segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pelo menos os camarões estavam bons


Este fim-de-semana fui a um casamento com a Maria. A noiva era a única pessoa que conhecíamos, quer dizer, que a Maria conhecia. No meu caso, acho que ter-lhe dito uma vez "Olá, sou o Tiago." e outra "O Tiago, o marido dela..." não faz propriamente de nós conhecidos.
De resto, não conhecíamos mais ninguém. Foi muito giro. Todos os restantes convidados se conheciam e falavam alegremente. Eu e a Maria também falávamos alegremente. A diferença é que era só um com o outro. Quer dizer, nem sempre. Como tivemos um dia inteiro para nós os dois, e a conversa de vez em quando escasseava, quando dei por mim, estava a levar nas orelhas da Maria por ter apanhado uma bebedeira há coisa de 9 anos...
Ah, mas é verdade. Tivemos, sim, outras conversas durante o dia. Eu tive uma, mais ou menos assim:
"Diga."
  "Era um Martini, se faz favor."
Já a Maria, como é mais faladora, vi-a a ter este diálogo:
"Diga, menina."
  "Queria uma coca-cola, por favor."
"Já não há."
  "Então pode ser um sumo natural."
Apesar de ninguém nos ter ligado patavina durante todo o dia, no início da festa ainda tentei, sem sucesso nenhum, fazer com que as pessoas reparassem em nós. Após a cerimónia propriamente dita, quando fomos para a fila dos cumprimentos aos noivos, disse à Maria que estava a pensar numa piadola para dizer aos noivos quando chegasse a nossa vez de os cumprimentar. Quebrava o gelo e podia ser que as pessoas reparassem que estavam ali duas alminhas que tinham sido mesmo convidadas, e que não eram, apesar de parecerem, dois infiltrados a querer comer de borla.
"Não me envergonhes, a sério... O que é que estás a pensar dizer?"
  "O que é que achas de: Parabéns! Não dou mais de 15 dias a esse sorriso!"
"Estás doido? Eles não te conhecem de lado nenhum!"
  "E se fosse: 'Tás toda contente! Quando voltarem da lua-de-mel falamos!"
"Esquece. Não vais dizer isso. Já estou a ficar chateada."
Para quem não percebe, "Já estou a ficar chateada." quer dizer: "Estou a ficar chateada porque a idiotice na tua cabeça não tem fim, mas se não a mostrares a mais ninguém, eu não me importo. Mas se mostrares..." O problema nestas coisas são sempre as reticências.
Com aquela tirada da Maria, fiquei encurralado. Se por um lado não podia dizer idiotices, por outro, já só tínhamos um casal à nossa frente, antes dos noivos, e o tempo esgotava-se. Tinha que pensar em qualquer coisa decente para dizer mas a pressão era muita. Havia o risco de alguma coisa correr mal. Devia ter pensado de véspera, quando havia tempo. Ali, só me restava rezar que não me saísse nada muito mau da boca para fora.
À chegada aos noivos, a Maria, com toda a sua classe, diz:
"Estás tão linda!"
Ao que a noiva responde: "Não estou nada!" e olha para mim. Era aquele o meu momento. Felizmente, aquele era um diálogo para o qual eu sabia a minha deixa. Já o tinha praticado com a Maria várias vezes ao longo dos anos. Assim, sem hesitar, disse a uma pessoa com quem tinha falado duas vezes:
"Estás estás. Estás toda jeitosa!"
A Maria abraçou-se a ela, certamente para que eu não tivesse hipótese de lhe dizer mais nada e eu fiquei em frente ao noivo. Desta vez, não tinha a Maria para ir à frente e facilitar-me a vida. O homem olha para mim todo sorridente e eu, ainda a pensar no que dizer, estendo-lhe mão, e digo-lhe:
"Boa sorte!"
Imediatamente depois de ter dito aquilo, pensei que, talvez, "Parabéns!" tivesse soado melhor. Mas incrivelmente, o homem perdeu o sorriso e ficou todo sério a apertar-me a mão durante alguns instantes. Foi o suficiente para eu sentir ali o início de uma grande cumplicidade.
Bem, ou isso ou vontade do homem de me perguntar quem eu era e quem é que me tinha convidado. A minha sorte foi, mais uma vez, a Maria, que lhe espetou dois beijinhos na cara e a coisa passou.

7 comentários:

  1. Fiquei com vontade que vão a mais casamentos só para ler as tuas impressões a seguir (e as da Maria).

    ResponderEliminar
  2. Já passei há anos por uma situação dessas, estar lá mas toda a gente fingir que não estava. É simplesmente horrível, acha que seria incapaz de fazer isso a alguém...

    ResponderEliminar
  3. Que agradável... eu brevemente vou ter em que vou sozinha!!! É que nem o Homem Mais Sortudo do Planeta me pode acompanhar!! Nem imagino bem o que vai ser de mim!!

    ResponderEliminar
  4. ahahah Eu vou tão pouco a casamentos... pelos vistos perco cenas boas.

    ResponderEliminar
  5. Adoro os teus relatos... eheheheh... Eu tenho um casamento para a semana, felizmente conheço mais gente do que tu... até porque como não vou com nenhum "Manel" seria muito pior para mim... ehehhehe...

    ResponderEliminar
  6. Pec, não digas isso. A brincadeira ainda sai carota...

    Vespinha, é mauzito é. A noiva ainda se esforçou por conversar connosco mas tinha muito por onde andar!

    Maria, boa sorte! Se eu fosse a ti, pregava-me junto à mesa das bebidas!

    S*, tens mas é uma sorte do camano.

    Andresa, tu deves ser das pessoas mais sociais que eu conheço. Deixa lá estes problemas para anti-sociais como eu! :)

    ResponderEliminar
  7. :) Uma vez que fui a um casamento de um amigo, fui super infeliz no que disse. Tinha de sair mais cedo, e despedi-me do novo casal com "para uma próxima ficarei mais tempo"...o que a recém-casada não terá gostado assim muito - talvez tenha pensado que eu estava a pensar que no futuro iria a outros casamentos dele, com outra - porque respndeu que só iam casar aquela vez e agarrou-se ao braço dele...

    ResponderEliminar