sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A epistemologia da metafísica da loucura da sociedade


A convite expresso de familiares que me são próximos, um dos quais profundo conhecedor da nobre arte teatral, fiz o obséquio de me deslocar, na companhia de minha esposa, há já um dia atrás, ao Teatro da Politécnica, com o objectivo de assistir à peça de teatro "A Farsa da Rua W", levada à cena pela excelsa Companhia Artistas Unidos.
A peça retrata a loucura de um agregado familiar, constituído pelo patriarca e dois descendentes directos do sexo masculino, que, dia após dia, representam teatralmente a alegada história de vida do progenitor. Apenas um dos filhos se desloca à rua diariamente a fim de fazer compras de bens alimentares, sendo que no restante tempo, toda a unidade familiar se remete ao asilo dentro da própria habitação.
Como o respeitoso leitor já terá, por certo, percebido, a peça retrata a insanidade que se pode instalar no subconsciente de cada indíviduo causada por um passado pouco dignificante e as implicações que tal facto pode trazer à vida de terceiros, nomeadamente no que à capacidade de enfrentar a sociedade como um todo diz respeito.
No que toca à peça propriamente dita, a primeira e inolvidável referência terá que ir para os profissionais da representação dramática, vulgarmente conhecidos como actores. Um desempenho, a todos os níveis, excepcional. A capacidade interpretativa e a forma de se moldarem a personalidades diferentes é assinalável.
Relativamente à encenação, apenas duas notas de destaque. O fim comete a proeza de elevar o nível de toda a peça a um ponto muito elevado, chegando mesmo, a levar o próprio espectador a reflectir sobre a metafísica da sua condição enquanto ser humano e a epistemologia do relacionamento intergeracional. Já o início, com destaque para os primeiros 40 minutos, provoca a mesma sensação aos espectadores que a condição climatérica experimentada pelo território após longos períodos sem precipitação ou humidade atmosférica. Se o início fosse um pouco menos prolongado, por certo o prazer proporcionado pela representação recepcionado pelos espectadores seria superior.
De qualquer das formas, é uma peça excepcional que deixará, certamente, a sua marca indelével sobre o espectador. Eu ainda não tive oportunidade de descobrir a marca que tal acontecimento deixou sobre a minha pessoa, uma vez que me sinto perfeitamente normal e igual a mim próprio, na posse de todas as minhas capacidades, quer físcas quer metafísicas.
Mas quem sabe se, a seu tempo, o descobrirei.

4 comentários:

  1. Não posso vir a este blog porque cada vez que cá venho começo a ler os textos e nunca mais paro, e depois não faço o que tenho a fazer.

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  2. Se calhar tem daquelas mensagens que só com o tempo vamos decifrando.

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  3. Sabes Tiago, quando uma pessoa tem um grau de loucura nunca se sente mais ou menos louca!! ahahah...por isso é que não dás conta!! :p

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  4. Eduardo, é sempre uma honra (e um espanto!) receber a sua visita no meu humilde estaminé! E como eu o compreendo. Se soubesse a quantidade de coisas que eu deixo por fazer para escrever aqui as minhas barbaridades... :)

    S*, aquilo tinha para lá mensagens que nunca mais acabavam. Felizmente tenho consciência das minhas limitações e não me ralei com as mensagens que me passaram ao lado!

    Maria, por acaso já alguém devia ter feito uma escala de loucura. Às vezes tenho curiosidade de saber em que nível eu estaria! ;)

    Dinha, não mudes. Estás bem assim. Mas duvido que tenhas construído a tua vida ao meu redor. Eu nem te conheç... Ah, desculpa, é a simopse do teu blogue. :)

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