segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Venham de lá esses armários suecos


A semana passada fui com um colega ver o jogo da Selecção contra Israel no Estádio de Alvalade. Nunca tinha visto o Ronaldo jogar e, na altura, pareceu-nos boa ideia...
Chegámos mais cedo ao estádio para termos tempo de ir à rulote do Rei das Bifanas, mas ainda nem tínhamos tirado a mostarda dos cantos da boca, quando uma rapariga se chegou ao pé de nós para nos fazer um inquérito sobre telecomunicações. O meu colega ofereceu-se logo (nem sei porquê - o decote dela não era assim tão grande) mas eu já só pensava em ir para o estádio. A rapariga sacou do inquérito e começou por querer saber quantos canais ele tinha em casa e a velocidade da internet. Ao fim de 10 minutos, já queria saber qual era o clube dele, se ele ia muito ou pouco ao cinema, o número de telefone, a morada e o nome completo. Já vi técnicas de engate melhores mas, mesmo assim, não estava nada mal. No fim, a rapariga virou-se para mim e perguntou-me se eu também queria. Recusei o convite educadamente. Ainda há coisas em que sou muito conservador.
Entretanto entrámos para procurar os nossos lugares. Quando se tem bilhetes para lugares quase no meio das nuvens, convém ir com algum tempo de antecedência. Encontrei os lugares ao fim de muitos degraus mas o meu colega preveniu-me que os nossos eram na fila 27 e não 21, como me tinha parecido. Olhei para as escadas mas faltou-me a coragem. E então combinámos que se alguém reclamasse os lugares, sairíamos prontamente e iríamos para os nossos, mesmo que para isso ficássemos a bater com a cabeça na cobertura do estádio e o Moutinho, visto de lá, ficasse a parecer da mesma altura que o Ronaldo.
O jogo lá começou e ao meu lado sentou-se um casal de namorados. O tipo devia ter algum problema no pescoço, porque nunca virava a cabeça para o meu lado. Tentei meter conversa, dizendo que o Hugo Almeida é que devia ser o treinador, porque passava o tempo a ver os colegas a jogar, mas o tipo nada. Voltei a mandar umas bacoradas sobre o Nani estar a jogar com chuteiras de betão e por o São Patrício ter deixado a auréola em casa mas nada. Nem para me mandar calar o tipo abriu a boca. Estranhei. A verdade é que eu e o meu colega também estávamos a ficar chateados. Não tínhamos planeado ver um jogo solteiros vs casados, mas pronto. Quando o intervalo chegou, levantámo-nos e passámos por eles para irmos ao wc (em qualidade de wc's o Sporting dá 10-0 ao meu Benfas...). Ao passarmos pelo casalinho, dei conta da namorada estar a azucrinar a cabeça ao homem porque ele não foi capaz de nos dizer que estávamos mal sentados. Eu sei que pareço uma pessoa super inacessível, especialmente quando digo coisas do calibre cultural de "Ruben Micael, és tão mau que nem a Sofia Ribeiro te queria, pá!", ou algo mais sofisticado como "Ó Ronaldo, vai masé pó c******!", mas caramba, sou uma pessoa sensível e bem educada. E aquilo mexeu com os meus sentimentos.
Tanto que depois do intervalo não voltámos àqueles lugares, nem aos nossos que, por aquela altura, já estavam ocupados. Preferimos ficar nas escadas ao fundo da bancada. Não se via grande coisa mas pelo menos ninguém teve cãibras nas pernas - escalar uma bancada não é para qualquer um.
E só tive pena que não desse mesmo para ver nada. Mas bem, o golo de Israel a 5 minutos do fim teve os seus pontos positivos: deu para acordar o pessoal das bancadas (se não fosse aquilo, os seguranças do estádio iam ter que andar de banco em banco no fim do jogo a acordar as pessoas) e fez com que o Rui Patrício pudesse pronunciar as suas palavras imortais, no fim do jogo:
"Bem, agora o que é preciso é levantar a cabeça."
E agora venha de lá o Ibrahimovic, desculpem, a Suécia. Se não adormecermos, até os comemos.

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