sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O mais parecido que alguma vez tive com um filho


Eu, que ainda não tive filhos, cheguei à conclusão, após uma análise muito, mas mesmo muito, cuidada das pessoas que já tiveram bebés, que ter filhos é uma coisa que: dá prazer a conceber, trabalho a gerar e uma cara de aparvalhado de cada vez que se olha para o produto final. Ah, e um medo do caraças de cada vez que alguém lhes pega, não vá alguma coisa partir-se.
Ainda só analisei esta questão durante alguns anos, por isso é natural que me esteja a escapar algum pormenor acerca do que é ter filhos mas acho que, no geral, é isto.
E foi isso tudo que senti quando a cegonha, quer dizer, o homem da transportadora, me entregou uma encomenda à porta de casa. Quer dizer, neste caso, também senti espanto por alguém estar a bater à porta e não ser o tipo da ZON que tem ar de Testemunha de Jeová. Se fosse esse ainda o convidava para beber um copo, que já somos quase família (é a pessoa que me bate mais vezes à porta, isso deve significar alguma coisa), mas o homem da transportadora só queria uma assinatura e desapareceu.
E sim, até à cara de aparvalhado tive direito. A caixa trazia 9 tabletes de chocolate com os meus desenhos, daqueles que publico aqui no estaminé, a servir de embrulho.
Fui convidado para esta embrulhada, no sentido bom da palavra, pela MySugar, uma marca de chocolates de Aveiro, que está, inclusivamente, convencida de que as vendas vão correr bem!... Ai ai...
As tabletes vão estar à venda nos Postos de Turismo de Lisboa, enoutras lojas aderentes, e eu já estou a ver como vão ser os meus próximos dias: vou ter que passar por lá, todos os dias, para ver se estão a precisar de uma limpeza, de umas festinhas, para ajudar alguém a pegar nelas ou, então, só para ficar aparvalhado a olhar para elas.
Afinal de contas, ter filhos é isso mesmo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Com 7 anos, eu acho que ainda era pior...


Maria - "Aqueles miúdos, ai ó pá. Que irritação que foi hoje! Se eles pensam que me podem faltar ao respeito nas minhas aulas estão bem enganadinhos!"
Eu - "Tem calma. É assim todos os anos. No início do ano lectivo custa-te sempre um bocadito mais. Dá-lhes um desconto. Têm 7 anos e ainda não tiveste tempo de estabelecer laços com eles!"
Maria - "Sim, mas estes miúdos, pá...São irritantes."
Eu - "Como é que eles são?"
Maria - "Oh, estão sempre a fazer desenhos nas aulas, a olhar pela janela, a conversar com o do lado e não ligam nenhuma para aquilo que eu digo. Tive que lhes mandar um berro para me ouvirem e não gosto nada. A sério, hoje venho mesmo irritada..."
Eu - "Pois, não sei..."
Maria - "Não estás a ver o estilo? São assim, tal e qual como tu! Que irritação."
Eu - "E queixas-te? Se forem como eu safas-te bem, já tens o treino todo. Olha, deixa-me só acabar este desenho e ver este programa que está a começar e já falam..."
Maria - "EU ESTOU A FALAR CONTIGO!"
Eu - "Sim, desc... desculpa..."

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pelo menos os camarões estavam bons


Este fim-de-semana fui a um casamento com a Maria. A noiva era a única pessoa que conhecíamos, quer dizer, que a Maria conhecia. No meu caso, acho que ter-lhe dito uma vez "Olá, sou o Tiago." e outra "O Tiago, o marido dela..." não faz propriamente de nós conhecidos.
De resto, não conhecíamos mais ninguém. Foi muito giro. Todos os restantes convidados se conheciam e falavam alegremente. Eu e a Maria também falávamos alegremente. A diferença é que era só um com o outro. Quer dizer, nem sempre. Como tivemos um dia inteiro para nós os dois, e a conversa de vez em quando escasseava, quando dei por mim, estava a levar nas orelhas da Maria por ter apanhado uma bebedeira há coisa de 9 anos...
Ah, mas é verdade. Tivemos, sim, outras conversas durante o dia. Eu tive uma, mais ou menos assim:
"Diga."
  "Era um Martini, se faz favor."
Já a Maria, como é mais faladora, vi-a a ter este diálogo:
"Diga, menina."
  "Queria uma coca-cola, por favor."
"Já não há."
  "Então pode ser um sumo natural."
Apesar de ninguém nos ter ligado patavina durante todo o dia, no início da festa ainda tentei, sem sucesso nenhum, fazer com que as pessoas reparassem em nós. Após a cerimónia propriamente dita, quando fomos para a fila dos cumprimentos aos noivos, disse à Maria que estava a pensar numa piadola para dizer aos noivos quando chegasse a nossa vez de os cumprimentar. Quebrava o gelo e podia ser que as pessoas reparassem que estavam ali duas alminhas que tinham sido mesmo convidadas, e que não eram, apesar de parecerem, dois infiltrados a querer comer de borla.
"Não me envergonhes, a sério... O que é que estás a pensar dizer?"
  "O que é que achas de: Parabéns! Não dou mais de 15 dias a esse sorriso!"
"Estás doido? Eles não te conhecem de lado nenhum!"
  "E se fosse: 'Tás toda contente! Quando voltarem da lua-de-mel falamos!"
"Esquece. Não vais dizer isso. Já estou a ficar chateada."
Para quem não percebe, "Já estou a ficar chateada." quer dizer: "Estou a ficar chateada porque a idiotice na tua cabeça não tem fim, mas se não a mostrares a mais ninguém, eu não me importo. Mas se mostrares..." O problema nestas coisas são sempre as reticências.
Com aquela tirada da Maria, fiquei encurralado. Se por um lado não podia dizer idiotices, por outro, já só tínhamos um casal à nossa frente, antes dos noivos, e o tempo esgotava-se. Tinha que pensar em qualquer coisa decente para dizer mas a pressão era muita. Havia o risco de alguma coisa correr mal. Devia ter pensado de véspera, quando havia tempo. Ali, só me restava rezar que não me saísse nada muito mau da boca para fora.
À chegada aos noivos, a Maria, com toda a sua classe, diz:
"Estás tão linda!"
Ao que a noiva responde: "Não estou nada!" e olha para mim. Era aquele o meu momento. Felizmente, aquele era um diálogo para o qual eu sabia a minha deixa. Já o tinha praticado com a Maria várias vezes ao longo dos anos. Assim, sem hesitar, disse a uma pessoa com quem tinha falado duas vezes:
"Estás estás. Estás toda jeitosa!"
A Maria abraçou-se a ela, certamente para que eu não tivesse hipótese de lhe dizer mais nada e eu fiquei em frente ao noivo. Desta vez, não tinha a Maria para ir à frente e facilitar-me a vida. O homem olha para mim todo sorridente e eu, ainda a pensar no que dizer, estendo-lhe mão, e digo-lhe:
"Boa sorte!"
Imediatamente depois de ter dito aquilo, pensei que, talvez, "Parabéns!" tivesse soado melhor. Mas incrivelmente, o homem perdeu o sorriso e ficou todo sério a apertar-me a mão durante alguns instantes. Foi o suficiente para eu sentir ali o início de uma grande cumplicidade.
Bem, ou isso ou vontade do homem de me perguntar quem eu era e quem é que me tinha convidado. A minha sorte foi, mais uma vez, a Maria, que lhe espetou dois beijinhos na cara e a coisa passou.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Tou a gozar, também tenho duas camisas...


Ao longo destes últimos dias, tenho-me estado a recriminar por ter faltado a dois dos mais importantes momentos de verdadeira cidadania a que o país assistiu recentemente. Sinto que deixei o meu país ficar mal e não vai ser fácil ultrapassar esta sensação.
Primeiro, custou-me imenso ter faltado à manifestação de dia 15. Queria ter estado lá para gritar bem alto as verdades que este Primeiro Ministro merece ouvir: que estes aumentos da Segurança Social só vão beneficiar os patrões e o capital e que me desamiguei dele no facebook. Sim. Eu sei que é duro desamigar alguém no facebook, mas ele estava a pedir. E olhem que até hoje só me desamiguei de outra pessoa, mas aí foi por um assunto muito mais sério. Já não aguentava receber mais convites para jogar o "Gardens of time" ou lá o que é. É que chegava a ser de hora em hora.
Mas onde me custou mesmo não ter ido foi à Vogue Fashion Night Out. Para quem não está a ver o que é, basicamente, é uma noite em que, no Chiado, em Lisboa, as lojas de roupa ficam abertas até de madrugada com promoções, há mini-concertos e bares improvisados em lojas, há celebridades a passear meio despidas, desfiles de modelos e as ruas ficam apinhadas de gente. Este ano foi no dia 13 de Setembro.
E eu bem tentei. Estive quase a conseguir convencer a Maria e uma das minhas irmãs a irmos mas fui traído pelo guarda-roupa. Não pelo meu, que só tem calças de ganga e t-shirts. Mas pelos delas, que, ao que parece, apesar de serem, respectivamente 12 e 7 vezes maiores que o meu, não tinham "nada de jeito" para ir a um acontecimento sobre moda.
Agora que penso nisso, às tantas elas não quiseram ir mas foi por causa do meu guarda-roupa. Hummm, ná. Não deve ter sido. Lembro-me perfeitamente que nesse dia tinha vestido uma t-shirt das mais recentes, comprada há menos de dois anos.
E pronto, acabámos por passar a noite no sofá a ver a "Gabriela, Cravo e Canela". Posso não ter visto mini-concertos nem bebido uns copos mas, pelo menos assim, sempre tive direito à parte de ver celebridades meio despidas.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Florentino Perez a Primeiro Ministro de Portugal, já!


Sim, isso mesmo. O Florentino Pérez, o presidente do Real Madrid, devia ser o próximo Primeiro Ministro de Portugal.
Para mim, depois do que aconteceu nos últimos dias no Real Madrid e em Portugal em termos de gestão, está mais que visto que o homem dá uma abada aos incompetentes e supostos líderes aqui do rectângulozinho.
Senão, vejamos. Há uns dias atrás, o homem teve lá na empresa dele um dos melhores trabalhadores amuado, a dizer para as câmaras que estava triste, profissionalmente falando. Fez beicinho e tudo. (confesso que me vieram as lágrimas aos olhos...) Já se sabe que a austeridade faz aumentar os impostos e os rendimentos baixam. Ah, e que o carinho faz falta para se trabalhar bem.
E o que é que o Florentino fez? Disse-lhe "Ó pá, deves estar a gozar? 8 milhões dele não te chegam por ano? Se queres carinho vai mas é pedir à Irina e à D. Dolores!..." Não. E vontade não lhe deve ter faltado.
Em vez disso, certo de que ter o melhor trabalhador chateado lhe iria fazer perder rentabilidade, pegou na calculadora e fez umas contas. Com o dinheiro que esse trabalhador lhe deu e lhe dá a ganhar, já dava para um aumento suficientemente grande para nem ser preciso nenhum carinho.
Mas tendo em conta que, provavelmente outros trabalhadores se seguiriam na tristeza, cá para mim, o homem não perdeu tempo e foi falar com o Patrocinador para lhe dizer que na próxima renovação de contrato vai precisar de mais dinheiro. Com o sucesso que a empresa tem tido, ao qual muito ajudou o trabalhador amuado, o nome do Patrocinador apareceu mais na imprensa e o seu valor de mercado aumentou. E por isso, o Patrocinado, a empresa do tristonho, deve ser recompensado. Não passa pela cabeça de ninguém achar que o Real Madrid exigir mais dinheiro a um patrocinador, e possivelmente um contrato mais duradouro, é demonstrar uma fraqueza. É antes uma demonstração do seu poderio.
Por cá é tudo ao contrário. Bem, talvez à excepção do carinho.
É certo que Portugal não é propriamente uma "empresa" de grande sucesso. Mas, o pouco que tem, convinha que se mantivesse e se procurasse aumentar. Em vez disso, com medo de perder o Patrocinador, dá-se uma talhada no rendimento dos trabalhadores. Os trabalhadores ficam tristes. Produzem menos. Levam mais uma talhada que é para não serem parvos. Ficam mais tristes e fazem beicinho. Produzem ainda menos. Levam outra e outra e outra. Ah, e um carinho na página de facebook do patrão. (eu logo disse que por cá não faltava carinho...)
Tudo porque ele não é capaz de dizer ao Patrocinador que é preciso mais dinheiro para os trabalhadores terem a remuneração justa e produzirem mais e mais depressa ganharem o campeonato, quer dizer, a independência. E explicar-lhe que essa é a forma de ele próprio, o Patrocinador, também ganhar mais, já que isso vai aumentar o sucesso da empresa.
Assim, o Patrocinador vai enchendo o bandulho até secar a empresa. Depois procura outra, porque o que mais por aí há são empresas em dificuldades.
Parece que já há uma chamada Espanha e outra chamada Itália que estão na fila.

(E pensar que ainda há uns dias atrás a minha preocupação maior era só espalhar bem o protector solar e conseguir entrar na água em menos de 37 minutos. Ah, e apreciar uns rabiosques na praia sem a Maria se aperceber, vá...)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Medo de dentistas, eu? Ná...


Nestes últimos 4 dias, tenho andado a braços com uma valente dor de dentes. Tenho um dente do sizo, a tentar furar a gengiva, que ainda não se apercebeu de que não há espaço na minha vida para ele. E já nem sequer é a primeira vez que ele tenta. E até já sei que quando este parar com esta mania, tenho mais 3 à espera para fazer o mesmo número.
Como se diz que são dentes que só conseguem nascer na vida adulta, quando a pessoa já tem juízo (ou sizo), para tratar destas dores só vi duas hipóteses: ou aumentar o espaço na boca, ou ganhar juízo. Perante a impossibilidade de concretizar qualquer uma das hipóteses, temi o pior.
Foi então que me lembrei do meu Plano de Combate às Maleitas. Foi um plano que defini precisamente para alturas de desespero e que resulta sempre. Em apenas 6 passos cura qualquer maleita. E como sou uma pessoa solidária com os que sofrem, aqui ficam as 6 medidas que mudam a vida de uma pessoa quando surge uma dor. É seguir os passos e parar quando a coisa tiver tratada. Nem sequer é preciso ir até ao fim. (aliás, se for preciso ir até ao fim é porque a coisa está mesmo má...)
Cá vai:
1 - Apareceu a dor. É borrifar no assunto.
2 - Borrifar no assunto, estranhamente, não o resolveu. Tomar um analgésico.
3 - O analgésico não está a fazer nada. Deixar de tomar e fazer de coitadinho para a Maria fazer uma canjinha.
4 - Gaita. Afinal o analgésico estava mesmo a fazer alguma coisa. Voltar a tomar.
5 - A dor não diminui. Dar uma lição ao corpo para que ele perceba que não pode agir como se fosse um miúdo mimado. Ele é meu, por isso tem que me obedecer.
6 - O corpo já não me respeita. Ir ao médico...
Neste momento estou no ponto 5. É um dos pontos mais importantes deste plano e tem que ser adaptado à maleita em causa. Se for bem realizado, o problema acaba aqui. Mas não se pode desistir à primeira. É que o ponto 6... é melhor nem dizer.
No meu caso, cumpri todos os pontos à risca atá ao 4. No ponto 5 cometi um erro de principiante. Pensei para comigo: "Se me está a doer uma parte do corpo, vou fazer com que todo o corpo me doa para ele perceber que tem que parar com a dor de dentes, porque senão é pior para ele." Pensei pedir à Maria que me desse um valente enxerto de pancada, mas como tinha receio que ela se entusiasmasse, calcei as sapatilhas e fui correr. Por incrível que pareça, durante um dia, não me doeram mais os dentes. Sim, todo o corpo me doía. O dente perdeu o protagonismo e deu-me algum descanso. O pior foi que, ao fim de algumas horas, a dor de corpo passou e o dente voltou em força. Eu sabia que estava na direcção certa, só me estava a escapar qualquer coisa.
Sentei-me no sofá a descansar e foi então que vi na televisão a publicidade de um elixir a fazer uma explosão dentro da boca. Vi logo que era mesmo aquilo que o meu corpo precisava para aprender a comportar-se. Uma explosãozinha dentro da boca para aprender a perder a mania.
E assim foi. Comecei a usar aquilo e agora sou um tipo totalmente novo. Se aquilo me curou a dor de dentes? Não. Se já consigo comer com o lado direito da boca? Nem pensar nisso. Nem lá perto. Mas quando bochecho com aquilo, fico com a boca tão dormente que não sinto nada do que se passa dentro dela. Quando uso, até as lágrimas me vêm aos olhos, porque me custa tratar assim o meu corpo, mas ele merece.
Assim que a dor começa a voltar, tumba: mais um bochecho da coisa e pronto. Mal seja que o dente não se farte de levar com aquilo. Agora é ver quem desiste primeiro. E eu acho que sei quem vai ser.
Só tem é um problemazito: ficasssse a falar à ssssopinha de masssssa.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O desespero, logo aos 4 anos de idade


Uma das coisas que mais gosto do Verão é que é das poucas alturas do ano em que a família se junta toda, um pouco como o Natal, mas com a vantagem de o jantar ser sardinhas assadas em vez de bacalhau.
Dão-se uns passeios, convive-se o que se não se pode conviver no resto do ano, brinca-se com os sobrinhos, de 4 e 7 anos, até as costas aprenderem a falar para pedir o fim da tortura a que são sujeitas e põe-se a conversa em dia.
Numa dessas vezes, o meu sobrinho de 4 anos perguntou à Maria se estávamos à espera de um bebé. O rapaz deve sentir a falta de um miúdo na família para brincar com ele. Por estranho que pareça, a irmã, com 7 anos, não acha piada aos puxões dele do cabelo dela. Vá se lá perceber as mulheres. É que é logo desde pequenas. Enfim.
A Maria, depois de pensar como haveria de descalçar aquela bota, sorriu, pôs o seu ar triunfal e disse-lhe:
"Sabes, os bebés vêm das árvores. Nascem nuns casulos e as pessoas que querem ter filhos vão lá buscar um casulo."
Já estava eu danadinho para continuar a conversa e dizer-lhe que, se os casulos caíssem ao chão e rachassem eram meninas e se ficassem agarrados ao pau, quer dizer, ao galho, eram meninos (só a classe desta analogia...), quando o miúdo, com um olhar de gozo, responde:
"Não é nada. O papá é que põe uma sementinha na barriga da mamã."
Ficámos os dois meio aparvalhados com o ar de indignado com que ele nos respondeu, mas o que custou mais nem foi isso. Foi o revirar de olhos com que ele o disse. Naquele momento, tenho a certeza de que o pensamento dele foi: "Estes dois só podem estar a gozar. É que só pode. Terão o quê, 3 anos?"
Apercebendo-se do desconforto da situação, apressou-se a arranjar uma desculpa para sair da cozinha a correr, enquanto gritava: "Vou ver bonecos pra sala!"
O assunto passou mas, dias mais tarde, quando voltámos a estar juntos, o sacana do miúdo voltou à carga com a mesma pergunta. Cá para mim, os pais também o devem ter proibido de puxar os cabelos à irmã e, portanto, ter um primo tornou-se numa questão da maior urgência. E para acelerar o processo, quis certificar-se de que tínhamos aprendido a lição e que não íamos andar a perder tempo à procura de árvores com casulos.
Por isso, desta vez eu não podia falhar na resposta. Não podia deixar o meu sobrinho de 4 anos achar que eu tinha mentalidade de 3. De 12 anos ainda vá, agora 3, santa paciência. Apesar de temer o contra-ataque, disse-lhe:
"Com efeito, caro sobrinho, a conjuntura económica mundial, e em particular aquela em que o nosso país se encontra, tem causado alguma instabilidade junto da Maria e de mim próprio, pelo que não nos parece que esta seja a altura mais indicada para aumentar a família. Espero que compreendas esta situação."
Visivelmente atrapalhado, e talvez por se dar conta que estava a insistir no mesmo assunto sensível, arranjou mais uma desculpa das dele e saiu a correr da cozinha. Desta vez, foi: "Vou ver bonecos pra sala!"
Apesar de tudo, fiquei intrigado. É que o olhar dele dizia, e desta vez tenho mesmo a certeza que era:
"Do que é que este está para aqui a falar?"

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

1 ano de Viagens!


É verdade. Aqui o estaminé completa hoje o seu primeiro aniversário. Parece que foi ontem que comecei a mostrar aqui os meus cadernos e, quase sem dar por isso, já lá vai um ano.
Um ano desde o dia em que estava a arrumar as tralhas no Quarto das... Tralhas (tentámos chamar-lhe Quarto de Hóspedes, mas não pegou) e me passaram pelas mãos os meus cadernos de viagem. Pareceu-me, nessa altura, muito mais engraçado mostrar o que eles guardam do que deixá-los a apodrecer na estante (até porque a estante é do IKEA, e com o bolor dos cadernos já se sabe que apodrecia num instante).
"Tenho montes de bonecos. Pinto cada um em 5 minutos, invento umas palermices e já está."
Não sei se a "enorme quantidade" de bonecos que tinha chegaram para o primeiro mês de vida do blogue, assim como também não sei se algum dos posts que fiz me levou menos de 3 horas. Mas bem vistas as coisas, é uma forma de me obrigar a desenhar mais e a esforçar-me para ser cada vez melhor. Mesmo que os bonecos sejam feitos no mesmo sít...
Xiiii, tenho que ir. É que, pela 123º vez, já estou a ouvir, directamente do sofá da sala:
"O quê? Ainda estás no blogue? Possa..."