quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O desespero, logo aos 4 anos de idade


Uma das coisas que mais gosto do Verão é que é das poucas alturas do ano em que a família se junta toda, um pouco como o Natal, mas com a vantagem de o jantar ser sardinhas assadas em vez de bacalhau.
Dão-se uns passeios, convive-se o que se não se pode conviver no resto do ano, brinca-se com os sobrinhos, de 4 e 7 anos, até as costas aprenderem a falar para pedir o fim da tortura a que são sujeitas e põe-se a conversa em dia.
Numa dessas vezes, o meu sobrinho de 4 anos perguntou à Maria se estávamos à espera de um bebé. O rapaz deve sentir a falta de um miúdo na família para brincar com ele. Por estranho que pareça, a irmã, com 7 anos, não acha piada aos puxões dele do cabelo dela. Vá se lá perceber as mulheres. É que é logo desde pequenas. Enfim.
A Maria, depois de pensar como haveria de descalçar aquela bota, sorriu, pôs o seu ar triunfal e disse-lhe:
"Sabes, os bebés vêm das árvores. Nascem nuns casulos e as pessoas que querem ter filhos vão lá buscar um casulo."
Já estava eu danadinho para continuar a conversa e dizer-lhe que, se os casulos caíssem ao chão e rachassem eram meninas e se ficassem agarrados ao pau, quer dizer, ao galho, eram meninos (só a classe desta analogia...), quando o miúdo, com um olhar de gozo, responde:
"Não é nada. O papá é que põe uma sementinha na barriga da mamã."
Ficámos os dois meio aparvalhados com o ar de indignado com que ele nos respondeu, mas o que custou mais nem foi isso. Foi o revirar de olhos com que ele o disse. Naquele momento, tenho a certeza de que o pensamento dele foi: "Estes dois só podem estar a gozar. É que só pode. Terão o quê, 3 anos?"
Apercebendo-se do desconforto da situação, apressou-se a arranjar uma desculpa para sair da cozinha a correr, enquanto gritava: "Vou ver bonecos pra sala!"
O assunto passou mas, dias mais tarde, quando voltámos a estar juntos, o sacana do miúdo voltou à carga com a mesma pergunta. Cá para mim, os pais também o devem ter proibido de puxar os cabelos à irmã e, portanto, ter um primo tornou-se numa questão da maior urgência. E para acelerar o processo, quis certificar-se de que tínhamos aprendido a lição e que não íamos andar a perder tempo à procura de árvores com casulos.
Por isso, desta vez eu não podia falhar na resposta. Não podia deixar o meu sobrinho de 4 anos achar que eu tinha mentalidade de 3. De 12 anos ainda vá, agora 3, santa paciência. Apesar de temer o contra-ataque, disse-lhe:
"Com efeito, caro sobrinho, a conjuntura económica mundial, e em particular aquela em que o nosso país se encontra, tem causado alguma instabilidade junto da Maria e de mim próprio, pelo que não nos parece que esta seja a altura mais indicada para aumentar a família. Espero que compreendas esta situação."
Visivelmente atrapalhado, e talvez por se dar conta que estava a insistir no mesmo assunto sensível, arranjou mais uma desculpa das dele e saiu a correr da cozinha. Desta vez, foi: "Vou ver bonecos pra sala!"
Apesar de tudo, fiquei intrigado. É que o olhar dele dizia, e desta vez tenho mesmo a certeza que era:
"Do que é que este está para aqui a falar?"

5 comentários:

  1. Mais vale explicar tudo tim-tim por tim-tim. :D

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  2. :) Ahahaha... para a próxima vez levas uma explicação sobre de como os factores externos interferem com as hormonas e de como a produção hormonal é afectada por factores como a crise etc. Depois explica-lhe o ciclo reprodutor dos humanos mas de forma sempre cientifica. Assim ninguém te pode acusar de não explicares tudo certinho... e de forma verídica! Ele é capaz é de não perceber na mesma!

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  3. Muito bom! Está aqui está a mandar internar-te ;)

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  4. S*, é melhor é. Sabes como se diz: "Já nascem ensinados, é o que é!"...

    Maria, bom conselho!

    J., ele deve estranhar é eu ainda andar à solta! ;)

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  5. :) esse sobrinho merecia que lhe arranjassem um primo!

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