Entrámos no café, dirigimo-nos ao balcão e, para além dos dois cafés, perguntei se seria possível deixar o meu telemóvel a carregar. A dona ficou a olhar para nós especada e, com a voz meio a tremer, respondeu-nos, olhando para os dois velhotes ao nosso lado no balcão, que deviam ser conhecidos dela:
"- Ah... pois, não vai dar para carregar o telemóvel. Eu estou mesmo de saída e vou ter que fechar o café. E vocês os dois também já iam sair, não é?"
Os velhotes acenaram que sim mas, como sou um verdadeiro expert na interpretação da linguagem corporal das pessoas, percebi de imediato o que se estava ali a passar. A senhora, sabendo que não teria tempo de carregar o meu telemóvel até ao fim, e não querendo ser responsável por lhe viciar a bateria, recusou o meu pedido e inventou uma desculpa. Assim, para deixar a senhora descansada quanto aos danos possíveis no meu tijolo, insisti:
"- Não se preocupe. Se puder deixar a carregar mesmo que sejam só 5 minutos eu agradecia. Precisava mesmo de fazer uma chamada e isso já seria o suficiente."
A senhora voltou a insistir mais duas vezes mas com uma técnica infalível consegui levar a minha avante. Sim, insisti três.
Como a dona e os outros dois velhotes não paravam de olhar para nós em silêncio enquanto bebíamos o nosso café, o meu colega resolveu meter conversa, a ver se o ambiente aliviava qualquer coisita:
"- Sabe quem é que eu sou? Sou filho do Zé que é cunhado da Maria e tem um primo e este (eu) é o filho da professora da primária."
Bem, aquilo foi como quando Moisés abriu o mar a meio. A senhora reconheceu o meu colega e começou logo a rir de alívio e admitiu que não tinha que fechar o café mas que andava cheia de medo de cada vez que entravam desconhecidos, por causa do assalto. Já um dos velhotes disse logo:
"- Eu logo vi que eram boas pessoas. Eu vi logo! VI LOGO! Eu vi logo! Eu vi logo. Eu logo vi. Vi pois. Eu logo vi!"
Já eu não fiquei nada bem com aquele desfecho. Aparentemente, a mulher achava-me com
"- Olhe, pode deixar o telemóvel a carregar o tempo que quiser!"
Até me vieram as lágrimas aos olhos. Ficámos mais 5 minutos, agradecemos e viemos embora. Saímos do café, que estava à meia-luz, em direcção ao sol que entrava pela porta, ao som de:
"- Eu logo vi. Eu até tinha dito a ele que eram boas pessoas. Eu logo vi! Vi sim senhor... Boas pessoas. Eu logo vi...."
Parecia uma cena de filme. Épico.
:) pois no fim é assim .
ResponderEliminarHilariante!
ResponderEliminarTiago, agora já sabes que não podes ir para a Serra com barba de 3 dias e cabelo de 6 meses xD
ResponderEliminarahahah barba de 3 dias dá sempre ar de bandido!
ResponderEliminar:)))))))))
ResponderEliminarA mim não me pareceu filme nenhum. Já agora foram mesmo três?
ResponderEliminarCoitadinha da Senhora... então com ar de gandulo querias o quê?
ResponderEliminarQueres que te conte a história da professora?
ResponderEliminarSerenna