domingo, 19 de maio de 2013

A importância de "acertar as pontas"


Aqui há tempos, num jantar entre amigos, a conversa foi parar à política. Eu sei que é imperdoável mas caramba, os temas futebol, religião, profissões, famílias, livros, banda desenhada, poesia, música, passeios, viagens, terras de origem de cada um e gastronomia já se tinham esgotado. As alternativas já só se resumiam a Política e Big Brother Vip, por isso, e porque como já era tarde, escolhemos o tema com menos conteúdo.
Mas tendo em conta que anda tudo cheio de falar dos Passos Coelhos, Paulos Portas, Vítores Gaspares e Cavacos Silvas desta vida, era preciso que alguém lançasse o tema de forma convincente. Ao fim de 5 segundos calados há espera de um corajoso que conseguisse entrar no tema, oiço, do outro lado da mesa:
"Vamos eleger o melhor político da actualidade!" (eu sei, quando se quer mesmo muito conversar às 2 da manhã, a beber "refrescos" de Macieira, é preciso estar preparado para tudo)
Toda a gente gostou da ideia (sim, estávamos todos no mesmo barco) e as votações começam. O António Costa já ía destacado, até que chega a minha vez. Antes que eu pudesse  fazer a minha votação, levo um par de estalos verbal, que até fico com vontade de votar José Seguro:
"Vá, escolhe lá um de esquerda. Sim, com essa barba toda a gente sabe que és de esquerda!"
Oi? Barba de esquerda? Passo a mão na cara, sinto as saudades de 6 longas semanas afastado da minha lâmina de barbear (desde que foi passar umas férias à banheira e passear nas pernas da Maria que nunca mais a vi), olho em volta e fico sem perceber: todos os gajos têm barba grande mas só eu é que tenho barba de esquerda? Eu à espera de ouvir elogios do género "Ena, pareces o Bruno Nogueira na Odisseia! Ele é um tipo porreiro, por isso, tu também és de certeza! E giro. E altamente. E espectacul..." Mas nada disso. Ai, se fosse o Bruno Nogueira, era espectacular, como sou eu, sou só um tipo que gosta dos Comunistas e Bloquistas e que, às tantas, até tem um didgiridoo em casa e uns vasos na janela.
Dados os meus fracos conhecimentos na matéria, passei o resto da noite a tentar descortinar o porquê de só a minha barba, no meio de tantas, ser a única de "esquerda". Pelo tamanho não era. Pela farfalhudice também não, porque havia delas lá bem jeitosas. Já estava a desanimar quando me ocorre que, às tantas, por estúpido que possa parecer, era por não ter as pontas da barba aparadas. As barbas daqueles tipos estavam alinhadas nas bochechas e no pescoço. Tipo Miguel Frasquilho, estão a ver? Deputado do PSD, lá está! Tudo fazia sentido. E a minha não. Eu sempre achei que "acertar umas pontas" era coisa de mulheres quando iam ao cabeleireiro. Mas já se deve ter alastrado aos homens. Caramba, havia coisas bem melhores que os homens podiam roubar às mulheres sem ser os cuidados capilares. Roubar a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo tinha sido muito mais bem pensado.
Mas não deixa de ser incrível como cortar uns pelos nas bochechas e outros no pescoço pode logo alterar a área política de um gajo. Quer dizer, no jantar, quem ganhou a eleição do melhor político foi mesmo o António Costa com maioria absoluta por isso, às tantas, a barba acertada não é um exclusivo do pessoal de direita. Esperem lá, será que os tipos de esquerda que acertam a barba é porque querem passar despercebidos? Cada vez percebo menos disto. Vai na volta, o pessoal que acerta a barba nas bochechas e no pescoço é porque acha que fica bonito assim. Nááá....
Por via das dúvidas, na próxima vez que fizer a barba (deve estar para breve, a Maria já me disse: "A sério, já não te fica bem." sem se rir.), vou acertá-la nas bochechas e vou assim ao banco pedir um empréstimo, a ver o que é que acontece. Da última vez que a fiz, experimentei fazer a barba à Pacheco Pereira e fui à padaria comprar pão só para ver se me tratavam de forma diferente mas não consegui perceber se os papos-secos que me puseram no saco eram os "mais cozidinhos" ou não. Mas não volto a experimentar esse tipo de barba. Duas velhotas olharam para mim de uma maneira esquisita e não quero voltar a passar por isso.

1 comentário:

  1. Eu bem sei que é preconceito, mas sempre associei os hippies barbudos ao BE...

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