quarta-feira, 14 de agosto de 2013
Brincar aos pobretanas
Aqui há dias, fui passar a tarde com a Maria, e a família dela, a brincar aos pobretanas numa praia fluvial. Bem que gostava de ter ido brincar aos pobrezinhos para uma praia tipo, agora assim de repente, sei lá, Comporta mas, os dias não estão para grandes loucuras e acabámos por ir à fluvial.
E não devemos ter sido os únicos a não querer praticar insanidades, porque o parque de estacionamento estava à pinha. Não era um parque de estacionamento minúsculo pavimentado nem tinha parquímetros caríssimos, como aquele onde se deixa o carro para ir à praia dos pobrezinhos, mas, como era o que havia, tivemos que nos contentar.
O areal confirmava a lotação do estacionamento, a tal ponto que só conseguimos estender as toalhas fora da zona vigiada. A sorte foi que a maré estava baixa e não havia muita ondulação. Tivemos direito a bandeira verde toda a tarde, de maneiras que deu para tomar banho até fartar. Incrível. A água pareceu-me foi um bocadito amarela mas, como leio o Expresso, não me preocupei.
Depois do banho, ao cair da tarde, deu-nos a vontade de ir ao bar da praia beber uma cervejola e comer o marisco preferido do Eusébio (no tempo em que ele ainda tinha a conta bancária como a minha - pobretana, claro), que é como quem diz - tremoços.
No bar, cheio até não poder mais de gente a refastelar-se com marisco, estava um simpático cavalheiro, cuja estrutura física fazia lembrar um guarda-fato de casal, que se sentiu incomodado pela forma como a empregada do balcão o atendeu. Tenho-me dado conta que, quanto maior é o físico, maior também fica a sensibilidade. Na opinião do senhor extremamente sensível, a empregada que o atendeu não tinha formação nem apresentação. Por acaso também achei. As empregadas sem olheiras, de bikini e com meio quilo de silicone de cada lado atendem sempre muito melhor. Podem não saber contar o troco, mas isso também não interessa nada. A senhora ripostou que estava lá era para atender e não era para conversar e o ambiente subiu de tom, com o homem a pedir o livro de reclamações e os colegas da empregada a fazerem uma rodinha à volta dele. Se a coisa desse para a pancadaria, eu era incapaz de dizer que ganharia porque as coisas estavam muito equilibradas - os colegas da mulher todos juntos pesavam tanto como o homem sozinho. O que valeu foi que alguém telefonou imediatamente para a GNR. Nunca tinha visto um telefonema fazer tanto efeito. A malta deve ter pensado que ia para lá o Corpo de Intervenção e desapareceram num instante. E foi uma sorte porque esse corpo deve andar nalguma praia de pobrezinhos porque ali, e só meia hora depois, é que chegou um enfezado militar sozinho, com ar de novato e a olhar para o chão, com ar de não-olhem-para-mim-por-amor-de-Deus-que-hoje-não-me-calha-nada-bem-andar-à-batatada.
Como o espectáculo já tinha acabado, contámos os trocos e chegámos à conclusão que ainda dava para mais meio fino para cada um e um pratinho de marisco da terra. Há dias em que uma pessoa só se contenta com o melhor - depois do marisco do Eusébio, o pratinho de caracóis da praxe. Despachada a iguaria e limpo o queixo (está comprovado que é impossível comer caracóis sem ficar com o queixo a brilhar - quando o Expresso escrever sobre isto, eu ponho o link), voltámos à toalha, mesmo antes da Maria começar com vómitos. Nunca percebi muito bem o nojo dela por animais viscosos cheios de nhanha e que quando se tiram da casca ainda vêm com o número 2 agarrado ao corpo. Enfim. Manias. Antes do regresso a casa, mais uma banhoca e o desenho da praxe.
Gosto cada vez mais de brincar aos pobretanas. Na próxima, vou tentar brincar aos remediados, a ver se também é giro. Mas um dia, quando estiver na loucura, ainda hei-de brincar aos pobrezinhos. Duvido é que tenha tanta piada.
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