quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Tenho um arbusto a nascer debaixo dos azulejos (ou então a casa está a ruir, prontos)


Ontem à noite, estava eu com a Maria a arrumar a loiça na cozinha depois de jantar, quando começamos a ouvir o chão a ranger. Primeiro devagarinho, depois mais alto e mais e mais.
Olhámos um para o outro aparvalhados. Aquilo não era normal. Se a laje fosse de madeira, seria normal que rangesse (ui, as vezes que me custou a adormecer em casa da minha avó porque o chão não se calava e não havia quem me tirasse da ideia que era o homem do saco que lá vinha - e não estou a falar do Pai Natal...), mas aqui não era (supostamente) esse o caso.
Procurámos com os olhos pelo sítio da laje de onde vinham os ruídos mas não precisámos de nos esforçar muito - os azulejos começavam a soltar-se do chão, formando um alto mesmo no meio da cozinha. Aquilo mais parecia que estava a crescer um arbusto mutante debaixo dos azulejos. Uma pessoa não limpa o chão como deve ser e depois é o que dá.
A Maria, consciente de que tinha chegado o dia do juízo final, saltou por cima dos azulejos saltitantes em direcção à porta da saída e gritou-me para fazer o mesmo. Parecia uma cena daqueles filmes em que uma das personagens salta por cima de um precipício e grita à outra para fazer o mesmo, só que a outra está tão aparvalhada que não tem reacção. Ok, talvez não tenha ajudado a acalmar os ânimos eu ter dito "Esta merda está toda a ruir!...". Agora que penso nisso, foram 30 segundos mesmo engraçados.
Quando os azulejos, finalmente, sossegaram, fui ao apartamento de baixo ver se do tecto dos meus vizinhos se teria soltado alguma pedra. Mal me abriram a porta, percebi logo que não - depois de ter deixado sair a fumaça toda, vi que que por lá havia muita pedra, mas nenhuma que tivesse caído do tecto.
"Estávamos a fumar, ouvimos uns barulhos vindos do tecto e pensámos - devem ter deixado cair algum electrodoméstico, ah ah ah!" disse-me a minha vizinha, abanando a mão à frente da cara para me conseguir ver através do nevoeiro e rindo à parva do assunto como se o facto de os azulejos da minha cozinha terem vida própria fosse engraçado.
Voltei para casa convencido que, fosse lá o que fosse, o apartamento não ia desabar e que, no dia seguinte, haveria tempo de chatear o senhorio. A Maria é que não se deu por convencida e passou a noite a perguntar-me se estaríamos seguros. Ao fim da 57ª vez que lhe respondi que sim, desistiu e foi para a net à procura de uma razão para os azulejos ganharem vida. Ao que parece, de acordo com a net, aquilo aconteceu por causa do calor intenso, da humidade e da casa não ter sido arejada há meses. Por acaso, ontem foi dos dias mais quentes que tenho memória... Ainda bem que temos sempre a net para nos ajudar.
Mesmo assim, continuo a achar que foi por ter nascido um arbusto mutante debaixo dos azulejos. A carne hoje em dia vem cheia de hormonas, não sei se as pessoas sabem disso. E quando se cozinha, as hormonas passam para o ar e acabam em cima dos azulejos. Depois juntam-se a pedaços de legumes e dá nisto. Parece-me mais credível. Foi isso, de certeza.

Ah, é verdade: o senhorio já cá veio. Fez aquele ar de frete que só os senhorios sabem fazer e disse-me: "Vou ver quando é que posso mandar aqui o homem para tratar disso." E nem tentou por-me as culpas daquilo em cima. Foi uma sorte não se ter lembrado dos arbustos mutantes... Ufas.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O meu Capuchinho Vermelho

Aqui há uns meses, fui à apresentação de um projecto de uns tipos cheios de ideias. Daqueles que falam sem parar e acreditam tanto nas ideias que têm que conseguem contagiar quem os ouve. Ao princípio ainda achei que fossem só mais uns Miguéis Gonçalves desta vida mas, como nunca me mandaram bater punho e ainda diziam que os ganhos eram partilhados por todos os intervenientes no projecto, comecei a prestar atenção ao que diziam.
No fundo, a ideia era bastante simples: eles sabiam fazer apps para tablets e smartphones e, por entre as linhas de programação que devem debitar todos os dias, lembraram-se que era capaz de ser giro vender histórias infantis, daquelas que toda a gente conhece menos os putos. Deram o nome de Classic Tales ao projecto e chamaram a malta dos bonecos para dar corpo à ideia.
Acabei por ficar bastante entusiasmado, ainda para mais quando pude escolher o Capuchinho Vermelho para ilustrar. O mais difícil foi arranjar tempo para fazer o trabalho. Isso e escolher um final para a minha versão da história. Descobri milhares de versões diferentes, cada uma mais hardcore que a outra.
Depois de adiar até ao limite do prazo (sou um português convicto), não tive outra hipótese senão fazer as ilustrações nas férias de Verão - duas semanas a levantar-me às 5h30 da manhã para desenhar para depois estar livre para ir para a praia a partir das 11h, quando a Maria se levantava. Tirando o facto de não conseguir acompanhar o que ela dizia a partir das 23h 22h 21h 20h, acho que até correram bem.
Agora, ao fim de uns meses, a minha história e outras cinco de outros tantos talentosos ilustradores estão à venda na appstore, desde ontem. Já há mais um grupo de histórias a entrar num futuro próximo, o que augura um bom futuro para este projecto. Oxalá assim seja. A malta bem que agradece.
Só espero ganhar o suficiente para as próximas férias de Verão. É que posso ter que voltar a trabalhar nessa altura e vou precisar de um bom argumento.

PS - pus um vidro estalado na imagem para o meu sobrinho ver como a história vai aparecer no iPad do pai dele. Ele ainda é pequenito e podia estranhar ver aqui um desenho sem rachas e depois aparecer diferente no iPad que ele pisou e rachou, levando o pai às lágrimas de emoção... Pois, isso.