi-las. Mas bem, como eu sou um coração mole, o mais certo é que só seja capaz de bater nas claras.
Afinal de contas, é Natal.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Trabalho de equipa

Mais cedo ou mais tarde, todos sabíamos que este dia haveria de chegar. Não adianta fingir e assobiar para o lado porque esse dia chegou. E não há nada a fazer quanto a isso.
Chegou o dia em que... volto a pedir que me ponham um "gosto" nesta imagem no facebook da mysugar, porque concorri a um concurso de "gostos" ilustração e, para ver os meus bonecos a embrulhar chocolates, preciso mesmo da vossa ajuda. É uma espécie de trabalho de equipa em que vocês jogam todos a ponta de lança.
Neste momento, a coisa está preta. As votações duram até sábado e já estou 400 "gostos" atrás do primeiro. Mas, tendo em conta os milhões de pessoas que aqui passam todos os dias, não deve haver grande problema. Estive quase para fazer este triste choradinho meia hora antes do fecho das votações, que será sábado à meia noite, mas não fosse a malta estar às compras de Natal, achei melhor não arriscar. Nem toda a gente tem as prioridades bem definidas, e é preciso contar com essas pessoas também.
Fica aqui o link para cumprirem com o vosso dever bloguístico. Agora não se ponham é a ver os outros concorrentes e a votar no que acham que é mesmo o melhor. Tudo menos isso.
Estou a confiar em vocês.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O mundo estava tão bem sem diospiros...


Só há duas coisas capazes de fazer a minha Maria trepar a uma árvore: ser perseguida por um monstro de três cabeças, com baba ácida e garras piores que unhas de gel acabadas de fazer e apanhar diospiros. Neste último caso, há só uma obrigatoriedade: a árvore tem que ser um diospireiro. No primeiro caso pode ser uma árvore qualquer que ela não é esquisita.
Apercebi-me disso quando, há dias, fui com ela apanhar apanhar bolas de gosma vermelha diospiros ao pomar da minha sogra. Apanhámos os pedaços de compota apodrecida com forma de fruta diospiros que estavam à distância de um braço e, quando me preparava para, finalmente, voltar para o sofá e agarrar firmemente com a mão o meu companheiro de 20cm de comprimento,que tem um pequeno orifício na ponta que faz magia (também conhecido por comando da televisão), eis que me surge à frente a Maria com um escadote podre. E, para me fazer sentir mesmo mal, nem me pediu para eu subir. Subiu e apanhou mais uns quantos vómitos instantâneos diospiros.
Claro que numa situação destas, um homem não se pode ficar. Quando ela apanhou os engrossadores de língua automáticos diospiros que conseguiu, subi ao escadote, estiquei-me mas... desequilibrei-me e parti um galho bem grande cheio de enjoadores imediatos de 1º grau diospiros.
Antes de olhar para baixo, tentei pensar numa boa desculpa, mas, não sei porquê, não conseguia ter pena do que tinha acontecido. Estranho. Preparei-me para enfrentar a asneira que tinha feito, que é como quem diz, pus as mãos nos ouvidos e pedi desculpa mas nada aconteceu. Quando, finalmente, olhei para baixo, estava a Maria a apanhar bolas de ranho de tamanho industrial diospiros que tinham acabado de cair. Toda a gente sabe que ralhar é importante, mas não tanto como um pedaço de tripa que mais parece que andou alguém a jogar à bola com aquilo diospiro madurinho. Quando for preciso mudar uma lâmpada cá em casa, é só pendurar lá um bicho em decomposição diospiro que tenho a certeza que ela trata logo do assunto.
Eu cá, não vou dar a minha opinião acerca desta nhanha fruta. Acho que não ficaria bem dizer que me parece que foi um acidente de percurso do Criador quando fez as frutas e que ele devia era estar cheio de pica por ter acabado de criar as mangas, ou os morangos, e, com o entusiasmo, quis fazer uma fruta nova mas, quando a provou, devem-lhe ter dado vómitos, que foram parar ao chão e germinaram aquilo que penso quando a minha Maria é tão apreciadora.
Sim, porque eu sou uma pessoa sensível e ponderada.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Eu estou do lado dos mauzões


Como tenho vindo a constatar que, no caso da greve dos estivadores, os pesos nos pratos da balança entre apoiantes e detractores estão muito desequilibrados, venho aqui deixar os meus 64 kg no prato dos apoiantes. A ver se a coisa fica um nadinha mais equilibrada.
Ao longo das últimas semanas, todos vimos nascer uma nova categoria de monstro. Para quem já estava farto de tentar impor o respeito aos seus filhos e concluído que nem o Homem do Saco nem o Bicho Papão resultavam, surge agora uma nova esperança com o novo, o horrífico, o mauzão… o Estivador.
Honra seja feita ao Governo que conseguiu criar esta nova personagem junto da opinião pública. Bastou lançar uns rumores acerca dos vencimentos e das regalias dos estivadores e, em menos de nada, conseguiu o feito de pôr pessoas, a quem fez tremendos cortes nos rendimentos, a revoltarem-se contra a única classe de trabalhadores que, até hoje, fez alguma frente de verdade ao próprio Governo. Tem havido outras greves e manifestações mas nada que faça o Governo recuar, com excepção da TSU. Quer dizer, quando há manifestações à porta da Assembleia em dia de votação de uma determinada lei, o Governo recua ou avança, mas apenas na hora da votação para não coincidir com a chegada dos manifestantes. Mas isso devem ser coincidências.
Todos querem alguém que faça frente ao Governo, mas quando aparece quem o faz, primeiro é preciso ver a sua folha salarial. É sabido que, neste país, só se pode queixar quem ganhar menos que o salário mínimo. Até parece que os estivadores não sofreram já com os mesmos cortes e aumento de impostos. E ao fazerem greve, mesmo que apenas às horas extraordinárias, fazem-no às suas custas, em protesto contra a precariedade em que a sua profissão corre o risco de ficar.
É isso e o facto de se ter descoberto que para entrar na estiva é mais fácil sendo familiar ou amigo de alguém que já lá esteja. Ui ui. Uma tremenda imoralidade. Aliás, este é um dos factores que mais revolta tem levantado nas pessoas e nos políticos. E com toda a razão. Sim, porque uma coisa é a Ministra do Ambiente contratar a irmã da Ministra da Justiça, obviamente pelo extraordinário currículo, outra coisa é os estivadores fazerem isso (até porque duvido muito que a irmã da Ministra perceba alguma coisa de como carregar um navio).
Claro que nem toda a gente tem a sorte de trabalhar em sectores supostamente tão pequenos, unidos e poderosos como a estiva ou os partidos políticos, mas a ideia que dá é que as pessoas que criticam a greve dos estivadores são aquelas que, há muito, abdicaram do seu direito de reivindicar contra as dificuldades que lhes são impostas e procuram consolo na miséria alheia. É mais fácil suportar as dificuldades sabendo que não se está sozinho.
Apesar de todo o poder que lhes é atribuído, foram precisos três meses de greve dos estivadores para que o Governo aceitasse apresentar uma proposta alternativa à primeira lei. Três meses. Cá para mim, fizeram essa proposta nos dois dias antes de a apresentarem porque o resto do tempo devem ter estado escondidos atrás dos contentores a ver se os malandros desistiam da greve. Mas não desistiram. E com isso conseguiram que o Governo fizesse algumas cedências a uma lei imposta pela tia Merkel, com o objectivo de perceber se por cá a coisa corre bem para depois se implementar igual no resto da Europa. É como os medicamentos novos. Primeiro testam-se no terceiro mundo e só depois se usam no primeiro. Tal e qual.
De qualquer das formas, alguns sindicatos já suspenderam a greve e já são poucos os que ainda a mantêm. Por isso, estou optimista – mais três mesitos, dois ou três telefonemas do Passos à Merkel a ver se pode ceder aqui e ali, e a coisa está resolvida.

PS: esta foi a minha 3a crónica no P3 e a que me demorou mais tempo a escrever... Descobri que para falar de certas coisas é preciso ter conhecimentos sobre elas. Caramba, é tão mais fácil dissertar sobre os assuntos que realmente interessam à Humanidade, como as vezes em que adormeço no comboio ou aquelas em que o meu carro me deixa ficar mal...

domingo, 9 de dezembro de 2012

Entra lá, vá...


O espírito do Natal já chegou cá a casa. E chegou com uma força tal que agora só me apetece ouvir a Mariah Carey e os Wham. Este ano apeteceu-me variar.
Pronto, ok, e a versão de Natal do Gangnam Style, eu admito...
E ao contrário de outros anos, desta vez não foi a instalação da árvore de Natal nem do presépio que arrastaram o espírito natalício para cá (até porque estes ainda estão arrumadinhos nos respectivos caixotes à espera das 21h25 de dia 24 de Dezembro para serem devidamente montados antes da Consoada, na melhor das hipóteses) nem as luzes de Natal nas ruas e as respectivas queixas das pessoas porque a cada ano lhes parecem menos. (Eu, por acaso, até gostava de saber se essas pessoas, quando tiram as luzinhas do caixote do ano anterior para as montarem outra vez, as conseguem por todas a funcionar... Cá em casa, por cada ano que passa, há sempre 6 ou 9 que vão à vida. Com sorte, este ano ainda acenderão as suficientes para dar uma volta à árvore mais uma luzita para o presépio. E com as luzes das ruas, de certeza que acontece o mesmo. Se bem que este ano pode ser que haja menos luzinhas a fundir. Como a electricidade passou a ser chinoca, pode ser que se dê melhor com as luzes do chinês. A ver vamos.)
Adiante. O espírito de Natal entrou em casa porque ao fim de 5 dias a ouvir músicas de Natal sem parar, tive mesmo que o deixar entrar.
Sim, 5 dias. E foi porque a Maria até percebe bastante de powerpoint (sim sim, é quase uma especialista, vá, mais coisa menos coisa...) porque senão era bem pior. E 5 dias foi só o tempo que ela precisou para fazer uma apresentação sobre o Natal para os alunos da Escola Primária dela lá em casa, com tudo o que é música infantil de Natal. Anda armada em Ministra das Finanças, o que é que eu hei-de fazer... Desconfio é que o espírito de Natal, por esta altura, também já entrou em todos os vizinhos do prédio.
Agora a sério, já ouviram o Pato Donald a cantar músicas de Natal? É demais. Eu podia passar 5 dias a ouvir isto que não me chateava nada. Quer dizer, agora que penso nisso...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Qualquer semelhança entre a crise do Sporting e a de Portugal é pura coincidência


Nos últimos tempos, tenho ouvido várias pessoas a comparar a situação de crise actual do Sporting Clube de Portugal à crise vivida pelo nosso próprio país, Portugal, dizendo mesmo que as parecenças entre as situações de ambos são de tal ordem que, inclusivamente, uma pessoa que comece a ouvir uma conversa a meio sobre uma delas não será capaz, à partida, de identificar de qual dos temas se está a falar.
Ora, parece-me que tudo isto é um exagero pegado. Tanto o Sporting como Portugal vivem actualmente períodos bastante conturbados. Ambos já tiveram tempos na sua história em que, ao contrário daquilo que hoje vemos, foram grandes conquistadores (talvez mais um do que o outro, mas isso não interessa nada), mas daí a que a situação de um seja confundível com a do outro, só por maldade alguém o poderá pensar.
Quer dizer, tirando o facto de, neste momento, tanto um como o outro, estarem a ser dirigidos por quem não percebe nada do assunto mas que, teimosamente, continua a aplicar a mesma receita, apesar de toda a gente (incluindo quem os elegeu) já ter percebido que assim não se vai a lado nenhum. Ah, e que não se demitem por estarem convencidos do excelente desempenho que estão a ter, claro.
Pronto, e tirando também o facto de estarem ambos falidos e nas mãos de bancos. E que, com o desespero provocado pelas contas ruinosas, terem ido os dois procurar investidores à China. E que até, para terem direito aos pagamentos do organismo europeu que os tutela, tiveram que se endividar ainda mais. E que, apesar disso, tanto um como o outro tiveram um desempenho desastroso nos encontros europeus que tiveram. Agora, de resto, o que é que uma tem que ver com a outra? Nada.
Pronto, já agora tira-se também o facto de que, sempre que anunciam um novo desaire, as culpas vão direitinhas para uma equipa de três elementos, que, em grande parte das vezes, é mais um bode expiatório que outra coisa. E que, em ambos os casos, lá aparece um pobre coitado em frente às câmaras a dizer: “Temos que levantar a cabeça. Demos bons indicadores de estarmos a melhorar e queremos mostrar a todos que estamos numa fase ascendente. E pedimos que acreditem no nosso trabalho…”
Ah, e esquecendo que, talvez (talvez), tanto num caso como no outro, depois de investirem na formação de novos profissionais, em vez de os rentabilizarem lá dentro, lhes abrem a porta de saída porque não sabem tirar proveito deles e apenas pensam no lucro imediato, dando a outros a ganhar imenso com os conhecimentos que pagaram para esses profissionais possuírem. Já para não falar nos avultados investimentos que ambos fizeram em activos que, apesar de caríssimos, pouco ou nenhum proveito lhes deram para além de contas para pagar no futuro.
E já que aqui estamos, tirando também o facto de que os locais onde se reúnem estarem cada vez mais vazios por dentro e mais cheios por fora, com os adeptos de ambos à espera do lado de fora para atirarem pedras e insultos em vez de aplausos e elogios.
De resto, sinceramente, como qualquer pessoa vê, uma coisa não tem mesmo nada que ver com a outra. É que nada de nada. Agora uma coisa é certa. Apesar de a situação de um ser completamente diferente da do outro, a solução para os problemas de cada um (ou pelo menos a solução para os maiores, vá) está mesmo à vista no outro. Deixo só aqui dois exemplos para se perceber o potencial da coisa. O Sporting podia passar a transportar os seus jogadores para os jogos em carros de alta cilindrada. Toda a gente sabe que é mais difícil acertar com pedras em carros rápidos e baixinhos do que em autocarros. E a Assembleia da República podia mandar instalar bancos de cores aleatórias no hemiciclo. Dava logo a ideia de que estava sempre cheio de ministros e deputados, todos muito preocupados com o estado do país e a trabalhar para o melhorar.

PS: este foi o segundo texto que escrevi no P3 e que podem ver também aqui. Sim sim, é verdade. Depois da primeira remessa de idiotice, deixaram-me continuar...

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

De volta aos assuntos sérios


Depois de todo o glamour e luxo em que a minha vida se tornou depois da minha primeira..., vamos lá, "crónica" política no P3, está-me a ser difícil voltar a concentrar naquilo que tenho que fazer.
E perguntam vocês: porque agora é só admiradores à porta do prédio ansiosos por um autógrafo e por me rasgar um pedaço de roupa para vender no ebay? Porque o Pacheco Pereira me ligou para lhe dar umas dicas para as crónicas dele? Porque o Passos Coelho mandou dois gorilas raptar a Maria como forma de me ameaçar para parar com as crónicas?
Podia ser, sim. Mas, por incrível que pareça, não. Está-me a custar concentrar porque para escrever aquele primeiro texto passei uma noite em claro e, agora que ando a pensar no segundo, voltei a não pregar olho, como diria o Camões.
Para alguém como eu, que apenas precisa de sentir a cabeça ligeiramente apoiada para dormir, não está a ser fácil.
Mas enfim, o mundo das grávidas que querem desenhos nos moldes de gesso que mandaram fazer no pico da gravidez não se compadece de noites mal dormidas. Há toda uma economia que depende desta actividade e eu não quero ser acusado de não contribuir para a felicidade de quem se prepara para a natalidade.
Sim, porque, embora possa não parecer, é uma actividade que contribui para a felicidade de muita gente: para a do bebé, porque o vai ajudar a perceber mais tarde como era a barriga da mamã quando ele lá estava dentro, para a da mamã, porque passou 9 meses a ver a barriga crescer com uma nova vida lá dentro e para a do papá, especialmente se o molde da barriga apanhar as mamoc...
Pronto, acho que já deu para perceber.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Um idiota à conquista do Mundo


Não sei se já aqui tinha dito, mas tenho sérios planos para conquistar o Mundo. É assim uma mania que tenho. Deu-me para isso, pronto. Bem sei que este meu desejo não agrada a toda a gente (a Maria, por exemplo, preferia que eu conquistasse a vontade de fazer mais tarefas domésticas...) mas o que tem que ser tem muita força.
Assim, neste caminho para esse objectivo final, e já depois da histórica conquista de não ter que ir ver o último filme do Twilight (a minha Maria vai com umas amigas, mas deixo aqui os meus pêsames a todos os homens que sofrem com este flagelo...), conquistei um cantinho no P3, o site do jornal Público dedicado à população mais jovem. Nesta primeira vez que as minhas palavras de idiotice eterna lá ocupam espaço, esforcei-me por falar a sério. Mas felizmente, desisti a tempo. Seriedade não é para mim.
Mas não pensem que isto de conquistar o Mundo é um caminho feito só de facilidades e felicidades. É regra da casa do P3 que os textos sejam acompanhados de uma foto do autor e, logo por azar, não tinha nenhuma à mão do Brad Pitt para enviar e tive mesmo que mandar uma minha (o que é aquilo?...).
Mas bem, se tiverem a paciência de passar por lá, ponham lá um "gosto", caramba. É que senão, isto de conquistar o Mundo torna-se complicado.
Ah, é verdade. O artigo está aqui.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A epistemologia da metafísica da loucura da sociedade


A convite expresso de familiares que me são próximos, um dos quais profundo conhecedor da nobre arte teatral, fiz o obséquio de me deslocar, na companhia de minha esposa, há já um dia atrás, ao Teatro da Politécnica, com o objectivo de assistir à peça de teatro "A Farsa da Rua W", levada à cena pela excelsa Companhia Artistas Unidos.
A peça retrata a loucura de um agregado familiar, constituído pelo patriarca e dois descendentes directos do sexo masculino, que, dia após dia, representam teatralmente a alegada história de vida do progenitor. Apenas um dos filhos se desloca à rua diariamente a fim de fazer compras de bens alimentares, sendo que no restante tempo, toda a unidade familiar se remete ao asilo dentro da própria habitação.
Como o respeitoso leitor já terá, por certo, percebido, a peça retrata a insanidade que se pode instalar no subconsciente de cada indíviduo causada por um passado pouco dignificante e as implicações que tal facto pode trazer à vida de terceiros, nomeadamente no que à capacidade de enfrentar a sociedade como um todo diz respeito.
No que toca à peça propriamente dita, a primeira e inolvidável referência terá que ir para os profissionais da representação dramática, vulgarmente conhecidos como actores. Um desempenho, a todos os níveis, excepcional. A capacidade interpretativa e a forma de se moldarem a personalidades diferentes é assinalável.
Relativamente à encenação, apenas duas notas de destaque. O fim comete a proeza de elevar o nível de toda a peça a um ponto muito elevado, chegando mesmo, a levar o próprio espectador a reflectir sobre a metafísica da sua condição enquanto ser humano e a epistemologia do relacionamento intergeracional. Já o início, com destaque para os primeiros 40 minutos, provoca a mesma sensação aos espectadores que a condição climatérica experimentada pelo território após longos períodos sem precipitação ou humidade atmosférica. Se o início fosse um pouco menos prolongado, por certo o prazer proporcionado pela representação recepcionado pelos espectadores seria superior.
De qualquer das formas, é uma peça excepcional que deixará, certamente, a sua marca indelével sobre o espectador. Eu ainda não tive oportunidade de descobrir a marca que tal acontecimento deixou sobre a minha pessoa, uma vez que me sinto perfeitamente normal e igual a mim próprio, na posse de todas as minhas capacidades, quer físcas quer metafísicas.
Mas quem sabe se, a seu tempo, o descobrirei.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O Phelps dos comboios


Recordo-me, muitas vezes, de um colega meu me dizer que tirou muitos cursos durante o tempo de estudante em Coimbra mas que, aquele em que tínhamos que ir às aulas e fazer exames não tinha sido, de longe, o mais importante.
E eu não podia estar mais de acordo. Tirei lá 3 ou 4 cursos de uma extrema importância para a minha vida, para além daquele em que tinha que jogar às cartas todos os dias no bar da Faculd..., quer dizer, para além daquele em que tinha que ir às aulas todos os dias.
Por exemplo, um dos cursos que tirei paralelamente chamava-se "1001 Desculpas para chegar tarde a Casa dos Pais". Nesse, devo dizer, não tive grandes notas. O problema é que esse curso está bastante desactualizado porque, ao que parece, os pais das pessoas em geral também o frequentaram, e já com, exactamente, as mesmas cadeiras. É o mal dos programas das cadeiras não serem revistos...
Mas, para além desse, tirei outros onde me safei melhor. Por exemplo, no "Curso Avançado da Prática do Sono dentro de um Transporte Público que Circule sobre Carris" fui um dos melhores. Aliás, passei com distinção nas cadeiras "Sono em pé", "Sono com alguém insistentemente a falar connosco" e "Despertar e sair do transporte quando este já está a arrancar II - nível avançado". Ok, nesta tive boa nota só no recurso, porque na primeira tentativa fui parar à última estação no último horário do comboio. Foi o que deu a confiança que ganhei depois de tirar 19 valores a "Sono com uma velhota de cada lado no banco, a conversarem uma com a outra sobre as galinhas que tinham acabado de comprar na feira e que seguravam alegremente pelas asas."
Ora, actualmente, anos após ter tirado este curso, tive que voltar a utilizar o Metro à noite. Isto dos cursos é mesmo assim. Na altura em que os tiramos ficamos a pensar o que raio vamos fazer com eles, mas, anos mais tarde, o destino trata disso.
E, já se sabe, por muitos anos que passem, o corpo tem "memória muscular". (foi o Michael Phelps que o disse, ao ganhar tudo nos Jogos Olímpicos, mesmo depois de um ano inteiro a fumar ganzas, e se ele o diz é porque é verdade) Sim, aquilo que eu quero dizer, basicamente, é que sou o Phelps do Sono em comboios.
Numa das primeiras vezes, bastou-me entrar numa carruagem 5 minutos depois das 22h00 para a magia acontecer. Demorei um pouco mais que 1 minuto e 23 segundos e acordei 2 estações antes da minha mas, a capacidade de adormecer mantinha-se intacta. Com mais uns treinos e a coisa ficava no ponto.
Dias mais tarde, Metro às 23h20. O que mais pode uma pessoa querer? 48 segundos entre a entrada, o sentar e o adormecimento e... o excesso de confiança novamente a acontecer. Mais uma vez, a confiança daquele histórico dia em que, pela manhã, desafiado por duas velhotas com apenas dois dentes cada e galinhas a soltar penas pelo ar nas mãos, me tinha afirmado ao mundo como um dos melhores na arte de adormecer nas situações mais difíceis e a acordar delas com toda a leveza. Perturbado por essa sensação, acordei quando senti que o meu rabo tinha parado de me embalar (uma das técnicas que se aprende no curso), levantei-me na carruagem, saltei no meio das portas com elas já a apitar, olhei em volta para procurar a saída quando vi que... estava 5 estações antes da minha com 2 empregados de limpeza da estação à minha frente aparvalhados a olhar para mim. Sem perder tempo, virei costas para tentar voltar a entrar mas a carruagem, sem piedade, arrancou a toda a velocidade.
Voltei a virar-me e lá continuavam os dois empregados especados. Estive quase quase para lhes perguntar:
"Sabem se ainda vem mais algum Metro? É que a esta hora está a dar o "The Voice" na tv por isso não devo conseguir convencer a Maria a vir buscar-me..."
Mas eles estavam com aquele olhar que dizia "Este deve achar que é o Phelps do Sono em comboios..." e eu não quis dar parte de fraco.
Porque eu sou o Phelps dos comboios. Só preciso é de mais um bocadinho de treino. É só isso.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

As coisas têm que ser bem feitas de início


Aqui há dias, tive que tratar de uma licença num organismo público. Sim. Vem aí relato de diversão e da boa.
Liguei para o dito organismo e informaram-me que podia tratar da licença no site deles. Inclusivamente, só precisava de fazer um seguro e depois preencher um formulário no site. Ah, e pagar a licença, claro. Achei que eram facilidades a mais e voltei a ligar. Como foi outra pessoa que me atendeu o segundo telefonema, a coisa já tinha um prazo e o seguro já tinha uns parâmetros especiais. Com medo que a coisa se complicasse ainda mais, resolvi não voltar a ligar.
Tratei do seguro que me pediram e, cheio de confiança, fui ao formulário do site. Para grande surpresa minha, afinal também precisava de me registar noutro organismo público. Por facilidade, vou-lhe chamar organismo n.º2. Fui, então, ao site do organismo n.º2 para me registar mas como precisava de um código, liguei para lá. Agradeceram o meu contacto e informaram-me que esse código era fornecido no organismo n.º3.
Respirei fundo, agradeci e liguei para o organismo n.º3 para pedir o tal código. Atendeu-me uma senhora muito simpática que me informou que a senhora que sabia dizer os códigos estava todo o dia em formação e pediu-me para ligar no dia seguinte. Pedi-lhe que me ajudasse pelo amor da Santa e a senhora respondeu-me:
"Olhe, eu não tenho a certeza de qual é o código. E não lhe vou dizer um sem ter certeza porque as coisas têm que ser bem feitas logo de início, não acha?" Meio aparvalhado, nem soube o que responder e desliguei.
No dia seguinte liguei para o organismo n.º3 e a senhora, que deu para ver perfeitamente que tinha muita formação, indicou-me o código. Agradeci e voltei ao formulário do organismo n.º2. Inseri o código e obtive um relatório. Com o relatório do preenchimento do formulário do organismo n.º2, voltei ao formulário do organismo n.º1. Inseri a gaita do relatório e passei ao campo seguinte do formulário, embalado para a obtenção da licença.
Quando li o que me era pedido no campo seguinte, juro que se não estivesse a Maria a olhar, tinha deixado cair uma lagrimita. Agora tinha que inserir mais um certificado que se obtinha no organismo público n.º4. Mas a culpa era minha. Eu sabia que devia ter ligado, no mínimo, 3 vezes para o primeiro organismo. Quem me manda ser preguiçoso...
Fui ao site do 4º organismo e, sorte a minha, também dava para pedir esse certificado online. Mais um preenchimento de um formulário, mais um pagamento e a esperança renovada de conseguir a porra da licença.
Voltei ao formulário do site do organismo n.º1, decidido a completar a treta do preenchimento e receber a licença. Inseri os dados do certificado do organismo n.º4 mas o formulário do organismo n.º1 não detectava nada. Voltei ao site do organismo n.º4 para perceber qual o problema e foi aí que as sábias palavras da senhora do organismo n.º3 ecoaram na minha cabeça - "as coisas têm que ser bem feitas logo de início"... Afinal o certificado do organismo n.º4 tinha um prazo de uma semana para ser emitido e para ninguém dizer que a administração pública é desorganizada, essa semana até estava dividida em 5 etapas. A primeira era o preenchimento do formulário e a última era a aprovação. No meio até uma etapa para ouvir as queixas do público havia... O curioso é que tive que o pagar logo.
Mas uma coisa é certa: às tantas uma pessoa precisa mesmo de parar uma semana para não perder o juízo. No meio desta insanidade toda, o que me alegra é ouvir os políticos, ano após ano, governo após governo, a gabarem-se do quanto diminuiram a burocracia e simplificaram todos os processos.
A todos eles o meu muito obrigado.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Para que não haja desculpas


Isto hoje está de um jeito que parece o Natal antecipado, só que em vez de ser um velhote que vem do Norte, com umas roupas esquisitas a quem se pede presentes, é uma velhota que vem do Norte com umas roupas esquisitas a quem se pede presentes. Não há muita diferença. Quer dizer, talvez o buço da velhota não esteja tão grande como o do velhote mas de resto é igual.
E até o facto de as pessoas se chatearem com a velhota, faz lembrar o velhote. Eu lembro-me, quando era miúdo e dizia aos meus pais o que gostava que o Pai Natal trouxesse, que nem sempre a coisa corria como eu esperava. E a resposta dos meus pais era sempre: "Se calhar não explicaste bem..." Era o problema dos intermediários. Eu dizia aos meus pais, eles nem sempre se explicavam bem ao velhote e quem não recebia o que sonhava era eu. (Caramba, seria assim tão difícil perceber o que era um tractor John Deere em tamanho para criança mas que desse para lavrar à mesma? Ou uma bicicleta com um side-car, acelerador e um sofá no sítio do selim? Ou... desculpem, entusiasmei-me...) E aqui é tal e qual: quem manda na malta não está a perceber o que nós queremos da velhota. É que só pode ser isso. E depois são as desculpas do costume: "Eu pedi-lhe o que vocês estão a pedir e ela não quer dar. Ou então foram vocês que se explicaram mal. A culpa não é minha. Eu falei-lhe grosso e tudo. Sim, sim. Que eu sou muito mau."
Por estas e por outras é que se inventaram as cartas ao Pai Natal. Assim, não restam dúvidas. Eu, vou aproveitar para escrever aqui o meu pedido à velhota, que eu sei que ela vem cá ao estaminé, e assim sempre poupo o dinheiro do selo:
"Querida Velhota: dava jeito que desses aí um jeito nas taxas de juro que a malta por aqui anda a passar mesmo mal e não merecíamos. Tu sabes bem que grande parte da culpa é de um tipo que agora fugiu para França. E para além do mais, já és tão rica que te fica um bocadito, mas só um bocadito, mal quereres enriquecer à custa de quem já não tem quase nada. Mas o que eu te queria pedir mesmo era que não viesses vestida com decotes como da outra vez. O mais certo é depois apareceres em todos os jornais e telejornais e, pior do que não ter dinheiro e trabalho é ter pesadelos e não conseguir dormir. Pode ser? És uma querida. E fofinha, também. Beijinhos. PS: Se tiveres por aí algum tractor em tamanho de criança que não precises, diz. Tem é que ser John Deere."

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Perder a inspiração devia ser caso de ir às Urgências


Comigo, a coisa começa, quase sempre, assim:
"- Tiago, precisava que me fizesses umas ilustrações engraçadas e divertidas."
"- Engraçadas e divertidas? Esquece. Não contes comigo para isso. Eu só sei fazer coisas idiotas. Tá bem."
Desta vez, a vítima foi, novamente, a mysugar. Depois de me pedirem desenhos de monumentos todos bonitinhos para embrulhar tabletes de chocolate, lembraram-se que talvez fosse boa ideia pedirem-me desenhos sobre o Natal para o mesmo efeito. O resultado são três desenhos, como dizê-lo... ah, idiotas.
Mas o mérito, como não podia deixar de ser, é da Maria. Por vezes, quando uma pessoa trabalha durante muitas horas no mesmo sítio, as ideias começam a escassear e torna-se necessário desanuviar, em busca da inspiração perdida. Quando me pedem desenhos sobre o Natal e eu não consigo ir além do Pai Natal entalado na chaminé, ou do sobrinho a receber um par de meias da tia totó, sei que estou mesmo a precisar de dar uma volta. Por sorte, tenho a Maria, que, quando me vê a desesperar, pega em mim  e me leva a dar uma volta. Desta vez, levou-me a um sítio onde 10 minutos de estadia correspondem a 10 anos de uma torrente de inspiração gratuita que entra pelos olhos, ouvidos e nariz.
Sim, estou a falar das Urgências do Hospital, mais concretamente da sala onde estão os casos menos graves - os da pulseira verde. Aquilo é um maná de ideias e eu até acho que a solução dos problemas financeiros do Serviço Nacional de Saúde podia passar por vender minutos nas Urgências a pessoal que só quisesse ter ideias novas. Desde a rapariga que, à porta da sala, está aos berros com o cunhado a chamá-lo de atrasado mental porque não vai buscar a irmã, ao médico com a camisa aberta até meio e cera de surfista no cabelo à velhota que passa à frente de toda a gente porque tem um penso de plástico que lhe causa alergia na mãozinha mas que "agora os médicos insistem em usar por ser mais barato...", tudo aquilo transmite inspiração.
Não fosse a Maria ter-se sentido mal, e este boneco, que fiz na sala de espera enquanto um médico com ar de hippie a atendia, nunca teria aparecido.
É nestas alturas que sabemos que temos a pessoa certa ao nosso lado.
Ah, e sim, já está tudo bem com ela! ;)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A minha bicla tem mais utilidades que a maioria


Nunca percebi muito bem o porquê do nome "bicicleta". Tudo bem que é um nome que dá logo a entender que se trata de uma coisa com duas rodas mas não dá a ideia da dimensão total do objecto. Agora, se fosse "máquina de tortura para humanos" ou "coisa que faz os gajos arrependerem-se amargamente do seu orgulho masculino idiota", acho que toda a gente perceberia mais facilmente que se trata de um veículo de duas rodas, sem motor e que tem um banco minúsculo capaz de deixar qualquer homem a falar fininho e incapaz de se sentar durante dois dias por cada meia hora de utilização. E onde a forma de se movimentar é pedalando, vá. (não sei se esta parte será muito importante, mas pronto).
Aqui há uns tempos, resolvi trazer a bicicleta do meu irmão, que estava em casa dos meus pais, para minha casa. Ele não a usava (só mais tarde percebi que "Ah e tal, vivo a milhares de quilómetros e não dava jeito levá-la comigo..." era uma desculpa esfarrapada.) e eu tinha grandes planos para ela. Curiosamente, depois de a utilizar uma ou duas vezes, cheguei à conclusão de que ficava muito melhor a enfeitar o corredor. Dá um certo ar de desportista a um gajo quando cá vem alguém e dá jeito para desbloquear conversas. Para não dizer que tem montes de sítios para pendurar coisas. Pena que nem toda a gente que aqui vive tenha a mesma opinião...
Apesar de já ter esta firme convicção, decidi dar uma hipótese às "bicicletas" (vou-lhes chamar assim para simplificar) e resolvi aceitar o convite de uns amigos para ir dar uma "voltita pequenita, um passeio, vá" por uns caminhos de terra batida. Eu devia ter percebido que tinha que traduzir os termos técnicos utilizados por um grupo de pessoas onde são precisos 4 dígitos para escrever o preço das bicicletas de cada um para a minha linguagem..
Mas como estava decidido, inocentemente, lá fui. E até tive direito a ir numa emprestada que, supostamente, seria a melhor do grupo. Na altura não quis dizer nada, mas duvido que fosse a melhor. Ninguém me tira da ideia que as melhores e mais caras são as mais confortáveis e, como é lógico, isso vê-se no tamanho do selim. Quanto maior, mais cara será. Se o selim for tipo sofá, então não há dúvidas - é a melhor. Aparentemente, para os tipos habitués a coisa é ao contrário - quanto mais pequeno o assento, melhor. Mas como também acham que os calções de licra são muito bons, não sei se me dou por convencido.
A "voltita" correu melhor do que eu estava à espera. Tirando ter passado metade do tempo a tentar encontrar um sítio do rabo que não estivesse dorido para me sentar, foram 30km bem passados. E o passeio foi muito bem organizado. Os meus colegas até se davam ao trabalho de ir sempre à frente, para ver se o caminho estava em condições de eu lá passar, claro. E até fingiam que não estavam cansados só para me animar.
O problema foi que nos três dias depois do passeio, em toda a casa, só não me custava sentar num determinado sítio... (que por acaso tem um bidé ao lado e um lavatório à frente)
Quando esquecer o trauma, vou dar uma hipótese ao cabide com rodas que tenho no corredor. Mas já não me deixo enganar. O segredo está numa boa preparação e num bom equipamento. E a mim já ninguém me engana sobre o que vestir.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Há sempre uma linha


Há uma linha que separa o cansaço intelectual da insanidade mental e, penso eu, cada pessoa saberá onde traça a sua. Eu sei precisamente quando ultrapasso a minha. E é quando me sento no sofá, ligo a televisão, está a dar o Glee, uma série sobre estudantes do secundário que falam uns para os outros a cantar, e eu aguento mais de 10 minutos sem mudar de canal. Hoje estive 12 minutos e 24 segundos a ver um gajo a cantar com voz de falsete porque levou pancada dos colegas da escola (o falsete deve ser por lhe terem acertado num certo sítio) e não fosse ter baba a escorrer-me da boca, acho que ficava a ver aquilo até ao fim.
Felizmente não atinjo este ponto de exaustão muitas vezes. Mas quando tenho trabalhos para entregar que me obrigam a ficar fechado em casa durante uma semana, já sei no que é que vai dar. O problema é quando uma pessoa ignora os sintomas de aviso. Por isso, e como já vou tendo alguma experiência no assunto, vou deixar aqui uma lista de sintomas para que, quem tiver que ficar muito tempo fechado em casa, ou no escritório, a trabalhar, possa identificar e parar de imediato o que está a fazer, para não ter que passar por sofrimentos como aquele que eu passei.
Então, cá vai:
1 - No papel trabalha-se com lápis, caneta e borracha. No computador é com o rato. Não vale a pena desesperar porque fecharam o caderno onde estavam a desenhar ou a escrever e se esqueceram de carregar no botão "Save". A sério, o caderno não tem. Assim como também é escusado procurar na folha de papel o botão "Undo". Isso é no computador. No papel usa-se a borracha.
2 - O que aquece a comida é o microondas. O frigorífico arrefece-a. Não vale a pena por um prato de comida no frigorífico e depois ir à procura do botão para regular o tempo na porta do frigorífico. Ele não está lá.
3 - Quando se está fechado em casa, por incrível que pareça, o tempo continua a passar. Não vale a pena discutir a data do dia em que se está com uma pessoa que esteja a fazer a sua vida normal. O mais certo é não se ter razão.
4 - Se o mastigar de salada de alface macia da Maria, ao jantar, mais parece o barulho de um exército a marchar, respirem fundo. Como no fim do dia os olhos já mal conseguem ver, a audição fica mais apurada. Mas, na verdade, aquilo mal se ouve. A sério. Pronto, ouve-se um bocadinho, mas não é caso para dramas.
5 - Apesar de se passar o tempo em casa, tomar banho continua a ser importante. Se, por um segundo, o pensamento "Se calhar nem vale a pena tomar banho, nem vou sair de casa!" ocorrer, o caso está a ficar grave.
Com a identificação destes sintomas, só chegam ao Glee se não lhes derem importância. Ou se forem mulheres. Ou se... pois, nada.
Mas se lá chegarem, sejam fortes, desliguem a televisão e rezem. Eu sobrevivi. Mas não garanto que todos consigam.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Quem sai aos seus...


Há dias, numa viagem num eléctrico de Lisboa, comentei com uma pessoa que ia comigo que me dava a ideia de que havia cada vez mais carteiristas nos eléctricos. Ao ouvir o meu comentário, uma senhora de aspecto simpático, dos seus 70 anos mas muito bem vestida e com a maquilhagem toda no sítio, diz-me:
"Ui, nem me diga nada!"
Sorri para a senhora, que não conhecia, e disse-lhe:
"Pois é. Falta aqui um PSP para pôr ordem nisto."
E pronto, pensei eu. 90% das conversas ocasionais com pessoas que não conhecemos terminam ao fim de duas falas e, basicamente, só se dizem lugares comuns, por isso, esta estava despachada. Sorri para a senhora à espera que ela dissesse qualquer coisa do género "Isso é que era. Isso é que era..." (duas vezes para deixar a ideia no ar) e a conversa terminaria ali.
Em vez disso, foi como se eu, ao dizer aquilo, tivesse arrancado uma rolha da boca da senhora porque ela começou a jorrar conversa por todo o lado, que eu mal tempo tinha de amparar com os meus "Pois é, pois é..." (foi aqui que percebi que dizer a mesma coisa duas vezes só tem o efeito de deixar a conversa no ar se a pessoa com quem estamos a falar nos ouvir a dizer isso...)
Fiquei a saber quantos são os carteiristas, onde se encontram, as nacionalidades, que têm um advogado muito bom, que são ricos, que pôem criancinhas a trabalhar para eles ("O quê, você não viu isso no telejornal?? Deu ontem!") e que se vestem todos muito bem. Ah, e que as mulheres também são muito boas no gamanço. E que andam polícias à paisana nos eléctricos. Só não fazem é nada.
Até aqui tudo certo. Está bem que levei um puxão de orelhas por não ter visto o telejornal, mas até tive direito ao compacto mensal em 15 minutos. O pior foi quando a senhora, fazendo olhos tristes, me diz:
"Isto está muito mau para vocês..."
Oi? Tu queres ver que me conheces e eu não faço a menor ideia de onde? Esforcei-me por perceber se a conhecia mas, como não chegava a nenhuma conclusão, fiz aquilo que me competia e, tentando evitar males maiores, teimei:
"Pois é, pois é..."
Mesmo assim, perante a minha insistência, a senhora responde:
"O meu filho está no Koweit. Mas pronto, como está com a família lá, está bem."
Aquilo estava a ficar complicado. Às tantas, eu até o filho dela conhecia. Este tipo de coisa está sempre a acontecer-me e temi que a próxima fala dela fosse: "Então e a Maria, está tudo bem com ela?" Pode parecer difícil de compreender mas para quem tem mais de 30 tios e tios-avós e outros tantos primos que só vê nos casamentos e funerais, estas coisas fazem parte do dia-a-dia. Eu tinha que tentar perceber o que é o que o tipo lá fazia e, se possível, o nome dele. Num arriscado golpe de asa, disse-lhe:
"Pois, mas se está a trabalhar já não é mau. E o que é que ele está lá a fa..."
Mas a mulher era esperta e interrompeu-me logo. Às tantas era mesmo minha tia-avó em 4º grau e devia estar, também ela, a aperceber-se disso. Em vez de continuar a falar sobre o Koweit, passou ao contra-ataque e perguntou-me:
"E você? Ainda está a estudar ou já trabalha?"
Mal tive tempo de lhe responder e cheguei à minha paragem. Despedi-me da senhora com um "Até à próxima." e fiquei à espera de ouvir: "Dá cumprimentos meus à Maria e aos teus pais." mas nada.
E foi aí que percebi que ela devia ser mesmo uma das minhas tias mais velhas. Todo o comportamento dela era típico dos membros da família que se vêem menos vezes - reconhecemos quem é da família, tentamos perceber quem são sem ir directamente ao assunto mas no fim não gostamos de dar parte de fracos se não tivermos tempo de nos lembrarmos do nome dos membros com quem estamos a falar.
Ou então sou só eu que sou assim e nesta altura tenho uma tia-avó em 4º grau chateada comigo porque não a reconheci. Bolas...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Join2Write (and 2 draw!)


Fico sempre muito surpreendido quando sou convidado a participar em projectos interessantes. Habitualmente, sou convidado a participar em coisas que o são muito pouco. Ainda há bocado fui convidado a fazer o jantar cá de casa e, não é que não seja interessante ter jantar para comer mas, não se pode dizer que seja daqueles convites muito entusiasmantes. Assim de repente, consigo lembrar-me de um ou dois convites que, sendo feitos pela mesma pessoa que me fez este do jantar, poderiam ser bem mais engraçados... Mas adiante.
O projecto interessante para o qual fui convidado é o Join2Write. A ideia partiu da Susana Gonçalves e, basicamente, consiste em fazer um livro onde cada capítulo é escrito e ilustrado por um escritor e um ilustrador diferente, sendo que os escritores têm que se candidatar para entrar e os ilustradores são convidados (fait attention!). É um bocado como aqueles jogos parvos que se faziam na escola, onde cada aluno da turma tinha que contribuir com uma frase para uma história que se ia contando à medida que se ia pensando, mas "com estilo".
Cada vez que um novo capítulo é escrito, é publicado no site do projecto, ficando o livro cada vez mais completo. No capítulo IV, em breve, deve aparecer um desenho como ali o de cima, mas já estão 14 capítulos publicados. De acordo com o calendário, ainda antes do Natal o livro deverá estar totalmente escrito. A história está a ficar bastante intrincada e, como nunca é a mesma pessoa a escrever o capítulo seguinte, o enredo pode tomar rumos inesperados. Quer dizer, pelo menos até ao capítulo IV foi assim.
O resto estou a contar ler quando for editado em papel. Sim, que se a coisa correr como esperado, o livro é editado e a minha conta bancária vai ficar tão cheia que até vai deixar de fazer eco de cada vez que lá cai um depósito.
Bem, pelo sim pelo não, acho que vou lá passar de vez em quando para ler o resto da história. É que estava a ficar engraçada e, como a edição em papel pode demorar muito, depois tenho que voltar a ler os primeiros 4 capítulos.
Posso ter coisas em que sou parecido com um elefante (brincalhão...), mas a memória não é uma delas.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Há males que vêm por bem


Eu, que nunca ganho nenhum prémio em passatempos (talvez por nunca participar em nenhum), estava, aqui há dias, a vegetar no facebook quando vi um passatempo do jornal Sol a oferecer 20 bilhetes duplos para a ante-estreia do filme "Astérix ao serviço de Sua Majestade". Para se ganhar bastava enviar uma frase por mail, que vinha no próprio anúncio, e ser dos primeiros 20 a fazê-lo.
O post já trazia 10 comentários quando lhe pus a vista em cima mas, ao lê-los percebi que ainda tinha uma hipótese. Era pouco provável que as pessoas que se deram ao trabalho de comentar para dizer que não concorriam porque não podiam ir no dia da ante-estreia, ou porque para o interior do país nunca há prémios e que o jornal é uma treta, tenham concorrido.
Apesar de céptico, lá enviei o dito mail. Mesmo que não ganhasse, não custava nada e, era o mínimo que eu podia fazer pelo Astérix. Afinal de contas, o Astérix fez muito pela minha pessoa. Pela minha e pela dos meus pais e irmãos, que quando eu fazia anos, tinham nos livros da colecção uma certeza de que eu, não só ia ficar satisfeito, como me ia calar, pelo menos na meia hora em que estivesse a devorar o livro. E isso tinha a sua importância.
Ao longo dos anos, tornei-me um devoto da Asterixologia (com a vantagem de, aqui, não ter que comer a placenta de ninguém...). Cheguei a poupar durante um mês até arranjar 600 paus para comprar uma revista de jogos de computador, para sacar o poster do Astérix e o afixar no guarda-fatos do meu quarto. Delirei com as histórias do Goscinny e chateei-me com quem criticou as do Uderzo, que passou não só a desenhar como a escrever, para a série não morrer. Desejei tanto ir ao Parque Astérix em Paris como me irritei com a porcaria dos dois primeiros filmes, onde a inteligência do humor dos livros foi reduzida a simples idiotice no cinema. Mas se sai um filme novo, eu tenho que ver, nem que seja para dizer mal.
E bem, ao fim de uma hora, lá recebi a resposta do Sol a dizer que, sim senhor, eu tinha ganho dois bilhetes para... sábado dia 13 às 10h30.
É incrível como uma pessoa consegue criticar um gajo qualquer que se dá ao trabalho de comentar no post do facebook do concurso que não concorre porque não tem disponibilidade para a hora da exibição mas não é capaz de verificar se, ao contrário desse gajo, pode ir antes de concorrer. E não. Eu já tinha coisas combinadas e não podia ir mas tinha acabado de ganhar a porra de dois bilhetes para um filme que queria mesmo ir ver.
A solução era tentar oferecê-los a alguém. Falei com a família, com amigos e nada. Ninguém podia ir. Ainda assim quis ir levantar os bilhetes ao Colombo. Podia sempre tentar oferecê-los aqui no estaminé ou emoldurá-los e pendurá-los ao pé do poster. Dei-me ao trabalho de lá ir às 22h, cansado mas determinado, com a Maria em casa a pensar que se fosse pelo Twilight nem do sofá me mexia. Quando lá cheguei, fui atendido por um rapaz, com uma t-shirt do Astérix, que não sabia como é que se davam bilhetes para a ante-estreia. O rapaz chamou a colega, que também não sabia, mas sabia chamar a outra colega, que fingiu que sabia mas não se lembrava. Sabia que os bilhetes de oferta para a ante-estreia não se vendiam, mas o seu vasto conhecimento ficava-se por aí. Por sorte, estava uma colega a varrer o chão que, ao ver ali tanta gente, resolveu ser bondosa e dizer que os bilhetes para ante-estreias só são distribuídos imediatamente antes da exibição.
Só antes da exibição? Bolas... Eu que queria honrar um ídolo da juventude, estava-me a sentir um miserável.
Mal cheguei a casa, para acalmar a dor que me atormentava, fui ver o trailer ao youtube. E, mais uma vez tive que dar razão a quem diz que nada acontece por acaso. Afinal, em vez de estar a deixar ficar mal o Astérix, eu estava era a homenageá-lo. Isso mesmo. Ao ganhar dois bilhetes para a ante-estreia e não podendo ir nem oferecê-los a alguém, eu poupei um sofrimento atroz a duas pessoas. (o filme parece fraquíssimo e a dobragem portuguesa dá-lhe um toque especial...)
Pelo menos até ao Natal, quando passar na televisão. E ao Carnaval, quando voltar a dar. E à Páscoa quando já estiver toda a gente farta. E ao Natal do próximo ano. Hummm, quer dizer, talvez aí seja mesmo o Twilight e, talvez, quem sabe aí, eu vá dar valor ao filme.
Nerd do Astérix, quem, eu? Nah...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

As professoras ficam sempre com os totós...


Aqui há dias, estava eu muito bem a navegar na net no sofá da sala quando me apercebo que, ao meu lado, a Maria estava lavada em lágrimas. Tentei perceber se se teria aleijado no sofá ou se seria pela imensa e transbordante felicidade e rejubilo de eu estar ali ao lado dela mas, ao olhar com mais atenção, percebi logo qual era o problema. E não tinha nada a ver comigo. Era mesmo grave. A Maria estava prestes a perder uma boa amiga.
Sim, isso mesmo. A Maria tem um grupo de amigos que ia num avião que se despenhou no meio da floresta, e uma delas não resistiu aos ferimentos. Felizmente, como eram todos médicos, dois ou três que estavam feridos conseguiram escapar. Até uma que tinha o osso da perna de fora escapou na boa. E outro que tinha o braço a desfazer-se ficou bom com um alfinete de dama a juntar os pedaços de carne. Os bons médicos são assim. A que esticou o pernil, perdão, a que faleceu levou com um motor em cima. Coisas da vida. O gajo de quem ela gostava esteve com ela até aos momentos finais todo emocionado. Acho que ele também gostava dela, mas preferia andar a papar as amigas. Mas isso não interessa nada porque, pelo que aprendi com esses amigos da Maria, há certas coisas que um gajo janota pode fazer que não deixa de ser janota. Já um totó... Adiante.
Ao ver a tristeza da Maria, disse-lhe para ir desanuviar com aquela família com quem ela se dá muito bem. São todos muito animados, especialmente uma colombiana, que é casada com um velhote e que é toda jeitosa. Fala é aos berros, mas a Maria precisava de ânimo.
Como esses não estavam disponíveis, foi ter com uma amiga toda divertida que vive com três rapazes na mesma casa. Ela é professora, um dos gajos é barman, outro é advogado e anda com uma jeitosa e o outro não faço ideia. Dá-me a ideia de que o barman e a professora vão ficar juntos, mas é melhor não dizer nada, não vá um motor de avião cair em cima da rapariga.
Depois de estar com eles, a Maria ficou logo mais animada e com vontade de ir ter com uma amiga que fez há duas semanas, que é mediadora de conflitos. Não é bem advogada, mas, como é jeitosa, anda a papar dois colegas advogados e não sabe com qual é que há-de ficar. Mas ela também não podia estar com a Maria. E não é de estranhar. Com a vida ocupada que ela tem...
Para mim, desde que a Maria fique mais animada, até pode convidar lá para casa um cozinheiro muito bom que ela conhece, apesar do gajo berrar que se farta e chamar nomes a toda a gente. Ela dá-se bem com ele mas ele tem é a mania. Se ele provasse os legumes da Maria até se calava, mas pronto. Ela conhece outro, que é assim meio sopinha de massa, que também cozinha bem mas ele agora anda nos EUA a ensinar os putos a comer comida de jeito e nem sempre pode. Esse farta-se de chorar e quando é assim, a Maria gosta de estar com uma dondoca inglesa, que passa a vida fechada em casa a cozinhar para a família.
O problema é que estes amigos da Maria são pessoas tão instáveis e precisam tanto do apoio dela que, depois, não tenho tempo para estar com alguns dos meus amigos. E bem que eles precisam do meu apoio.
Tenho uns que se vestem de vermelho e andam em grupos de onze atrás de uma bola mas a Maria diz que me enervo quando estou com eles. Eu digo-lhe que depois desanuvio com outros onze divertidos que se vestem de verde às riscas e fingem que também correm atrás de uma bola, mas nem assim tenho hipótese. E eu percebo. Nenhum deles anda a papar os colegas. Quer dizer, que eu saiba.
Mas isso também não é lá grande argumento. Às vezes convido uns tipos da política lá para casa mas a Maria nunca tem grande paciência. E é isso que não percebo. Se há pessoa que devia gostar deles é a Maria. Ela gosta dos amiguinhos dela que se papam uns aos outros. E não gosta destes, que nos papam a todos, todos os dias.
Até aposto que passava a gostar se eles se despenhassem no meio da floresta e levassem com um motor de avião em cima. Eu cá, também ainda não perdi a esperança de ver isso a acontecer.
E até era gajo para chorar um bocadinho.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Não foi desta que libertei o Tony Carreira que há em mim


Quando era miúdo, lembro-me de os meus pais receberem convites para irem ao salão de Bombeiros lá da terra buscar uma prenda a que tinham direito, desde que aceitassem levar com uma seca de um vendedor a apresentar os seus produtos da treta, que podiam ir desde um magnífico colchão de esponja a um conjunto de panelas reluzente. Se os produtos eram da treta, já as prendas que atraiam as pessoas eram sempre qualquer coisa do outro mundo. Só para se ter uma ideia, lembro-me agora assim de repente de extraordinários relógios de pulso e de balanças de cozinha. Tudo coisas que funcionavam sempre para cima de sete vezes. Cinco, vá. Três e não se fala mais nisso, pronto.
Ainda assim, os meus pais recusavam esses convites quase sempre, para meu grande espanto. Sempre achei que a coisa valia a pena e era do mais simples que havia. Levavam-se uns tampões para os ouvidos, batia-se uma soneca numa cadeira do salão enquanto os tipos não se calavam e, no fim, pegava-se na máquina fotográfica descartável (pessoas com menos de 20 anos poderão ter dificuldade em perceber o que é isto) e trazia-se para casa. Simples e eficaz.
Mas esta semana, tudo mudou.
Ora, sucede que fui convidado para uma dessas secas num hotel todo pipi de Lisboa. Sim senhor que tinha a sua boa dose de seca prometida, mas as prendas, oh meu Deus. As prendas eram espectaculares. Nada mais que uma caneta, um bloco de folhas e um pequeno almoço. Ou melhor, um brunch, tendo em conta que foi às 11h00. Se bem que brunch é um conceito que não domino. Nunca percebi o que é que faz de uma refeição um brunch. Se é o conteúdo ou se é a hora a que é comido. Enfim. Enigmas da Humanidade.
Mas era a oportunidade ideal para pôr em prática aquilo que eu sempre tinha idealizado em miúdo, quando os convites chegavam debaixo da porta da casa dos meus pais. Assim, à hora combinada, lá fui eu e a minha irmã mais velha ao sermão que dava direito a um monte de bugigangas e à concretização de um sonho de miúdo.
O problema foi que o vendedor que falou antes do brunch (deixem-me ser feliz...) se chamava Álvaro e, a avaliar pela forma como as pessoas o cumprimentavam, parecia ser Ministro da Economia. Esteve uma eternidade de tempo a vender a ideia de que, até à sua chegada, tudo foi mal feito e que, depois de ter posto mãos na massa, Portugal melhorou "imenso" e vai continuar a melhorar. Tudo graças a ele, claro. Tinha esperança que o totó, quer dizer, Sua. Exa., tivesse um rebate de consciência, e que percebesse que o produto que vende é a banha da cobra, mas nada.
Não lhe comprei a ideia e as prendas até foram jeitosas (a caneta deu para fazer dois desenhos durante o sermão antes de pifar e os croissants mistos e os pastéis de nata eram do melhor). Devia ter sido a concretização do sonho de menino (e a libertação do Tony Carreira que há em mim), mas não foi.
Há coisas que nos tentam vender que são tão ofensivas e irreais que nem o melhor pastel de feijão servido num guardanapo preto justificam o tempo despediçado a ouvi-las.
Os (meus) velhotes é que a sabem toda.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Receber pessoas em casa - dicas para o sucesso


Este fim-de-semana recebi cá em casa uns amigos. Como em tudo na vida, quanto mais vezes recebemos amigos, melhor as coisas correm. E desta vez, não foi diferente. Aliás, correu tudo tão bem que me sinto na obrigação de partilhar o meu vasto conhecimento nesta área. Não seria justo que, sendo eu, e a Maria vá, tão bons cicerones, as pessoas ficassem privadas deste nosso imenso conhecimento.
Para não ser maçador, deixo aqui apenas algumas dicas. O resto fica para a edição de um best-seller. Ora então, cá vai:
1 - Umas horas antes dos convidados chegarem, bebam café no sofá da sala, para variar, e façam uma nódoa valente mesmo no centro do sofá. Desta forma, não se esquecem de usar aquela capa de sofá que já tem uns anitos e que até já estava esquecida. Os convidados ficam agradados de ver que a casa não está sempre igual.
2 - Marquem o dia de receber pessoas para o dia em que o gás se acaba (sim, cá em casa ainda se trabalha com garrafa de gás). Assim, cravam logo a ajuda de um convidado e safam-se de ter que fazer a salada enquanto a vão substituir às bombas.
3 - Comprem vinho sem se preocuparem com o facto de terem deixado o saca-rolhas em casa dos vossos pais. É uma das melhores formas de mostrarem as vossas habilidades aos convidados. A minha sugestão é aparafusar um parafuso na rolha e puxar com um alicate. (as mulheres costumam ficar doidas com este número...)
4 - Usem carregadores de telemóvel do chinês e, uns dias antes da visita, deixem-nos ligados à tomada sem carregar nenhum telemóvel. Já ouviram dizer que eles rebentam se estiverem muito tempo ligados à tomada sem carregar nada? Pois sim, é verdade. O rebentamento de um carregador a meio da noite para acordar toda a gente, incluindo os convidados que estão a dormir, é uma excelente forma de cortar a monotonia própria da noite. Já para não falar nos efeitos visuais que são qualquer coisa de extraordinário.
5 - De manhã, não digam aos convidados que a água quente do banho só dura 5 minutos porque a chaminé não está a fazer a exaustão do gás do esquentador que se acumula na cozinha. Eles descobrem por eles quando apanharem um choque de água fria e ficam despertos num instante. No fim de contas, é para o bem deles.
6 - Para acabar em grande. Ponham a mesa para o pequeno almoço com a louça do costume, incluindo o açucareiro que já foi frasco de azeitonas de uma grande superficie comercial, e que ainda tem o rótulo. Mas deixem o açucareiro de verdade, aquele que custou uma pipa de massa, à vista de toda a gente. Primeiro para as pessoas saberem que os cicerones são pessoas com personalidade e, depois, porque proporciona sempre bons momentos de conversa. "Porque é que pões o açúcar aqui? Tens ali um açucareiro..." O problema, nesta fase, pode ser convencer os convidados de que o açucareiro que compraram é mesmo dificil de usar e que o problema não é cromice nem falta de jeito.
Mas atenção. Esta dicas são para ser seguidas à risca e com todo o cuidado. Não me responsabilizo por saídas de convidados antes do tempo.
Nem por tomadas queimadas.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O mais parecido que alguma vez tive com um filho


Eu, que ainda não tive filhos, cheguei à conclusão, após uma análise muito, mas mesmo muito, cuidada das pessoas que já tiveram bebés, que ter filhos é uma coisa que: dá prazer a conceber, trabalho a gerar e uma cara de aparvalhado de cada vez que se olha para o produto final. Ah, e um medo do caraças de cada vez que alguém lhes pega, não vá alguma coisa partir-se.
Ainda só analisei esta questão durante alguns anos, por isso é natural que me esteja a escapar algum pormenor acerca do que é ter filhos mas acho que, no geral, é isto.
E foi isso tudo que senti quando a cegonha, quer dizer, o homem da transportadora, me entregou uma encomenda à porta de casa. Quer dizer, neste caso, também senti espanto por alguém estar a bater à porta e não ser o tipo da ZON que tem ar de Testemunha de Jeová. Se fosse esse ainda o convidava para beber um copo, que já somos quase família (é a pessoa que me bate mais vezes à porta, isso deve significar alguma coisa), mas o homem da transportadora só queria uma assinatura e desapareceu.
E sim, até à cara de aparvalhado tive direito. A caixa trazia 9 tabletes de chocolate com os meus desenhos, daqueles que publico aqui no estaminé, a servir de embrulho.
Fui convidado para esta embrulhada, no sentido bom da palavra, pela MySugar, uma marca de chocolates de Aveiro, que está, inclusivamente, convencida de que as vendas vão correr bem!... Ai ai...
As tabletes vão estar à venda nos Postos de Turismo de Lisboa, enoutras lojas aderentes, e eu já estou a ver como vão ser os meus próximos dias: vou ter que passar por lá, todos os dias, para ver se estão a precisar de uma limpeza, de umas festinhas, para ajudar alguém a pegar nelas ou, então, só para ficar aparvalhado a olhar para elas.
Afinal de contas, ter filhos é isso mesmo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Com 7 anos, eu acho que ainda era pior...


Maria - "Aqueles miúdos, ai ó pá. Que irritação que foi hoje! Se eles pensam que me podem faltar ao respeito nas minhas aulas estão bem enganadinhos!"
Eu - "Tem calma. É assim todos os anos. No início do ano lectivo custa-te sempre um bocadito mais. Dá-lhes um desconto. Têm 7 anos e ainda não tiveste tempo de estabelecer laços com eles!"
Maria - "Sim, mas estes miúdos, pá...São irritantes."
Eu - "Como é que eles são?"
Maria - "Oh, estão sempre a fazer desenhos nas aulas, a olhar pela janela, a conversar com o do lado e não ligam nenhuma para aquilo que eu digo. Tive que lhes mandar um berro para me ouvirem e não gosto nada. A sério, hoje venho mesmo irritada..."
Eu - "Pois, não sei..."
Maria - "Não estás a ver o estilo? São assim, tal e qual como tu! Que irritação."
Eu - "E queixas-te? Se forem como eu safas-te bem, já tens o treino todo. Olha, deixa-me só acabar este desenho e ver este programa que está a começar e já falam..."
Maria - "EU ESTOU A FALAR CONTIGO!"
Eu - "Sim, desc... desculpa..."

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pelo menos os camarões estavam bons


Este fim-de-semana fui a um casamento com a Maria. A noiva era a única pessoa que conhecíamos, quer dizer, que a Maria conhecia. No meu caso, acho que ter-lhe dito uma vez "Olá, sou o Tiago." e outra "O Tiago, o marido dela..." não faz propriamente de nós conhecidos.
De resto, não conhecíamos mais ninguém. Foi muito giro. Todos os restantes convidados se conheciam e falavam alegremente. Eu e a Maria também falávamos alegremente. A diferença é que era só um com o outro. Quer dizer, nem sempre. Como tivemos um dia inteiro para nós os dois, e a conversa de vez em quando escasseava, quando dei por mim, estava a levar nas orelhas da Maria por ter apanhado uma bebedeira há coisa de 9 anos...
Ah, mas é verdade. Tivemos, sim, outras conversas durante o dia. Eu tive uma, mais ou menos assim:
"Diga."
  "Era um Martini, se faz favor."
Já a Maria, como é mais faladora, vi-a a ter este diálogo:
"Diga, menina."
  "Queria uma coca-cola, por favor."
"Já não há."
  "Então pode ser um sumo natural."
Apesar de ninguém nos ter ligado patavina durante todo o dia, no início da festa ainda tentei, sem sucesso nenhum, fazer com que as pessoas reparassem em nós. Após a cerimónia propriamente dita, quando fomos para a fila dos cumprimentos aos noivos, disse à Maria que estava a pensar numa piadola para dizer aos noivos quando chegasse a nossa vez de os cumprimentar. Quebrava o gelo e podia ser que as pessoas reparassem que estavam ali duas alminhas que tinham sido mesmo convidadas, e que não eram, apesar de parecerem, dois infiltrados a querer comer de borla.
"Não me envergonhes, a sério... O que é que estás a pensar dizer?"
  "O que é que achas de: Parabéns! Não dou mais de 15 dias a esse sorriso!"
"Estás doido? Eles não te conhecem de lado nenhum!"
  "E se fosse: 'Tás toda contente! Quando voltarem da lua-de-mel falamos!"
"Esquece. Não vais dizer isso. Já estou a ficar chateada."
Para quem não percebe, "Já estou a ficar chateada." quer dizer: "Estou a ficar chateada porque a idiotice na tua cabeça não tem fim, mas se não a mostrares a mais ninguém, eu não me importo. Mas se mostrares..." O problema nestas coisas são sempre as reticências.
Com aquela tirada da Maria, fiquei encurralado. Se por um lado não podia dizer idiotices, por outro, já só tínhamos um casal à nossa frente, antes dos noivos, e o tempo esgotava-se. Tinha que pensar em qualquer coisa decente para dizer mas a pressão era muita. Havia o risco de alguma coisa correr mal. Devia ter pensado de véspera, quando havia tempo. Ali, só me restava rezar que não me saísse nada muito mau da boca para fora.
À chegada aos noivos, a Maria, com toda a sua classe, diz:
"Estás tão linda!"
Ao que a noiva responde: "Não estou nada!" e olha para mim. Era aquele o meu momento. Felizmente, aquele era um diálogo para o qual eu sabia a minha deixa. Já o tinha praticado com a Maria várias vezes ao longo dos anos. Assim, sem hesitar, disse a uma pessoa com quem tinha falado duas vezes:
"Estás estás. Estás toda jeitosa!"
A Maria abraçou-se a ela, certamente para que eu não tivesse hipótese de lhe dizer mais nada e eu fiquei em frente ao noivo. Desta vez, não tinha a Maria para ir à frente e facilitar-me a vida. O homem olha para mim todo sorridente e eu, ainda a pensar no que dizer, estendo-lhe mão, e digo-lhe:
"Boa sorte!"
Imediatamente depois de ter dito aquilo, pensei que, talvez, "Parabéns!" tivesse soado melhor. Mas incrivelmente, o homem perdeu o sorriso e ficou todo sério a apertar-me a mão durante alguns instantes. Foi o suficiente para eu sentir ali o início de uma grande cumplicidade.
Bem, ou isso ou vontade do homem de me perguntar quem eu era e quem é que me tinha convidado. A minha sorte foi, mais uma vez, a Maria, que lhe espetou dois beijinhos na cara e a coisa passou.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Tou a gozar, também tenho duas camisas...


Ao longo destes últimos dias, tenho-me estado a recriminar por ter faltado a dois dos mais importantes momentos de verdadeira cidadania a que o país assistiu recentemente. Sinto que deixei o meu país ficar mal e não vai ser fácil ultrapassar esta sensação.
Primeiro, custou-me imenso ter faltado à manifestação de dia 15. Queria ter estado lá para gritar bem alto as verdades que este Primeiro Ministro merece ouvir: que estes aumentos da Segurança Social só vão beneficiar os patrões e o capital e que me desamiguei dele no facebook. Sim. Eu sei que é duro desamigar alguém no facebook, mas ele estava a pedir. E olhem que até hoje só me desamiguei de outra pessoa, mas aí foi por um assunto muito mais sério. Já não aguentava receber mais convites para jogar o "Gardens of time" ou lá o que é. É que chegava a ser de hora em hora.
Mas onde me custou mesmo não ter ido foi à Vogue Fashion Night Out. Para quem não está a ver o que é, basicamente, é uma noite em que, no Chiado, em Lisboa, as lojas de roupa ficam abertas até de madrugada com promoções, há mini-concertos e bares improvisados em lojas, há celebridades a passear meio despidas, desfiles de modelos e as ruas ficam apinhadas de gente. Este ano foi no dia 13 de Setembro.
E eu bem tentei. Estive quase a conseguir convencer a Maria e uma das minhas irmãs a irmos mas fui traído pelo guarda-roupa. Não pelo meu, que só tem calças de ganga e t-shirts. Mas pelos delas, que, ao que parece, apesar de serem, respectivamente 12 e 7 vezes maiores que o meu, não tinham "nada de jeito" para ir a um acontecimento sobre moda.
Agora que penso nisso, às tantas elas não quiseram ir mas foi por causa do meu guarda-roupa. Hummm, ná. Não deve ter sido. Lembro-me perfeitamente que nesse dia tinha vestido uma t-shirt das mais recentes, comprada há menos de dois anos.
E pronto, acabámos por passar a noite no sofá a ver a "Gabriela, Cravo e Canela". Posso não ter visto mini-concertos nem bebido uns copos mas, pelo menos assim, sempre tive direito à parte de ver celebridades meio despidas.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Florentino Perez a Primeiro Ministro de Portugal, já!


Sim, isso mesmo. O Florentino Pérez, o presidente do Real Madrid, devia ser o próximo Primeiro Ministro de Portugal.
Para mim, depois do que aconteceu nos últimos dias no Real Madrid e em Portugal em termos de gestão, está mais que visto que o homem dá uma abada aos incompetentes e supostos líderes aqui do rectângulozinho.
Senão, vejamos. Há uns dias atrás, o homem teve lá na empresa dele um dos melhores trabalhadores amuado, a dizer para as câmaras que estava triste, profissionalmente falando. Fez beicinho e tudo. (confesso que me vieram as lágrimas aos olhos...) Já se sabe que a austeridade faz aumentar os impostos e os rendimentos baixam. Ah, e que o carinho faz falta para se trabalhar bem.
E o que é que o Florentino fez? Disse-lhe "Ó pá, deves estar a gozar? 8 milhões dele não te chegam por ano? Se queres carinho vai mas é pedir à Irina e à D. Dolores!..." Não. E vontade não lhe deve ter faltado.
Em vez disso, certo de que ter o melhor trabalhador chateado lhe iria fazer perder rentabilidade, pegou na calculadora e fez umas contas. Com o dinheiro que esse trabalhador lhe deu e lhe dá a ganhar, já dava para um aumento suficientemente grande para nem ser preciso nenhum carinho.
Mas tendo em conta que, provavelmente outros trabalhadores se seguiriam na tristeza, cá para mim, o homem não perdeu tempo e foi falar com o Patrocinador para lhe dizer que na próxima renovação de contrato vai precisar de mais dinheiro. Com o sucesso que a empresa tem tido, ao qual muito ajudou o trabalhador amuado, o nome do Patrocinador apareceu mais na imprensa e o seu valor de mercado aumentou. E por isso, o Patrocinado, a empresa do tristonho, deve ser recompensado. Não passa pela cabeça de ninguém achar que o Real Madrid exigir mais dinheiro a um patrocinador, e possivelmente um contrato mais duradouro, é demonstrar uma fraqueza. É antes uma demonstração do seu poderio.
Por cá é tudo ao contrário. Bem, talvez à excepção do carinho.
É certo que Portugal não é propriamente uma "empresa" de grande sucesso. Mas, o pouco que tem, convinha que se mantivesse e se procurasse aumentar. Em vez disso, com medo de perder o Patrocinador, dá-se uma talhada no rendimento dos trabalhadores. Os trabalhadores ficam tristes. Produzem menos. Levam mais uma talhada que é para não serem parvos. Ficam mais tristes e fazem beicinho. Produzem ainda menos. Levam outra e outra e outra. Ah, e um carinho na página de facebook do patrão. (eu logo disse que por cá não faltava carinho...)
Tudo porque ele não é capaz de dizer ao Patrocinador que é preciso mais dinheiro para os trabalhadores terem a remuneração justa e produzirem mais e mais depressa ganharem o campeonato, quer dizer, a independência. E explicar-lhe que essa é a forma de ele próprio, o Patrocinador, também ganhar mais, já que isso vai aumentar o sucesso da empresa.
Assim, o Patrocinador vai enchendo o bandulho até secar a empresa. Depois procura outra, porque o que mais por aí há são empresas em dificuldades.
Parece que já há uma chamada Espanha e outra chamada Itália que estão na fila.

(E pensar que ainda há uns dias atrás a minha preocupação maior era só espalhar bem o protector solar e conseguir entrar na água em menos de 37 minutos. Ah, e apreciar uns rabiosques na praia sem a Maria se aperceber, vá...)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Medo de dentistas, eu? Ná...


Nestes últimos 4 dias, tenho andado a braços com uma valente dor de dentes. Tenho um dente do sizo, a tentar furar a gengiva, que ainda não se apercebeu de que não há espaço na minha vida para ele. E já nem sequer é a primeira vez que ele tenta. E até já sei que quando este parar com esta mania, tenho mais 3 à espera para fazer o mesmo número.
Como se diz que são dentes que só conseguem nascer na vida adulta, quando a pessoa já tem juízo (ou sizo), para tratar destas dores só vi duas hipóteses: ou aumentar o espaço na boca, ou ganhar juízo. Perante a impossibilidade de concretizar qualquer uma das hipóteses, temi o pior.
Foi então que me lembrei do meu Plano de Combate às Maleitas. Foi um plano que defini precisamente para alturas de desespero e que resulta sempre. Em apenas 6 passos cura qualquer maleita. E como sou uma pessoa solidária com os que sofrem, aqui ficam as 6 medidas que mudam a vida de uma pessoa quando surge uma dor. É seguir os passos e parar quando a coisa tiver tratada. Nem sequer é preciso ir até ao fim. (aliás, se for preciso ir até ao fim é porque a coisa está mesmo má...)
Cá vai:
1 - Apareceu a dor. É borrifar no assunto.
2 - Borrifar no assunto, estranhamente, não o resolveu. Tomar um analgésico.
3 - O analgésico não está a fazer nada. Deixar de tomar e fazer de coitadinho para a Maria fazer uma canjinha.
4 - Gaita. Afinal o analgésico estava mesmo a fazer alguma coisa. Voltar a tomar.
5 - A dor não diminui. Dar uma lição ao corpo para que ele perceba que não pode agir como se fosse um miúdo mimado. Ele é meu, por isso tem que me obedecer.
6 - O corpo já não me respeita. Ir ao médico...
Neste momento estou no ponto 5. É um dos pontos mais importantes deste plano e tem que ser adaptado à maleita em causa. Se for bem realizado, o problema acaba aqui. Mas não se pode desistir à primeira. É que o ponto 6... é melhor nem dizer.
No meu caso, cumpri todos os pontos à risca atá ao 4. No ponto 5 cometi um erro de principiante. Pensei para comigo: "Se me está a doer uma parte do corpo, vou fazer com que todo o corpo me doa para ele perceber que tem que parar com a dor de dentes, porque senão é pior para ele." Pensei pedir à Maria que me desse um valente enxerto de pancada, mas como tinha receio que ela se entusiasmasse, calcei as sapatilhas e fui correr. Por incrível que pareça, durante um dia, não me doeram mais os dentes. Sim, todo o corpo me doía. O dente perdeu o protagonismo e deu-me algum descanso. O pior foi que, ao fim de algumas horas, a dor de corpo passou e o dente voltou em força. Eu sabia que estava na direcção certa, só me estava a escapar qualquer coisa.
Sentei-me no sofá a descansar e foi então que vi na televisão a publicidade de um elixir a fazer uma explosão dentro da boca. Vi logo que era mesmo aquilo que o meu corpo precisava para aprender a comportar-se. Uma explosãozinha dentro da boca para aprender a perder a mania.
E assim foi. Comecei a usar aquilo e agora sou um tipo totalmente novo. Se aquilo me curou a dor de dentes? Não. Se já consigo comer com o lado direito da boca? Nem pensar nisso. Nem lá perto. Mas quando bochecho com aquilo, fico com a boca tão dormente que não sinto nada do que se passa dentro dela. Quando uso, até as lágrimas me vêm aos olhos, porque me custa tratar assim o meu corpo, mas ele merece.
Assim que a dor começa a voltar, tumba: mais um bochecho da coisa e pronto. Mal seja que o dente não se farte de levar com aquilo. Agora é ver quem desiste primeiro. E eu acho que sei quem vai ser.
Só tem é um problemazito: ficasssse a falar à ssssopinha de masssssa.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O desespero, logo aos 4 anos de idade


Uma das coisas que mais gosto do Verão é que é das poucas alturas do ano em que a família se junta toda, um pouco como o Natal, mas com a vantagem de o jantar ser sardinhas assadas em vez de bacalhau.
Dão-se uns passeios, convive-se o que se não se pode conviver no resto do ano, brinca-se com os sobrinhos, de 4 e 7 anos, até as costas aprenderem a falar para pedir o fim da tortura a que são sujeitas e põe-se a conversa em dia.
Numa dessas vezes, o meu sobrinho de 4 anos perguntou à Maria se estávamos à espera de um bebé. O rapaz deve sentir a falta de um miúdo na família para brincar com ele. Por estranho que pareça, a irmã, com 7 anos, não acha piada aos puxões dele do cabelo dela. Vá se lá perceber as mulheres. É que é logo desde pequenas. Enfim.
A Maria, depois de pensar como haveria de descalçar aquela bota, sorriu, pôs o seu ar triunfal e disse-lhe:
"Sabes, os bebés vêm das árvores. Nascem nuns casulos e as pessoas que querem ter filhos vão lá buscar um casulo."
Já estava eu danadinho para continuar a conversa e dizer-lhe que, se os casulos caíssem ao chão e rachassem eram meninas e se ficassem agarrados ao pau, quer dizer, ao galho, eram meninos (só a classe desta analogia...), quando o miúdo, com um olhar de gozo, responde:
"Não é nada. O papá é que põe uma sementinha na barriga da mamã."
Ficámos os dois meio aparvalhados com o ar de indignado com que ele nos respondeu, mas o que custou mais nem foi isso. Foi o revirar de olhos com que ele o disse. Naquele momento, tenho a certeza de que o pensamento dele foi: "Estes dois só podem estar a gozar. É que só pode. Terão o quê, 3 anos?"
Apercebendo-se do desconforto da situação, apressou-se a arranjar uma desculpa para sair da cozinha a correr, enquanto gritava: "Vou ver bonecos pra sala!"
O assunto passou mas, dias mais tarde, quando voltámos a estar juntos, o sacana do miúdo voltou à carga com a mesma pergunta. Cá para mim, os pais também o devem ter proibido de puxar os cabelos à irmã e, portanto, ter um primo tornou-se numa questão da maior urgência. E para acelerar o processo, quis certificar-se de que tínhamos aprendido a lição e que não íamos andar a perder tempo à procura de árvores com casulos.
Por isso, desta vez eu não podia falhar na resposta. Não podia deixar o meu sobrinho de 4 anos achar que eu tinha mentalidade de 3. De 12 anos ainda vá, agora 3, santa paciência. Apesar de temer o contra-ataque, disse-lhe:
"Com efeito, caro sobrinho, a conjuntura económica mundial, e em particular aquela em que o nosso país se encontra, tem causado alguma instabilidade junto da Maria e de mim próprio, pelo que não nos parece que esta seja a altura mais indicada para aumentar a família. Espero que compreendas esta situação."
Visivelmente atrapalhado, e talvez por se dar conta que estava a insistir no mesmo assunto sensível, arranjou mais uma desculpa das dele e saiu a correr da cozinha. Desta vez, foi: "Vou ver bonecos pra sala!"
Apesar de tudo, fiquei intrigado. É que o olhar dele dizia, e desta vez tenho mesmo a certeza que era:
"Do que é que este está para aqui a falar?"

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

1 ano de Viagens!


É verdade. Aqui o estaminé completa hoje o seu primeiro aniversário. Parece que foi ontem que comecei a mostrar aqui os meus cadernos e, quase sem dar por isso, já lá vai um ano.
Um ano desde o dia em que estava a arrumar as tralhas no Quarto das... Tralhas (tentámos chamar-lhe Quarto de Hóspedes, mas não pegou) e me passaram pelas mãos os meus cadernos de viagem. Pareceu-me, nessa altura, muito mais engraçado mostrar o que eles guardam do que deixá-los a apodrecer na estante (até porque a estante é do IKEA, e com o bolor dos cadernos já se sabe que apodrecia num instante).
"Tenho montes de bonecos. Pinto cada um em 5 minutos, invento umas palermices e já está."
Não sei se a "enorme quantidade" de bonecos que tinha chegaram para o primeiro mês de vida do blogue, assim como também não sei se algum dos posts que fiz me levou menos de 3 horas. Mas bem vistas as coisas, é uma forma de me obrigar a desenhar mais e a esforçar-me para ser cada vez melhor. Mesmo que os bonecos sejam feitos no mesmo sít...
Xiiii, tenho que ir. É que, pela 123º vez, já estou a ouvir, directamente do sofá da sala:
"O quê? Ainda estás no blogue? Possa..."