Arménio Carlos, dirigente
da CGTP, num discurso feito numa manifestação que reuniu quarenta mil
professores, referiu que “… em Fevereiro regressam os três reis magos, dois
brancos e um escurinho, que são os representantes do Banco Central Europeu, da Comissão
Europeia e do Fundo Monetário Internacional…”, sendo que, para quem não tinha
percebido, o “escurinho” é o etíope Abebe Selassie. Escusado será dizer que
choveram comentários e opiniões por toda a parte, em especial nas redes
sociais, acusando Arménio Carlos de ser racista e exigindo-lhe um pedido de
desculpas em público, bem como uma ou duas auto-chicotadas nas costas. Bem,
talvez tenham sido três ou quatro.
Quanto a mim, este é um
daqueles casos em que a pessoa é altamente traída pelos acontecimentos. Se, em
Fevereiro, viesse a Troika a Portugal, acompanhada da chanceler alemã, Angela
Merkel, e do chefe do governo italiano, Mario Monti, o sr. Arménio teria dito:
““… em Fevereiro
regressam os três reis magos, dois brancos e um escurinho, que são os
representantes do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo
Monetário Internacional, e uma gordinha e um velhadas, que são os
representantes da Alemanha e da Itália…”, e toda a gente perceberia a realidade
– Arménio Carlos não é racista. É mas é idiota e não deve ter a noção do que é
falar em público na era das redes sociais.
Chamar “escurinho” a
Abebe Selassie só para o identificar, conforme justificou Arménio Carlos, é, no
mínimo, deselegante. O termo utilizado contém alguma malícia no diminutivo e
não é totalmente objectivo, como ele o fez crer. Se tivesse dito “dois
branquinhos e um escurinho”, a coisa talvez passasse. Lá está, seria idiota à
mesma. Mas pelo menos, seria só idiota. Assim, para quem lê apenas o excerto
referido, parece que deixa antever alguma sobranceria, derivada da cor, do
orador relativamente ao visado.
É um facto que os
discursos políticos exprimem sempre alguma superioridade da parte de quem
discursa sobre os visados, mas essa superioridade deve ser ideológica, política,
social mas neste caso, ela parece racial. Tenho a convicção de que Arménio
Carlos não é racista, até porque os seus actos valem mais (felizmente) que as
suas palavras. Quis ser engraçado, quis ter piada, mas acabou por ultrapassar o
limite do bom senso. Numa roda de amigos, não haveria, provavelmente, qualquer
problema. Porque os amigos se conhecem e sabem até podem ir na relação entre
todos.
Numa manifestação pública
como esta, é preciso ter a noção de que se fala com pessoas que têm, provavelmente,
apenas a profissão em comum. Uma piadinha destas ouvida por um emigrante que
tenha sofrido na pele agressões racistas certamente não cairá bem. Nem à sua
família nem aos seus amigos.
No que toca aos problemas
da sociedade, como o racismo, cada um tem uma interpretação que provém da sua
história pessoal e das suas vivências. Arménio Carlos não teve sensibilidade
social para perceber isso, foi imprudente e deveria retractar-se
convenientemente. Dizer “Se por ventura alguém se sentiu incomodado, melindrado
com o que eu disse, aproveito então esta oportunidade para pedir desculpas…” é
próprio de quem se recusa a aceitar que errou.
Para isso, mais valia
ficar calado.
PS: Mais uma crónica do P3. Bem, vou andando que ainda tenho que quanto é que custa um segurança.
A frase caiu mesmo muito mal, foi insensata. É pena, gosto dele.
ResponderEliminarmas afinal o etíope é mesmo ESCURINHO, não é????... então, qual é o problema????.... se lhe chamassem branquelas... aí sim, havia chatice da grossa!!! agora... escurinho... é o que ele é.... ou não??????
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