sexta-feira, 12 de julho de 2013

O incómodo de andar de metro


Há dias, vinha eu no metro, quando se senta um cavalheiro francês ao meu lado. O senhor já era frequentador da 3a idade e trazia consigo o "Le Monde", que lhe atestava a nacionalidade e o grau superior de inteligência.
O culto senhor senta-se, abre o jornal e, nem dois segundos depois, olha para mim muito sério, passa a mão entre a perna dele e a minha (que se tinha encostado involuntariamente) várias vezes seguidas, e exlama, com um ar meio creepy:
- Regardez!
Completamente aparvalhado, fiquei ali uns segundos a tentar perceber o que é que se tinha passado e cheguei à conclusão que só podia ser uma de 3 coisas:
1) O meu odor corporal estava a incomodar o senhor e ele queria que eu me afastasse para o mais longe possível.
2) O homem achava que eu era panisgas e que me estava a fazer ao piso por ter a minha perna encostada à dele e quis mostrar que não estava interessado.
3) Aquilo tinha sido fruto de algum delírio meu, que, com tanto calor, imaginei coisas que não tinham acontecido.
Apesar de estar mais inclinado para a 3a hipótese, apertei os braços contra o corpo para fechar bem a sovaqueira e pus a mão com aliança de casado no colo. Entretanto percebi que estava a ser estúpido e parei com aquilo. Afinal de contas, tinha posto desodorizante e o casamento gay já é legal há uns tempos.
Tentei não pensar mais no assunto mas, quando o metro parou na estação seguinte, o homem levantou-se de imediato e foi para os lugares da frente, que tinham ficado vagos. Ao virar-se, mandou-me duas faíscas com os olhos que até fiquei a bater mal.
Se a coisa estava a ser surreal, ainda mais ficou quando, na paragem seguinte, entrou um senhor com os seus calções e sandálias com meias brancas e se sentou ao pé do homofóbico. Aquilo que eu já estava a ficar certo de ter sido imaginação voltou a repetir-se: a mesma mão a afastar a perna do homem e a mesma expressão creepy. A única diferença foi que, desta vez, a exclamação aziada foi: "Attention!" Uma coisa era certa - o homem tinha bastante vocabulário.
Ao olhar para o homem que ia ao lado dele, fiquei com a ideia de me estar a ver uns instantes atrás tal foi a expressão de aparvalhamento na cara dele. A única diferença foi que ele não deve ter tido tempo para acreditar que aquilo estava mesmo a acontecer porque, naquela altura, chegámos a uma estação onde entrou uma rebanhada de gente que, ao passar pelo superior francês, lhe tocava involuntariamente nos braços, nos pés e nas pernas fazendo a cabeça do homem rodar que nem um pião, tentando perceber quem se atrevia a perturbar a sua leitura. Foi o suficiente para o fazer sair na estação seguinte.

Agora a sério: eu compreendo bem o homem e sei bem o que ele estava a sofrer. Há dias, no mesmo metro, completamente cheio de gente e com um calor desgraçado, iam umas moçoilas bem constituídas de bikini em pé ao meu lado (certamente a caminho da praia), sempre a tocar-me por causa dos balanços da carruagem e aquilo também já me estava a deixar incomodado.
A minha sorte foi ainda não estar na 3a idade. Senão também teria saído na estação seguinte.

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