quarta-feira, 25 de abril de 2012
"25 de Abril às vezes! 25 de Abril às vezes!"
Ontem estava a ver um daqueles programas da SIC Notícias, onde os telespectadores telefonam para dar a sua opinião, em que o tema era o 25 de Abril. Sim, eu sei. Estive a ver um programa para reformados, mas de outra forma nunca chegaria a saber que a D. Odete é rouca porque já trabalhou na feira e agora é reformada com 156 €.
Ainda antes dos telefonemas, passaram uma reportagem com entrevistas a universitários em que lhes perguntavam se sabiam o que tinha acontecido em 74. Só 10% respondeu certo. Assim que terminou a reportagem, a jornalista pivot pediu um comentário ao convidado em estúdio. "Lá vão outra vez dizer mal dos universitários", pensei eu, mas enganei-me. O que o idiota, perdão, o comentador disse, foi: "É bom sinal que os jovens não saibam o que foi o 25 de Abril. Isso significa que não se identificam com os valores de antes do 25 de Abril, mas sim com os valores de agora." Eu também não conheço muito sobre música clássica, mas não faz mal, porque me identifico com a música de hoje em dia.
Passados alguns segundos, telefona o sr. tenente coronel Inácio, de 62 anos, a dizer que se soubesse o que isto ia dar, tinha ficado quieto no quartel, porque não foi para isto que ele andou a lutar.
Alguns minutos depois, lá telefonou o sr. Humberto, de 58 anos, da Pontinha, reformado por invalidez da construção civil, a dizer que isto era bom era no tempo do Salazar. Para quem não sabe, os reformados tiram à vez quem é que telefona para o programa diariamente a dizer isto.
Ligou a D. Otília, que deu os parabéns pela intervenção da D. Odete, e perguntou à jornalista se ela se lembrava dela. Acrescentou que tinha os dois filhos muito bem no estrangeiro e desligou.
Por fim, telefonou um tipo desempregado, dos seus 30 e poucos, a dizer que no tempo do Salazar é que era bom, e que nunca perdoaria ao Mário Soares a entrada de Portugal na, então, CEE. Fiquei chateado com este telefonema por duas razões. A primeira porque de certeza que ele não foi ao sorteio para saber quem ligava a dizer isto e não respeitou as regras do sorteio (quem ganhou neste dia tinha sido o sr. Humberto) e, depois, porque sendo um gajo novo, é um perfeito idiota. E dois idiotas no mesmo programa torna-se complicado de aguentar. A sorte deles foi que experimentei o "Você na TV" do Goucha e voltei logo com o rabinho entre as pernas.
A mim parece-me que os portugueses nunca souberam lidar muito bem com a Liberdade. A Liberdade dá um trabalho do caraças e uma responsabilidade tremenda. No tempo do Salazar, não havia liberdade mas as pessoas sabiam quem culpar por isso. A culpa estava no ditador. Depois do 25 de Abril, a coisa já passou a ser diferente. As pessoas passaram a ter liberdade mas, com ela veio a responsabilidade sobre os actos praticados. E essa, as pessoas nunca a tinham experimentado e, parece-me que ainda há muita gente que não sabe lidar com ela.
Se há eleições, deve-se ir votar. A abstenção em Portugal chega aos 40%, quase metade e, muitos dos votam fazem a sua escolha por uma questão de simpatia, sem nunca se interessarem pelo programa defendido por cada candidato. Se há Governos corruptos, façam-se manifestações até eles caírem. Se os juros do crédito à habitação forem muito altos, aluga-se casa, se não se pode ter dois filhos, tem-se um, se a televisão plasma for muito cara, vê-se numa mais pequena e não se vai aquelas empresas que cobram 25% de juros sobre o dinheiro emprestado, se não se sabe o dia de amanhã, poupa-se, se a empresa não está bem, não se renova a frota... Não resolvia todos os problemas do país, mas dava uma grande ajuda.
Ultimamente vejo muita gente a culpar o Sócrates por atitudes que, também eles próprios, tiveram nas sua economias domésticas. Gastou mais do que podia. E agora alguém vai ter que pagar.
E chateia-me pensar que, possivelmente, muitos dos que o criticam até o elegeram duas vezes...
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Espelhaste quase na perfeição tudo o que se passa.
ResponderEliminarMuita gente gasta o que não pode e mesmo hoje continua a fazer uma vida muito boa. Basta ir às lojas de plasmas e afins.
Quando se diz que no tempo do botas é que era bom, se calhar está-se a falar na crise de valores de hoje em dia, ou na desfaçatez da roubalheira destes palhaços todos que aí andam. Muitos deles eleitos por nós. Por mim, nas próximas era votar em branco. Com uns 2 milhões de votos brancos...E depois lá está, se fossem todos votar era bem melhor, mas há saloios que preferem ficar em casa a ver a missa das 11.