quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Arménio Carlos, o branquinho idiota



Arménio Carlos, dirigente da CGTP, num discurso feito numa manifestação que reuniu quarenta mil professores, referiu que “… em Fevereiro regressam os três reis magos, dois brancos e um escurinho, que são os representantes do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional…”, sendo que, para quem não tinha percebido, o “escurinho” é o etíope Abebe Selassie. Escusado será dizer que choveram comentários e opiniões por toda a parte, em especial nas redes sociais, acusando Arménio Carlos de ser racista e exigindo-lhe um pedido de desculpas em público, bem como uma ou duas auto-chicotadas nas costas. Bem, talvez tenham sido três ou quatro.
Quanto a mim, este é um daqueles casos em que a pessoa é altamente traída pelos acontecimentos. Se, em Fevereiro, viesse a Troika a Portugal, acompanhada da chanceler alemã, Angela Merkel, e do chefe do governo italiano, Mario Monti, o sr. Arménio teria dito:
““… em Fevereiro regressam os três reis magos, dois brancos e um escurinho, que são os representantes do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional, e uma gordinha e um velhadas, que são os representantes da Alemanha e da Itália…”, e toda a gente perceberia a realidade – Arménio Carlos não é racista. É mas é idiota e não deve ter a noção do que é falar em público na era das redes sociais.
Chamar “escurinho” a Abebe Selassie só para o identificar, conforme justificou Arménio Carlos, é, no mínimo, deselegante. O termo utilizado contém alguma malícia no diminutivo e não é totalmente objectivo, como ele o fez crer. Se tivesse dito “dois branquinhos e um escurinho”, a coisa talvez passasse. Lá está, seria idiota à mesma. Mas pelo menos, seria só idiota. Assim, para quem lê apenas o excerto referido, parece que deixa antever alguma sobranceria, derivada da cor, do orador relativamente ao visado.
É um facto que os discursos políticos exprimem sempre alguma superioridade da parte de quem discursa sobre os visados, mas essa superioridade deve ser ideológica, política, social mas neste caso, ela parece racial. Tenho a convicção de que Arménio Carlos não é racista, até porque os seus actos valem mais (felizmente) que as suas palavras. Quis ser engraçado, quis ter piada, mas acabou por ultrapassar o limite do bom senso. Numa roda de amigos, não haveria, provavelmente, qualquer problema. Porque os amigos se conhecem e sabem até podem ir na relação entre todos.
Numa manifestação pública como esta, é preciso ter a noção de que se fala com pessoas que têm, provavelmente, apenas a profissão em comum. Uma piadinha destas ouvida por um emigrante que tenha sofrido na pele agressões racistas certamente não cairá bem. Nem à sua família nem aos seus amigos.
No que toca aos problemas da sociedade, como o racismo, cada um tem uma interpretação que provém da sua história pessoal e das suas vivências. Arménio Carlos não teve sensibilidade social para perceber isso, foi imprudente e deveria retractar-se convenientemente. Dizer “Se por ventura alguém se sentiu incomodado, melindrado com o que eu disse, aproveito então esta oportunidade para pedir desculpas…” é próprio de quem se recusa a aceitar que errou.
Para isso, mais valia ficar calado. 

PS: Mais uma crónica do P3. Bem, vou andando que ainda tenho que quanto é que custa um segurança.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A Santa Terrinha


Para uns pode ser a terra que tem montes de incêndios no Verão.
Para outros será, certamente, a terra que tinha uma linha de comboio até Coimbra e que foi desmantelada para construir um Metro Mondego que nunca há de chegar.
Pode mesmo ser, para uns estudiosos, o 5º concelho com pior qualidade de vida, no ano de 2012, entre os 308 concelhos do país.
Para quem a está a descobrir agora, pode muito bem ser a terra dos trails de corrida em montanha, ou de btt.
Para mim, Miranda é a minha Santa Terrinha. A terra que os meus pais escolheram para criar os filhos. A terra dos meus amigos de infância e onde levava pancada todos os dias na escola porque era o mais pequeno de todos das minhas primeiras aventuras.
A terra a que, ainda hoje, mesmo passados mais de 6 anos de ter saído, chamo casa.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Obituário da Carreira Desportiva do Lance Armstrong


Quando alguém morre, há sempre um desgraçado que tem que escrever o obituário. Desde que a Carreira Desportiva do Lance Armstrong faleceu, ninguém se chegou à frente para fazer essa gentileza. Por isso, porque alguém tinha que assumir esse frete, cá está o respectivo obituário, prontinho para ser publicado em todas as secções de necrologia dos jornais. Quem quiser, é só copiar e colar. Ah, e por uma cruz antes do texto. Depois não digam que não sou amigo. Cá vai:

"Em estado crítico já há alguns meses, a Carreira Desportiva de Lance Armstrong acabou por não resistir às graves lesões de que padecia, vindo a falecer na passada semana, em Austin, no Texas.
A Carreira Desportiva de Lance Armstrong (podia abreviar como CaDeLA, mas por respeito neste momento difícil, não o vou fazer) foi vítima de uma vontade insaciável de vencer a todo o custo do seu proprietário, passando por cima de todos os valores éticos e morais que fosse necessário, para que as vitórias nunca lhe escapassem. Os sinais da doença começaram a meio dos anos 90, mas, como não existia um diagnóstico capaz de detectar os sintomas e todas as suas companheiras sentiam o mesmo, a Carreira Desportiva não ligou e seguiu o seu caminho de vitórias. Anos mais tarde, estava já a CaDeLA, desculpem, a Carreira Desportiva no seu auge quando os sintomas se tornaram perfeitamente visíveis. Foi tentada a reanimação, por subornos às entidades que haviam detectado os sintomas, pelos media mais próximos do dono da Carreira e por gabinetes de advogados pagos a preços de ouro, mas já nada havia a fazer.
A Carreira deixa eterna saudade a amigos e admiradores, que ficam órfãos de exemplo a seguir, e um dono órfão de vergonha na cara, com 7 camisolas amarelas que já só servem para dormir (que mesmo assim, fica com uma para cada dia da semana, não se pode queixar). A Carreira Desportiva deixa ainda uma irmã difamada e na miséria, a Carreira Humanitária que tanta gente que padecia de Cancro ajudou, não se sabendo, até ao momento, com que rendimentos poderá sobreviver no futuro.
O elogio fúnebre foi proferido por Oprah Winfrey, que ao longo de duas horas, recordou com o desportista os tempos em que ele promoveu a CaDeLA, ai, a sua Carreira, ao injectar-se com EPO, testosterona e transfusões de sangue, batendo-se, assim, de igual para igual para com os seus adversários. O desportista referiu ainda que, “se em 200 ciclistas que correm o Tour, 5 não tiverem doping, esses serão os meus novos heróis…”, deixando o lugar de herói de Armstrong, de ser ocupado pelo Homem Aranha, o qual, como se sabe, também deve os seus poderes a uma picada.
A conhecida entrevistadora teve o cuidado de pedir a Lance Armstrong que contasse a forma como os seus filhos reagiram à morte da sua Carreira Desportiva, permitindo-lhe que deixasse cair duas lágrimas de soro que tinha posto nos olhos antes da pergunta, de forma a que toda a gente ficasse ciente do seu arrependimento e culpa.
Os coveiros, colegas de profissão de Lance Armstrong que não souberam disfarçar tão bem os sintomas como ele, nunca ganharam nada de jeito e cuja Carreira Desportiva também havia já falecido, deram mostras da sua amizade, ajudando a abrir a cova, de onde se espera que a Carreira de Lance não mais volte a sair.
A menos que ele conte tudo o que se sabe, claro. Sim, porque o homem tem o sonho de “participar na histórica maratona de Chicago”, e quando ele quer muito uma coisa…
Paz à CaDeLA. Bolas. À Carreira."

PS: Idiotice pegada Obituário já publicado no P3, aqui.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O Son GoKu vive algures em Lisboa


Sim, é a mais pura das verdades. O Son GoKu existe e vive algures em Lisboa. A Bonnie e o Clyde também. E curiosamente, todos os três utilizam o Metro. Mas vamos por partes.
Há dias, vinha eu a sair do metro em direcção à saída da estação, quando vejo à minha frente um tipo de fato de treino cor-de-laranja e phones nos ouvidos. Vinha, aparentemente, meio distraído. Nesse mesmo instante, vejo duas raparigas que o perseguem de perto até aos guichets de saída, onde é preciso passar o bilhete ou o passe para se sair da estação. A ideia delas era simples - aproveitar o tempo de abertura da porta dado pelo bilhete do rapaz da frente para passar e não pagar a viagem. É bem capaz de ser a coisinha mais irritante que alguém me pode fazer no metro. Chego a correr para os guichets ou a mudar para o do lado quando vejo alguém com essa ideia atrás de mim. A vida está difícil para todos mas eu dispenso bem que alguém me faça de parvo. Para isso já temos o Governo...
Ora, o rapaz do fato de treino laranja (vim a perceber mais tarde que não era daquela cor ao acaso) também topou as duas miúdas. Com uma classe do outro mundo (talvez mesmo Namék), o tipo passa o bilhete, a portinhola abre, as miúdas colam-se a ele e riem uma para a outra, ele dá um passinho para o lado de fora da portinhola, vira-se para trás e faz um kame-ha às miúdas que as deixa paralisadas. Sim sim, tal e qual como no boneco. Só não saiu luz, mas a avaliar pela expressão na cara das pitas raparigas, deve ter doído e bem. Ficou ali dois ou três segundos naquilo até a porta se fechar e seguiu viagem, deixando as espertinhas dentro sa estação sem forma de sair.
Automaticamente, as miúdas olham para mim, que me preparava para sair dois guichets ao lado. Olhei para elas com cara de mau para elas não virem atrás de mim mas nem era preciso. Estavam coladinhas ao chão.
O tipo desapareceu num instante (deve ter ido ter com o Tartaruga Genial, de certeza) e eu nem tempo tive de lhe pedir um autógrafo e mandar beijinhos à Bulma e um abraço ao Vegeta...
Ainda andava eu a pensar no Son GoKu quando, dias mais tarde, dou de caras com a Bonnie e o Clyde noutra estação do metro. Não haja dúvidas - naqueles minutos por dia em que o metro não está em greve, passa lá gente muito interessante.
E dirão vocês - "Ah, mas a Bonnie e o Clyde já morreram há não sei quanto tempo!..."
E respondo eu - "Ah, mas não morreram não. E são bem fofinhos."
Tenho mesmo a certeza que eram eles. Vejam lá se não tenho razão: um casal de velhotes, que já mal conseguiam andar, vai para um guichet para entrar na estação. A senhora encosta-se à portinhola e o senhor agarra-a atrás. Ela pega no cachecol que tinha ao pescoço e mete-o à volta da cara, deixando só os olhos de fora. Ele, vendo que ela está pronta para o assalto, passa o bilhete e entram os dois. Foi das coisas mais ternurentas que vi nos últimos tempos. Um deles pode não pagar as viagens, mas talvez graças a isso tenham  dinheiro para outras coisas mais importantes. Muito, mas mesmo muito diferente das miúdas asquerosas, com roupinhas de marca e telemóveis de última geração.
Aqueles dois só perderiam o título dos mais fofinhos se o Son GoKu tem levado o Son GoHan com ele para a estação (sempre foi a minha personagem preferida). Ou talvez fosse o Krilim. Há lá alguma coisa mais fofa que um anão sem nariz que sabe andar à pancada?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Zico, o pitbull que mordeu a pessoa errada


A Justiça em Portugal está a mudar e, pelos vistos, a tornar-se mais ágil. O país precisava de uma justiça mais rápida, mas tinha esperança essa mudança começasse no julgamento e investigação de pessoas. Pelos vistos, a rapidez começou no julgamento de animais.
A servir de exemplo, temos um julgamento sumário de um cão arraçado de pitbull que feriu de morte um bebé de 18 meses, em Beja, tendo sido condenado à pena de morte. Se a rapidez da justiça para os animais ainda fosse como a dos humanos, este cão teria ainda bastantes anos em prisão domiciliária, num canil com boas condições (qualquer advogado estagiário conseguiria ar condicionado e SportTv) e, provavelmente, nem chegaria a viver para cumprir a real sentença, que andaria de recurso em recurso. Sinceramente, talvez essa fosse a pena mais adequada – viver o resto dos seus dias privado da liberdade de conviver com pessoas em geral.
Ao princípio ainda fiquei surpreendido quando li num jornal que a sentença a aplicar ao animal, a pena de morte, tinha por justificação a prevenção para que tragédias como a que aconteceu não se voltem a repetir. Não era costume de cá e até achei que era de mais condenar o dono do cão à morte, mas bem, talvez fosse o resultado de uma investigação profunda desta “nova” justiça. E se era por prevenção, talvez se justificasse. A morte de um bebé é algo que nunca deveria acontecer e que nos choca a todos, ainda para mais nestas circunstâncias.
Já estava prontinho para ir fazer um post inflamado no facebook quando me pareceu boa ideia ler a notícia até ao fim. E fiz bem. Afinal de contas era o cão que tinha sido condenado à morte. O cão?! Se o dono disse a um jornal que “desejava o abate do animal” porque simplesmente não tinha condições de o ter em casa, se o cão tinha sinais aparentes de fome, as orelhas cortadas evidenciado que poderia ser utilizado em lutas de cães e nem sequer registado estava, se passava o dia fechado no apartamento e até já tinha atacado duas vezes o dono, o cão é que vai ser abatido?
Claro que o abate do cão serviria de prevenção. Duvido que aquele animal em concreto, depois de abatido, voltasse a fazer mal a quem quer que fosse. Já o abate do outro animal preveniria que mais cães tivessem que ter uma vida miserável, fechados num apartamento com fome, sujeitos aos seus instintos de sobrevivência e a ver potenciais inimigos em bebés que tropeçam neles.
Tenho esperança que o animal de quatro patas não seja abatido. Mas também tenho esperança que ninguém se lembre de se armar em Ceasar Milan, o Encantador de Cães americano milagroso, e o reabilite e ponha de novo numa casa com humanos. Cães como o Zico estão marcados por um passado de pesadelo e têm que ser tratados por quem sabe e não por qualquer um. Muito menos por quem quer ter um cão potencialmente perigoso para dar nas vistas, como tantas vezes acontece. Para isso, pintar o cabelo de cor-de-rosa chega bem. Um canil ou um abrigo para cães seria a melhor solução para o cão.
Já em relação ao outro animal, quer-me parecer que nada lhe vai acontecer. É verdade que a justiça já começou a mudar. Mas escolheu começar pelos animais de quatro patas quando devia ter começado pelos de duas. Esses sim, são um perigo.

PS: 6ª crónica que publiquei no P3. A sensação de ver mais de 3000 pessoas a ler no site de um jornal de prestigio que eu defendo o uso de cabeleiras cor-de-rosa em vez de cães perigosos para chamar a atenção é qualquer coisa de surreal... ;)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Descobri a minha árvore das patacas

Toda a gente sabe que isto anda mau. Cada vez há menos dinheiro, mais desemprego e ninguém sabe para onde se virar. A forma de ultrapassar esta crise tem que ser pensada por todos, antes que o relatório do FMI seja mesmo aprovado. Só juntos poderemos arranjar maneira de saltar daqui para fora.
Eu, depois de longos segundos, que mais pareceram minutos, a pensar no assunto, já tenho uma ideia para sair deste buraco. Temos que nos voltar para o essencial, para aquilo que nos define enquanto pessoas. Esquecer o acessório e olhar para o que é mesmo importante e que, mesmo em tempo de crise ninguém pode dispensar. Sim, a solução está no facebook. Foi lá que encontrei a forma de dar a volta a este estado de coisas. A minha segunda opção era a Agricultura, mas isso é coisa para sujar a roupa e toda a gente sabe que isso dá uma despesa enorme só em detergente. Já para não falar nas botas cheias de lama. (a minha mãe que o diga de cada vez que o meu pai entra em casa...)
Mas bem. De volta ao facebook. São mais de 1000 milhões de utilizadores. É muita gente. A minha ideia era simples: cada pessoa com perfil no facebook era obrigada a ter um avatar (o boneco para a foto de perfil) cheio de estilo. Por cada avatar, cada pessoa pagaria 1 cêntimo.
Depois, esses bonecos teriam que ser encomendados a determinadas pessoas escolhidas pelo Zuckerberg, o patrão lá do sítio. Se fossem poucos utilizadores, eu tratava do assunto sozinho. Mas como já são mais de uns quantos, a minha ideia era que a lista tivesse uns 10 idiotas ilustradores como eu. Ou seja, cada um ficava com 100 milhões de bonecos para fazer. Nada de especial. Só tinha era uma regra: cada pessoa teria que pagar o 1 cêntimo de imediato. Garanto-vos que a mim me resolvia o problema da crise. E ninguém se ia queixar por ficar com 1 cêntimo a menos. E com 1 milhão de euros no bolso, ficava logo com mais motivação para fazer os bonecos. É que nem pensava em mais nada.
Este princípio podia ser estendido a outras coisas essenciais. Não se podia era abusar, senão a malta deixaria de lá ir porque ficava caro. Pelo sim pelo não, acho que vou patentear a ideia e já venho.

PS: Lia, o teu é oferta porque foi graças a ti que me lembrei deste negócio que me vai tornar uma gajo super rico e eu sei reconhecer isso. Mas se, por algum acaso, eu cair na pobreza, ficas a contar que, pelo menos 1 cêntimo vais ter que me orientar. E nem venhas com desculpas.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Eu cá lavo sempre as mãos


Cada vez que vou à casa de banho de um determinado centro comercial, que não vou dizer qual porque eu não sou cá de polémicas, entram sempre um ou dois seguranças atrás de mim. Vêm, como de costume, com os walkie-talkies na mão, com aquelas tretas do "Tango, daqui Charlie, escuto..." como se estivessem no Vietname e com o ar de seres superiores que lhes é característico.
Até hoje, a coisa intrigava-me. Afinal de contas, porque carga de água é que sempre que eu lá ia à casa de banho, haviam de entrar seguranças atrás de mim? Até que cheguei à única conclusão possível. E, caramba, agora que percebi tudo, até me custa ter andado este tempo todo sem perceber uma coisa tão simples. Primeiro ainda pensei que eles lá fossem espreitar os meus atributos por pura inveja mas não, o motivo que os leva lá é bastante mais refinado. Eles vão lá ver se a malta lava as mãos no fim de fazer o que estiver a fazer.
Incrível, não é? E fui eu que descobri. Da última vez que lá fui, mais propriamente ontem, enquanto lavava as mãos, olhei de soslaio para os homens. Eles ficaram tão embasbacados sem saber como reagir que foram para ao pé da janela e começaram com uma conversa tal, que só é compreensível porque de certeza que estavam a disfarçar:
"Xiii, já viste o que era um gajo atirar-se desta janela para rua?", dizia o que tinha ar de esperto.
"Oh, o que é que estás para aí a dizer?", respondeu o colega, meio aparvalhado, claramente sem o mesmo talento para o improviso que o colega.
"Ya, quem se atirasse esborrachava-se todo!"
"Mas que raio..."
"Oh, já se devem ter atirado poucos, até julgas..."
Foi um desempenho dramático muito bom mas a mim não me enganam eles. Seguranças, cuja suposta função é zelar pela segurança dos utentes do centro comercial, a achar piada ao pessoal que se atira das janelas? Era óbvio que estavam a disfarçar alguma coisa.
Depois disto só me faltava descobrir quem teria encomendado este servicinho aqueles idiotas seguranças. Ontem à noite, sem que eu me esforçasse, a resposta a esta minha pergunta veio ter comigo ao jantar, na forma de comentário inocente.
"Há dias, fui à casa de banho num centro comercial e de todas as mulheres que lá estavam, eu fui a única que lavou as mãos. É incrível!..."
É mesmo, Maria. É mesmo.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Não é fácil mas vale a pena


Apesar de estarmos a entrar num ano que se prevê que venha a ser dos mais difíceis dos últimos tempos, acho curioso que seja, de longe, um dos anos em que mais casamentos vou ter. Quer dizer, agora que penso nisso, ter muitos casamentos no mesmo ano reforça a ideia de que vai ser um ano difícil... Bem, é melhor não pensar muito nisso.
Para além dos casamentos para os quais fui convidado a ir, também tenho tido vários casamentos para os quais tenho sido convidado a fazer o convite para os noivos convidarem quem bem entenderem, se é que me faço entender.
Fazer um convite de casamento é sempre uma tarefa meio complicada. Há sempre muitas expectativas por parte dos noivos da noiva e agradar acaba por ser complicado. Até porque é um dia que os noivos a noiva já imagina como vai ser há vários anos, incluindo o vestido, a quinta, a cerimónia e, claro, os convites.
O primeiro que fiz, como não poderia deixar de ser, foi para o meu casório com a Maria. Precisei de menos tempo para a indrominar a convencer a namorar comigo do que para lhe conseguir agradar com o convite. Foram 4 longos meses de rascunhos, de pinturas, de experiências, de eu-acho-que-está-bem-assins e ainda-não-está-bem-como-eu-queros. Também houve alguns já-tou-a-começar-a-ficar-farto-distos e bastantes caneco-nunca-fazes-como-eu-te-peços. Dois ou três não-estás-a-dar-importância-nenhuma-a-istos e algumas dezenas de peço-desculpas.
Aliás, a demora na concepção do convite até foi um dos motivos pelo qual convidámos as pessoas mais tarde que o costume. Algumas são capazes de ter ficado a pensar que as estávamos a convidar por obrigação por ter sido tão tarde, mas também não nos pareceu boa ideia dizer "Desculpe só ser agora, mas tínhamos algumas dúvidas acerca da posição do braço do boneco e da forma da boca da boneca no desenho do convite..." O que é certo é que a Maria mandou fazer um quadro com a ilustração do convite, por isso desconfio que a coisa correu bem.
Por isso, por ser uma coisa importante, faço sempre questão de perguntar aos noivos aquilo que pretendem que apareça no convite. A lista de coisas costuma ser interminável. No caso do convite que aqui mostro, os simpáticos noivos só me pediram para incluir referências à cidade onde vivem, ao local onde se conheceram, aos hobbies de cada um, aos meios de transporte de cada um, à fisionomia de cada um e à pintura do convite com os tons específicos da festa, por isso foi extremamente simples.
Bem, talvez tire o "extremamente". E já agora o "simples" também.