sexta-feira, 30 de novembro de 2012
De volta aos assuntos sérios
Depois de todo o glamour e luxo em que a minha vida se tornou depois da minha primeira..., vamos lá, "crónica" política no P3, está-me a ser difícil voltar a concentrar naquilo que tenho que fazer.
E perguntam vocês: porque agora é só admiradores à porta do prédio ansiosos por um autógrafo e por me rasgar um pedaço de roupa para vender no ebay? Porque o Pacheco Pereira me ligou para lhe dar umas dicas para as crónicas dele? Porque o Passos Coelho mandou dois gorilas raptar a Maria como forma de me ameaçar para parar com as crónicas?
Podia ser, sim. Mas, por incrível que pareça, não. Está-me a custar concentrar porque para escrever aquele primeiro texto passei uma noite em claro e, agora que ando a pensar no segundo, voltei a não pregar olho, como diria o Camões.
Para alguém como eu, que apenas precisa de sentir a cabeça ligeiramente apoiada para dormir, não está a ser fácil.
Mas enfim, o mundo das grávidas que querem desenhos nos moldes de gesso que mandaram fazer no pico da gravidez não se compadece de noites mal dormidas. Há toda uma economia que depende desta actividade e eu não quero ser acusado de não contribuir para a felicidade de quem se prepara para a natalidade.
Sim, porque, embora possa não parecer, é uma actividade que contribui para a felicidade de muita gente: para a do bebé, porque o vai ajudar a perceber mais tarde como era a barriga da mamã quando ele lá estava dentro, para a da mamã, porque passou 9 meses a ver a barriga crescer com uma nova vida lá dentro e para a do papá, especialmente se o molde da barriga apanhar as mamoc...
Pronto, acho que já deu para perceber.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Um idiota à conquista do Mundo
Não sei se já aqui tinha dito, mas tenho sérios planos para conquistar o Mundo. É assim uma mania que tenho. Deu-me para isso, pronto. Bem sei que este meu desejo não agrada a toda a gente (a Maria, por exemplo, preferia que eu conquistasse a vontade de fazer mais tarefas domésticas...) mas o que tem que ser tem muita força.
Assim, neste caminho para esse objectivo final, e já depois da histórica conquista de não ter que ir ver o último filme do Twilight (a minha Maria vai com umas amigas, mas deixo aqui os meus pêsames a todos os homens que sofrem com este flagelo...), conquistei um cantinho no P3, o site do jornal Público dedicado à população mais jovem. Nesta primeira vez que as minhas palavras de idiotice eterna lá ocupam espaço, esforcei-me por falar a sério. Mas felizmente, desisti a tempo. Seriedade não é para mim.
Mas não pensem que isto de conquistar o Mundo é um caminho feito só de facilidades e felicidades. É regra da casa do P3 que os textos sejam acompanhados de uma foto do autor e, logo por azar, não tinha nenhuma à mão do Brad Pitt para enviar e tive mesmo que mandar uma minha (o que é aquilo?...).
Mas bem, se tiverem a paciência de passar por lá, ponham lá um "gosto", caramba. É que senão, isto de conquistar o Mundo torna-se complicado.
Ah, é verdade. O artigo está aqui.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
A epistemologia da metafísica da loucura da sociedade
A convite expresso de familiares que me são próximos, um dos quais profundo conhecedor da nobre arte teatral, fiz o obséquio de me deslocar, na companhia de minha esposa, há já um dia atrás, ao Teatro da Politécnica, com o objectivo de assistir à peça de teatro "A Farsa da Rua W", levada à cena pela excelsa Companhia Artistas Unidos.
A peça retrata a loucura de um agregado familiar, constituído pelo patriarca e dois descendentes directos do sexo masculino, que, dia após dia, representam teatralmente a alegada história de vida do progenitor. Apenas um dos filhos se desloca à rua diariamente a fim de fazer compras de bens alimentares, sendo que no restante tempo, toda a unidade familiar se remete ao asilo dentro da própria habitação.
Como o respeitoso leitor já terá, por certo, percebido, a peça retrata a insanidade que se pode instalar no subconsciente de cada indíviduo causada por um passado pouco dignificante e as implicações que tal facto pode trazer à vida de terceiros, nomeadamente no que à capacidade de enfrentar a sociedade como um todo diz respeito.
No que toca à peça propriamente dita, a primeira e inolvidável referência terá que ir para os profissionais da representação dramática, vulgarmente conhecidos como actores. Um desempenho, a todos os níveis, excepcional. A capacidade interpretativa e a forma de se moldarem a personalidades diferentes é assinalável.
Relativamente à encenação, apenas duas notas de destaque. O fim comete a proeza de elevar o nível de toda a peça a um ponto muito elevado, chegando mesmo, a levar o próprio espectador a reflectir sobre a metafísica da sua condição enquanto ser humano e a epistemologia do relacionamento intergeracional. Já o início, com destaque para os primeiros 40 minutos, provoca a mesma sensação aos espectadores que a condição climatérica experimentada pelo território após longos períodos sem precipitação ou humidade atmosférica. Se o início fosse um pouco menos prolongado, por certo o prazer proporcionado pela representação recepcionado pelos espectadores seria superior.
De qualquer das formas, é uma peça excepcional que deixará, certamente, a sua marca indelével sobre o espectador. Eu ainda não tive oportunidade de descobrir a marca que tal acontecimento deixou sobre a minha pessoa, uma vez que me sinto perfeitamente normal e igual a mim próprio, na posse de todas as minhas capacidades, quer físcas quer metafísicas.
Mas quem sabe se, a seu tempo, o descobrirei.
terça-feira, 20 de novembro de 2012
O Phelps dos comboios
Recordo-me, muitas vezes, de um colega meu me dizer que tirou muitos cursos durante o tempo de estudante em Coimbra mas que, aquele em que tínhamos que ir às aulas e fazer exames não tinha sido, de longe, o mais importante.
E eu não podia estar mais de acordo. Tirei lá 3 ou 4 cursos de uma extrema importância para a minha vida, para além daquele em que tinha que jogar às cartas todos os dias no bar da Faculd..., quer dizer, para além daquele em que tinha que ir às aulas todos os dias.
Por exemplo, um dos cursos que tirei paralelamente chamava-se "1001 Desculpas para chegar tarde a Casa dos Pais". Nesse, devo dizer, não tive grandes notas. O problema é que esse curso está bastante desactualizado porque, ao que parece, os pais das pessoas em geral também o frequentaram, e já com, exactamente, as mesmas cadeiras. É o mal dos programas das cadeiras não serem revistos...
Mas, para além desse, tirei outros onde me safei melhor. Por exemplo, no "Curso Avançado da Prática do Sono dentro de um Transporte Público que Circule sobre Carris" fui um dos melhores. Aliás, passei com distinção nas cadeiras "Sono em pé", "Sono com alguém insistentemente a falar connosco" e "Despertar e sair do transporte quando este já está a arrancar II - nível avançado". Ok, nesta tive boa nota só no recurso, porque na primeira tentativa fui parar à última estação no último horário do comboio. Foi o que deu a confiança que ganhei depois de tirar 19 valores a "Sono com uma velhota de cada lado no banco, a conversarem uma com a outra sobre as galinhas que tinham acabado de comprar na feira e que seguravam alegremente pelas asas."
Ora, actualmente, anos após ter tirado este curso, tive que voltar a utilizar o Metro à noite. Isto dos cursos é mesmo assim. Na altura em que os tiramos ficamos a pensar o que raio vamos fazer com eles, mas, anos mais tarde, o destino trata disso.
E, já se sabe, por muitos anos que passem, o corpo tem "memória muscular". (foi o Michael Phelps que o disse, ao ganhar tudo nos Jogos Olímpicos, mesmo depois de um ano inteiro a fumar ganzas, e se ele o diz é porque é verdade) Sim, aquilo que eu quero dizer, basicamente, é que sou o Phelps do Sono em comboios.
Numa das primeiras vezes, bastou-me entrar numa carruagem 5 minutos depois das 22h00 para a magia acontecer. Demorei um pouco mais que 1 minuto e 23 segundos e acordei 2 estações antes da minha mas, a capacidade de adormecer mantinha-se intacta. Com mais uns treinos e a coisa ficava no ponto.
Dias mais tarde, Metro às 23h20. O que mais pode uma pessoa querer? 48 segundos entre a entrada, o sentar e o adormecimento e... o excesso de confiança novamente a acontecer. Mais uma vez, a confiança daquele histórico dia em que, pela manhã, desafiado por duas velhotas com apenas dois dentes cada e galinhas a soltar penas pelo ar nas mãos, me tinha afirmado ao mundo como um dos melhores na arte de adormecer nas situações mais difíceis e a acordar delas com toda a leveza. Perturbado por essa sensação, acordei quando senti que o meu rabo tinha parado de me embalar (uma das técnicas que se aprende no curso), levantei-me na carruagem, saltei no meio das portas com elas já a apitar, olhei em volta para procurar a saída quando vi que... estava 5 estações antes da minha com 2 empregados de limpeza da estação à minha frente aparvalhados a olhar para mim. Sem perder tempo, virei costas para tentar voltar a entrar mas a carruagem, sem piedade, arrancou a toda a velocidade.
Voltei a virar-me e lá continuavam os dois empregados especados. Estive quase quase para lhes perguntar:
"Sabem se ainda vem mais algum Metro? É que a esta hora está a dar o "The Voice" na tv por isso não devo conseguir convencer a Maria a vir buscar-me..."
Mas eles estavam com aquele olhar que dizia "Este deve achar que é o Phelps do Sono em comboios..." e eu não quis dar parte de fraco.
Porque eu sou o Phelps dos comboios. Só preciso é de mais um bocadinho de treino. É só isso.
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
As coisas têm que ser bem feitas de início
Aqui há dias, tive que tratar de uma licença num organismo público. Sim. Vem aí relato de diversão e da boa.
Liguei para o dito organismo e informaram-me que podia tratar da licença no site deles. Inclusivamente, só precisava de fazer um seguro e depois preencher um formulário no site. Ah, e pagar a licença, claro. Achei que eram facilidades a mais e voltei a ligar. Como foi outra pessoa que me atendeu o segundo telefonema, a coisa já tinha um prazo e o seguro já tinha uns parâmetros especiais. Com medo que a coisa se complicasse ainda mais, resolvi não voltar a ligar.
Tratei do seguro que me pediram e, cheio de confiança, fui ao formulário do site. Para grande surpresa minha, afinal também precisava de me registar noutro organismo público. Por facilidade, vou-lhe chamar organismo n.º2. Fui, então, ao site do organismo n.º2 para me registar mas como precisava de um código, liguei para lá. Agradeceram o meu contacto e informaram-me que esse código era fornecido no organismo n.º3.
Respirei fundo, agradeci e liguei para o organismo n.º3 para pedir o tal código. Atendeu-me uma senhora muito simpática que me informou que a senhora que sabia dizer os códigos estava todo o dia em formação e pediu-me para ligar no dia seguinte. Pedi-lhe que me ajudasse pelo amor da Santa e a senhora respondeu-me:
"Olhe, eu não tenho a certeza de qual é o código. E não lhe vou dizer um sem ter certeza porque as coisas têm que ser bem feitas logo de início, não acha?" Meio aparvalhado, nem soube o que responder e desliguei.
No dia seguinte liguei para o organismo n.º3 e a senhora, que deu para ver perfeitamente que tinha muita formação, indicou-me o código. Agradeci e voltei ao formulário do organismo n.º2. Inseri o código e obtive um relatório. Com o relatório do preenchimento do formulário do organismo n.º2, voltei ao formulário do organismo n.º1. Inseri a gaita do relatório e passei ao campo seguinte do formulário, embalado para a obtenção da licença.
Quando li o que me era pedido no campo seguinte, juro que se não estivesse a Maria a olhar, tinha deixado cair uma lagrimita. Agora tinha que inserir mais um certificado que se obtinha no organismo público n.º4. Mas a culpa era minha. Eu sabia que devia ter ligado, no mínimo, 3 vezes para o primeiro organismo. Quem me manda ser preguiçoso...
Fui ao site do 4º organismo e, sorte a minha, também dava para pedir esse certificado online. Mais um preenchimento de um formulário, mais um pagamento e a esperança renovada de conseguir a porra da licença.
Voltei ao formulário do site do organismo n.º1, decidido a completar a treta do preenchimento e receber a licença. Inseri os dados do certificado do organismo n.º4 mas o formulário do organismo n.º1 não detectava nada. Voltei ao site do organismo n.º4 para perceber qual o problema e foi aí que as sábias palavras da senhora do organismo n.º3 ecoaram na minha cabeça - "as coisas têm que ser bem feitas logo de início"... Afinal o certificado do organismo n.º4 tinha um prazo de uma semana para ser emitido e para ninguém dizer que a administração pública é desorganizada, essa semana até estava dividida em 5 etapas. A primeira era o preenchimento do formulário e a última era a aprovação. No meio até uma etapa para ouvir as queixas do público havia... O curioso é que tive que o pagar logo.
Mas uma coisa é certa: às tantas uma pessoa precisa mesmo de parar uma semana para não perder o juízo. No meio desta insanidade toda, o que me alegra é ouvir os políticos, ano após ano, governo após governo, a gabarem-se do quanto diminuiram a burocracia e simplificaram todos os processos.
A todos eles o meu muito obrigado.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Para que não haja desculpas
Isto hoje está de um jeito que parece o Natal antecipado, só que em vez de ser um velhote que vem do Norte, com umas roupas esquisitas a quem se pede presentes, é uma velhota que vem do Norte com umas roupas esquisitas a quem se pede presentes. Não há muita diferença. Quer dizer, talvez o buço da velhota não esteja tão grande como o do velhote mas de resto é igual.
E até o facto de as pessoas se chatearem com a velhota, faz lembrar o velhote. Eu lembro-me, quando era miúdo e dizia aos meus pais o que gostava que o Pai Natal trouxesse, que nem sempre a coisa corria como eu esperava. E a resposta dos meus pais era sempre: "Se calhar não explicaste bem..." Era o problema dos intermediários. Eu dizia aos meus pais, eles nem sempre se explicavam bem ao velhote e quem não recebia o que sonhava era eu. (Caramba, seria assim tão difícil perceber o que era um tractor John Deere em tamanho para criança mas que desse para lavrar à mesma? Ou uma bicicleta com um side-car, acelerador e um sofá no sítio do selim? Ou... desculpem, entusiasmei-me...) E aqui é tal e qual: quem manda na malta não está a perceber o que nós queremos da velhota. É que só pode ser isso. E depois são as desculpas do costume: "Eu pedi-lhe o que vocês estão a pedir e ela não quer dar. Ou então foram vocês que se explicaram mal. A culpa não é minha. Eu falei-lhe grosso e tudo. Sim, sim. Que eu sou muito mau."
Por estas e por outras é que se inventaram as cartas ao Pai Natal. Assim, não restam dúvidas. Eu, vou aproveitar para escrever aqui o meu pedido à velhota, que eu sei que ela vem cá ao estaminé, e assim sempre poupo o dinheiro do selo:
"Querida Velhota: dava jeito que desses aí um jeito nas taxas de juro que a malta por aqui anda a passar mesmo mal e não merecíamos. Tu sabes bem que grande parte da culpa é de um tipo que agora fugiu para França. E para além do mais, já és tão rica que te fica um bocadito, mas só um bocadito, mal quereres enriquecer à custa de quem já não tem quase nada. Mas o que eu te queria pedir mesmo era que não viesses vestida com decotes como da outra vez. O mais certo é depois apareceres em todos os jornais e telejornais e, pior do que não ter dinheiro e trabalho é ter pesadelos e não conseguir dormir. Pode ser? És uma querida. E fofinha, também. Beijinhos. PS: Se tiveres por aí algum tractor em tamanho de criança que não precises, diz. Tem é que ser John Deere."
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Perder a inspiração devia ser caso de ir às Urgências
"- Tiago, precisava que me fizesses umas ilustrações engraçadas e divertidas."
"-
Desta vez, a vítima foi, novamente, a mysugar. Depois de me pedirem desenhos de monumentos todos bonitinhos para embrulhar tabletes de chocolate, lembraram-se que talvez fosse boa ideia pedirem-me desenhos sobre o Natal para o mesmo efeito. O resultado são três desenhos, como dizê-lo... ah, idiotas.
Mas o mérito, como não podia deixar de ser, é da Maria. Por vezes, quando uma pessoa trabalha durante muitas horas no mesmo sítio, as ideias começam a escassear e torna-se necessário desanuviar, em busca da inspiração perdida. Quando me pedem desenhos sobre o Natal e eu não consigo ir além do Pai Natal entalado na chaminé, ou do sobrinho a receber um par de meias da tia totó, sei que estou mesmo a precisar de dar uma volta. Por sorte, tenho a Maria, que, quando me vê a desesperar, pega em mim e me leva a dar uma volta. Desta vez, levou-me a um sítio onde 10 minutos de estadia correspondem a 10 anos de uma torrente de inspiração gratuita que entra pelos olhos, ouvidos e nariz.
Sim, estou a falar das Urgências do Hospital, mais concretamente da sala onde estão os casos menos graves - os da pulseira verde. Aquilo é um maná de ideias e eu até acho que a solução dos problemas financeiros do Serviço Nacional de Saúde podia passar por vender minutos nas Urgências a pessoal que só quisesse ter ideias novas. Desde a rapariga que, à porta da sala, está aos berros com o cunhado a chamá-lo de atrasado mental porque não vai buscar a irmã, ao médico com a camisa aberta até meio e cera de surfista no cabelo à velhota que passa à frente de toda a gente porque tem um penso de plástico que lhe causa alergia na mãozinha mas que "agora os médicos insistem em usar por ser mais barato...", tudo aquilo transmite inspiração.
Não fosse a Maria ter-se sentido mal, e este boneco, que fiz na sala de espera enquanto um médico com ar de hippie a atendia, nunca teria aparecido.
É nestas alturas que sabemos que temos a pessoa certa ao nosso lado.
Ah, e sim, já está tudo bem com ela! ;)
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
A minha bicla tem mais utilidades que a maioria
Nunca percebi muito bem o porquê do nome "bicicleta". Tudo bem que é um nome que dá logo a entender que se trata de uma coisa com duas rodas mas não dá a ideia da dimensão total do objecto. Agora, se fosse "máquina de tortura para humanos" ou "coisa que faz os gajos arrependerem-se amargamente do seu orgulho masculino idiota", acho que toda a gente perceberia mais facilmente que se trata de um veículo de duas rodas, sem motor e que tem um banco minúsculo capaz de deixar qualquer homem a falar fininho e incapaz de se sentar durante dois dias por cada meia hora de utilização. E onde a forma de se movimentar é pedalando, vá. (não sei se esta parte será muito importante, mas pronto).
Aqui há uns tempos, resolvi trazer a bicicleta do meu irmão, que estava em casa dos meus pais, para minha casa. Ele não a usava (só mais tarde percebi que "Ah e tal, vivo a milhares de quilómetros e não dava jeito levá-la comigo..." era uma desculpa esfarrapada.) e eu tinha grandes planos para ela. Curiosamente, depois de a utilizar uma ou duas vezes, cheguei à conclusão de que ficava muito melhor a enfeitar o corredor. Dá um certo ar de desportista a um gajo quando cá vem alguém e dá jeito para desbloquear conversas. Para não dizer que tem montes de sítios para pendurar coisas. Pena que nem toda a gente que aqui vive tenha a mesma opinião...Apesar de já ter esta firme convicção, decidi dar uma hipótese às "bicicletas" (vou-lhes chamar assim para simplificar) e resolvi aceitar o convite de uns amigos para ir dar uma "voltita pequenita, um passeio, vá" por uns caminhos de terra batida. Eu devia ter percebido que tinha que traduzir os termos técnicos utilizados por um grupo de pessoas onde são precisos 4 dígitos para escrever o preço das bicicletas de cada um para a minha linguagem..
Mas como estava decidido, inocentemente, lá fui. E até tive direito a ir numa emprestada que, supostamente, seria a melhor do grupo. Na altura não quis dizer nada, mas duvido que fosse a melhor. Ninguém me tira da ideia que as melhores e mais caras são as mais confortáveis e, como é lógico, isso vê-se no tamanho do selim. Quanto maior, mais cara será. Se o selim for tipo sofá, então não há dúvidas - é a melhor. Aparentemente, para os tipos habitués a coisa é ao contrário - quanto mais pequeno o assento, melhor. Mas como também acham que os calções de licra são muito bons, não sei se me dou por convencido.
A "voltita" correu melhor do que eu estava à espera. Tirando ter passado metade do tempo a tentar encontrar um sítio do rabo que não estivesse dorido para me sentar, foram 30km bem passados. E o passeio foi muito bem organizado. Os meus colegas até se davam ao trabalho de ir sempre à frente, para ver se o caminho estava em condições de eu lá passar, claro. E até fingiam que não estavam cansados só para me animar.
O problema foi que nos três dias depois do passeio, em toda a casa, só não me custava sentar num determinado sítio... (que por acaso tem um bidé ao lado e um lavatório à frente)
Quando esquecer o trauma, vou dar uma hipótese ao cabide com rodas que tenho no corredor. Mas já não me deixo enganar. O segredo está numa boa preparação e num bom equipamento. E a mim já ninguém me engana sobre o que vestir.
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