sábado, 31 de março de 2012

As camas eram pequenas porque dormiam agachados


Aqui há uns dias, fui com a Maria ao Palácio da Pena. Queríamos dar um passeio e foi lá que acabámos por ir parar. Já lá tínhamos ido uma vez, mas acabámos por decidir voltar porque, ao que parece, visto por dentro é mais giro do que do lado de fora da bilheteira. E até já tínhamos uma visita combinada para lá irmos com amigos, mas, a Sintra, nunca se vai vezes a mais.
Antes de entrarmos, estava convencido de que todo o edifício estaria aberto e que os turistas poderiam andar por lá à vontade, mas estava enganado. O palácio tem um percurso interior bem definido e explicado. Talvez até um pouco bem explicado demais -  havia uma sala com um remendo no tecto e um poster por baixo com uma fotografia de um pedreiro de bigode em cima do tecto daquela divisão, com olhos de 1,5g de álcool no sangue, com o seguinte título (devidamente acompanhado da tradução em inglês) - "Reparações de 1991 provocaram graves danos no tecto desta sala". Estive quase para acrescentar " e eu acho que sei quem foi..." ("and I think I know who did it...") mas não quis estragar todo o dramatismo daquela fotografia.
Fomos percorrendo o percurso e, em pleno quarto da Rainha Amélia, dei comigo a perceber porque é que a anterior Ministra da Educação, Isabel Alçada, não foi muito respeitada pelos portugueses nesse cargo. A senhora, por muito que custe, faltava à verdade. Sim, isso mesmo. Como é que é possível alguém publicar um livro, de seu nome "Uma Aventura no Palácio da Pena", onde duas personagens gémeas se deitam na cama da rainha e comem dois bolos que estavam na mesinha de cabeceira naquele mesmo quarto e, constatar anos mais tarde, ao vivo que, tal seria completamente impossível visto que a cama está rodeada por painéis de vidro para ninguém a usar e que bolos nem vê-los? As fundações da minha adolescência por pouco que não desabaram ali mesmo. Só espero não vir a descobrir que, afinal, também não existia um monstro no Aqueduto das Águas Livres, ou ladrões de carros numa oficina em Lisboa. Isso seria por em causa as minhas origens.
Recompus-me do choque e, não querendo dar parte fraca, a única coisa que consegui comentar com a Maria foi:
"Que camas tão pequenas... Naquele tempo os portugueses deviam ser mesmo baixotes."
Continuámos o percurso pelos quartos e mais quartos até que chegámos à cozinha do palácio, a última divisão da visita.
À nossa frente ia uma miúda de uns 10 anos e a mãe. Ao vê-las, e antes que terminassem a visita, o guia do palácio daquela divisão (deve haver para aí um por divisão), aproxima-se delas e diz:
"Ouvi pelo intercomunicador do meu colega do quarto da rainha que a menina pensa que as camas eram pequenas por os portugueses serem pequenos naquela altura. Não posso deixá-las sair do palácio com essa ideia!"
Resposta da miúda: "Não fui eu. A sério! Não fui eu!"
Primeiro pensamento que me ocorreu: a minha voz, através de um intercomunicador, parece a voz de uma miúda de 10 anos.
Segundo pensamento: não sei mais que uma miúda de 10 anos.
Terceiro pensamento: nunca na vida me vou acusar, a miúda que fique com a fama.
Quarto pensamento: vou andar por aqui às voltas a ouvir a explicação do homem para me poder armar em esperto da próxima vez que cá voltar com amigos.

quinta-feira, 29 de março de 2012

A volta ao mundo sem sair do repuxo


Eu acho piada aquelas pessoas que dizem que gostam de viajar para ver pessoas de outras culturas. Não, é que ao preço que estão os combustíveis, os hotéis, as viagens e tudo o resto, viajar para ver pessoas de outras culturas é um luxo muito grande.
Viajar para ver sítios diferentes, com culturas diferentes onde vivem pessoas diferentes, eu compreendo e adorava ter possibilidades de o fazer bem mais.
Mas agora, se é só para ver e conhecer pessoas de outras culturas, então basta viajar até ali ao Rossio ao Domingo à tarde. A sério, fica muito mais barato e poupa a chatice de fazer as malas e andar de um lado para o outro carregado. Num instantinho, se conhecem montes de pessoas diferentes.
Aqui há uns Domingos, fui lá com a Maria e, sentadinhos ali no repuxo no meio da praça, ficámos a ver e a conhecer, de vista, paquistaneses, alemães, angolanos, moçambicanos, indianos, franceses, marroquinos, ingleses, suecos...

segunda-feira, 26 de março de 2012

Ou isso ou o Glorioso vai ficar outra vez a ver navios...


Aqui há algumas semanas, cada vez que conversava com amigos, mais cedo ou mais tarde, o assunto ia dar ao Benfica, sempre com muitos sorrisos na cara.
"Então e o nosso Benfica?"
"Eh eh, até os comemos! Já está no papo!"
Agora já não é bem assim. Já ninguém puxa o assunto e eu, de cada vez que o faço, levo com uns olhares que me dizem que, se não parar com esta mania, mais cedo ou mais tarde, vou acabar despejado numa valeta a meio da noite.
Se é verdade que os bons resultados do Benfas foram à vida, também é verdade que o mais importante é ver as coisas pela positiva, e, nestas coisas, nada como a matemática para nos animar. Os treinadores que o digam. Quando as coisas estão a correr mal, saem-se sempre com um "Enquanto for matematicamente possível, lutaremos pelo título." e ainda há quem diga que o pessoal com a 4a classe não sabe fazer contas... Enfim.
Mas ora vamos lá ver as coisas na sua real dimensão, porque isto da matemática tem que se lhe diga.
Há 3 equipas na frente do campeonato: Porto, Braga e Benfica, e, poder-se-ia pensar que cada qual com, mais ou menos, um terço de probabilidade de o ganhar, 33%, esquecendo que estão separadas só por um ponto. Mas não é bem assim. O Glorioso, que já anda nisto há uns tempos, por precaução, arranjou maneira de meter 3 benfiquistas de gema, como toda a gente sabe - o Quim, o Nuno Gomes e o Ruben Amorim, no Braga. Ora, fazendo as contas, 3 benfiquistas numa equipa de 11, dá uma percentagem de 27%, isto é, o Braga é 27% Benfica. O Porto, mais confiante, só lá meteu 1, o Ukra. Da mesma forma, sucede que o Braga é 9% Porto.
Ou seja, temos 127% Benfica, 109% Porto e apenas 64% Braga. Probabilisticamente, dividindo os prováveis pelos possíveis, podemos ver que a hipótese do Benfica ganhar é de 42%, contra 36% do Porto e 22% do Braga. E já nem vou aqui ao pormenor de existirem duas equipas a jogar com a cor do Glorioso ou duas equipas com o nome a começar pela letra "B" porque já se percebeu quem é que vai ganhar o campeonato.
Certinho direitinho. A matemática nunca falha.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Sou um fácil...


Se há coisa que gosto, é de ir para um café, tomar o meu lanchinho, ler o Público, ou, se o café for dos mesmo bons, a TV7 dias, e fazer um desenheco, ou dois.
Se há coisa de que não gosto nada é de ir às compras de mercearias ao hipermercado.
E se há pessoa que me conhece bem, é a Maria:
"Vamos às compras?"
"Não me apetece mesmo nada..."
"Anda lá. Lanchamos no café do Continente."
"Hummm..."
"Têm a Caras...mas tu é que sabes."
"A Caras?? Vamos lá, que ainda não vi as fotos da filha do Yannick, a Liianiiiii."

terça-feira, 20 de março de 2012

Ser maestro é psicológico


Desde que me lembro, sempre me perguntei o que raio fazem uns tipos de aspecto duvidoso, a que, normalmente, chamamos maestros, a esbracejar em frente a um coro ou a uma orquestra, durante os concertos. Tanto os membros dos coros como os músicos de uma orquestra, sabem, com toda a certeza, as músicas de cor quando vão dar um concerto. E, mesmo que não soubessem, tinham lá as pastas e as pautas para não se perderem. Então para que raio é preciso um tipo à frente deles a mexer-se como se se estivesse a torcer de dores?
Este Domingo descobri a resposta a mais este enigma da Humanidade. E não foi bonito.
Ora, sucede que, lá na terreola aconteceram mais umas Promessas dos Escuteiros do Agrupamento 859.
À hora marcada, a igreja encheu-se de pais e amigos dos miúdos que iriam viver um momento importante das sua vidas. E, como não podia deixar de ser, coube à malta a parte da animação dos cânticos da missa. Era importante fazer boa figura.
Geralmente, quando se ensaiam as músicas com 4 semanas de antecedência, as coisas até correm bem. Desta vez, só houve a possibilidade de ensaiar com uma semanita de antecedência e, antes disso, há um ano que ninguém se juntava para cantar. O caminho estava traçado mas era em direcção ao abismo.
Quando nos instalámos na igreja, antes da cerimónia, o sentimento era de desespero. A tal ponto que, um dos meus colegas que toca viola e ensaia o pessoal me pediu para puxar pela malta em cada música. Ele a ensaiar a malta é do melhor que há, a sério. Mas tem um problema grave: só tem 2 braços. E ali estava ele a pedir-me para eu ser os outros 2 braços dele, puxando pelas vozes de quem tem que lhes dar uso durante as músicas. Eu, que nunca tinha percebido a verdadeira necessidade de um maestro, estava prestes a tornar-me num. Ou não.
Quando chegou a primeira música, pus-me de pé virado para o coro e comecei a esbracejar timidamente. E... nada, não aconteceu nada. Quem estava a cantar continuou, quem estava calado assim ficou. Havia algo de errado no meu esbracejar. Aquilo, afinal, tem técnica.
Mas, o momento era importante e eu não podia baixar os braços, literalmente. Na segunda música esbracejei com mais força e já notei um pouco mais de entusiasmo no coro. À 4a ou 5a música, eu já estava de um jeito que só me lembro de agredir quem estava ao meu lado, tal era o vigor do esbracejamento. E a malta cantava com entusiasmo e, aparentava que ia seguindo as minhas indicações.
Estava eu naquele transe quando tive uma revelação, uma epifania. Sim, finalmente eu tinha descoberto qual a necessidade de ter um maestro à frente de um coro ou de uma orquestra. Depois de todo aquele esforço, recompensado pelo entusiasmo de quem cantava, eu percebi tudo.
É preciso um tipo a esbracejar bastante, mas tem que ser bastante, para que, na cabeça de cada cantor ou músico surja o seguinte pensamento:
"É pá, coitado do gajo. Tá tudo a olhar para a figura triste que ele tá a fazer. Bem, deixa lá cantar mais alto para as pessoas pensarem que é por causa de ele estar ali e não gozarem com ele depois... E mesmo que cante mal ninguém vai reparar. Tá tudo a olhar para ele, coitado."
Sim, ser maestro não tem nada a ver com música. Lamento mas é a verdade.
Agora vou deixar crescer o cabelo sem o pentear, como os maestros das melhores orquestras fazem. Aquilo chama tanto a atenção do público que depois já não é preciso esbracejar tanto para lhes chamar a atenção e fazer os músicos tocar mais alto.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Os óscares dos cabeçalhos


Aqui há tempos, depois de ver 3 ou 4 blogues com o mesmo fundo que o meu, decidi que estava na altura de lhe mudar o aspecto. Se é para ser original, então que o seja da cabeça aos pés.
Andei uns dias a matutar na ideia, a ver outros blogues e, quando meti as mãos à obra, já sabia o que queria. Depois de umas quantas experiências, cheguei ao resultado final que agora está visível.
A Maria, como sempre, adorou. "Só mudava a cara do boneco, a cor do fundo, o tipo de letra do cabeçalho e não cortava o cabeçalho em baixo. Parece que o fizeste maior e agora não cabe. Ninguém percebe que fizeste isso de propósito para ter estilo. De resto adoro! A sério, tá espectacular!"
Agradando à Maria, tudo pode acontecer. É a pessoa mais exigente com aquilo que faço e, por isso, não é fácil agradar-lhe. Mas, quando consigo, é bom sinal. E, a avaliar pelas 2 últimas frases dela, o cabeçalho estava mesmo bom. Nunca pensei que ela fosse gostar tanto. Ainda por cima não estava certo que lhe fosse agradar a cara do boneco, a cor, o tipo de letra e o corte em baixo.
Mas lá está, tudo pode mesmo acontecer. Ao que parece, o cabeçalho está nomeado para melhor cabeçalho na categoria de "Diário Masculino" no blogue do "Simão Escuta". Isto é o equivalente aos óscares dos cabeçalhos. O ponto mais alto na vida de um jovem cabeçalho. Está lá um inquérito de lado onde se pode votar (várias vezes, eh eh, mas não digam que eu disse isto...) no cabeçalho preferido. Acho que não se ganha nada, mas o tipo que dirige aquilo é um gajo porreiro (que só conhece 5 blogues e então nomeou 5 blogues). Não precisam de lá ir, mas se fizerem muita questão... Não, a sério. Deixem estar.
Pronto, tá bem, vão lá...

terça-feira, 13 de março de 2012

As pessoas é que fazem os sitios


Maria - Então mostra lá, como é que está a ficar o Terreiro do Paço.
Eu - Ainda estou no início...
Maria - Tás a gozar? Vimos aqui de propósito, a pé e tudo, para desenhares o Terreiro do Paço e tu pões-te a desenhar um casalinho?
Eu - É pá, nem imaginas a seca que me estava a dar pensar em desenhá-lo... Não se mexe nem nada. É muito mais giro desenhar pessoas a mexerem-se.
Maria - Ai é mais giro? Então olha, podes desenhar-me a ir embora...

PS: a última deixa da Maria é pura imaginação minha. Não foi nada disso que ela disse. Aliás, até estou convencido que nem virgulas usou. (acho que assim estou safo...)

domingo, 11 de março de 2012

Agora acho que já é seguro divulgar

Depois do Ivar do Não compreendo as Mulheres se ter lembrado que era giro, do João e da Teresa, do Mercado Negro, terem achado piada à ideia, depois de passar dias e dias a retocar os desenhos, de idas e mais idas à loja de impressão até acertar no formato e tamanho dos ditos, de desesperar por só ter percebido depois de imprimir todos os desenhos que as molduras do IKEA têm um tamanho diferente, depois de passar quase um dia a fazer passe-partouts para adaptar os desenhos às molduras, depois de uma correria para apanhar o autocarro (que nem tempo me deu para fazer a barba, que já está com aquele charme de 32 dias...), outra para apanhar o metro e outra para apanhar o expresso, depois de uma viagem de 4 horas em que durante 3 tive que ir a ouvir as aventuras de 3 universitárias nas suas saídas à noite, depois de me aperceber que não tinha nem pregos nem martelo comigo e que, talvez, dessem jeito para afixar quadros na parede, depois de ter chegado a Aveiro e ter ido a correr para a Associação Mercado Negro, depois de ter tido a ajuda de pessoas que não conhecia mas que se prontificaram a ajudar a afixar os quadros na parede e da Teresa me ter explicado que a fita-cola dupla face também cola quadros à parede quando não se tem pregos, depois do João me ter oferecido uma tosta mista quando já me faltava a inspiração para escrever uma descrição sobre a minha pessoa à entrada da exposição (e não tinha mais que 35 cêntimos no bolso)...

acho que já é seguro dizer que está uma exposição com 20 desenhos aqui do estaminé (com o respectivo texto afixado por baixo) na Associação Cultural Mercado Negro, no Rossio, em Aveiro. A exposição vai lá ficar entre os dias 9 e 31 de Março e são todos bem vindos. Não dá é para fazer "Gosto" nem postar comentários...

PS: Este pessoal do Mercado Negro gosta de correr riscos. Até imprimiram as agendas do mês de Março com a minha exposição lá e tudo. É pessoal de fé.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Desta nem o Álvaro se lembrou


Há dias fui à Segurança Social e, mal entrei e vi aquela sala completamente apinhada de gente, tive uma epifania. Ao longo dos dias, dou comigo várias vezes a tentar descobrir qual a melhor empresa que eu poderia abrir para ganhar rios de dinheiro e, ali, na sala de espera da Segurança Social, estava a resposta. A melhor empresa, aquela que tem sempre montes de clientes, aquela em que basta contratar pessoas com a 4a classe para atender, aquela em que, mesmo que as pessoas sejam mal atendidas acabam sempre por voltar e até esperam o dia inteiro para serem atendidas se for preciso, é, sem dúvidas, aqui vai... uma Segurança Social!
Ok, eu sei. Não se pode abrir uma Segurança Social. Ainda não foi privatizada, e é capaz de ainda levar uns mesitos a ser. Por isso é que, mal saí de lá, tive outra epifania. É verdade. Duas no mesmo dia não é fácil, mas aguentei-me à bomboca.
Quando saí, olhei em volta e o mundo ficou mais claro e evidente para mim. De certeza que muitas pessoas já descobriram mas, egoísticamente, esconderam a fórmula do enriquecimento rápido e fácil do público em geral. Mas agora, qual benfeitor, venho revelar a fórmula da riqueza instantânea.
A forma de enriquecer não é montar uma Segurança Social, é montar uma loja ao pé da Segurança Social. Até pode ser uma loja de rolhas usadas, de pneus carecas, de barcos furados, o que for. Se estiver ao pé da Segurança Social, vai vender de certeza. As pessoas ficam tão deprimidas com o tempo de espera que vão às lojas das redondezas e acabam por gastar dinheiro só para se sentirem menos mal.
Como estou a ver que isto é capaz de levantar algum cepticismo, vou voltar ao momento em que saí da Segurança Social. Ao olhar em volta, o que vi, foi: um mercado, uma feira, um banco, um café, um restaurante, uma oficina, uma discoteca, uma retrosaria, outro café e, no único espacinho livre no passeio uma camioneta de pães com chouriço. E toda a gente sabe que as camionetas dos pães com chouriço só vão onde há pessoas dispostas a gastar dinheiro.
Ah pois é. Quem é amigo, quem é?

sexta-feira, 2 de março de 2012

Um apelo aos menores de 6 anos que forem fofinhos


Queria fazer um apelo às crianças com menos de 6 anos: quando forem à missa, não levem os vossos pais nem os vossos avós. Quando fizerem 6 anos já podem. Até lá, não me levem a mal, mas, eu preferia sinceramente que não o fizessem.
Embora muita gente possa pensar que os pais ou os avós são imprescindíveis para manter as criancinhas caladas na missa, isso não é verdade. Sim, as crianças falam durante a missa, e noutros locais onde é suposto fazer silêncio, mas nada que se compare a quem está a tomar conta delas. E o caso atinge proporções mais graves se as crianças forem fofinhas (daí o limite abaixo dos 6, idade em que metade da piada delas vai à vida) e se quem estiver a tomar conta delas forem os avós.
Aqui há tempos, fui com a Maria à missa e, como não havia mais lugares livres, ficámos sentados ao pé de uns avós com uma miúda fofinha, aí dos seus 3 anos. Este já configurava o pior caso relativamente ao barulho que se perspectivava, mas, para ajudar, os avós ainda traziam um casal amigo, uma espécie de avós em 2º grau, que a miúda não conhecia de lado nenhum.
A cerimónia lá começou calmamente. Estava tudo a correr bem quando a miúda de 3 anos exclama:
"Sou um bebé!"
Certo. Já toda a gente sabia isso, mas também não se pode dizer que tenha sido muito perturbante. O problema foi que a avozinha não estava de acordo. Uma bebé? Nem pensar.
"Não, não. Tu és uma princesa!", respondeu-lhe a avó, supostamente em surdina.
E a miúda, tendo, nitidamente, mais conhecimentos sobre a monarquia que a avó, voltou à carga:
"Bebé!"
O que veio a seguir, foram 50 minutos disto:
"Não, és uma princesa! Tens a roupinha cor-de-rosinha, não tens, fofinha? Então és uma princesa! Não és nenhuma bebé. Princesa! És a princesa da avó! Dá cá um beijinho. Não queres dar? Assim não és princesa! Ai que caiu o sapato da princesa! Temos que apanhar, não é? Olha que tens que ouvir o senhor padre a falar, princesa! Não páras quieta, fofinha princesa?"
Eu ainda estive para dizer à senhora: "Olhe, desculpe-me a intromissão mas, de facto, constato que a sua neta, cuja idade se situa entre os 2 e os 4 anos, é efectivamente um bebé, pelo que agradecia que terminasse a sua argumentação sem fundamento e me deixasse ouvir o homem." mas, como a Maria me disse "Bem, já acabou. Vamos para casa?", achei que já não valia a pena.

Já que estamos numa de apelos, aproveitava e pedia, também, aos telemóveis que quisessem ir à missa para deixarem os donos em casa. Eu sei que se os telemóveis tocarem e não estiver lá o dono para rejeitar a chamada, temos que ouvir durante mais tempo o toque do Michel Teló. Mas, por outro lado, não estando lá os donos, não se corre o risco de algum dono atender o telefone em plena igreja e toda a gente ficar a saber o que vai servir de almoço:
"O quê? Tou a ouvir mal... Queres ir lá a casa almoçar? Tá bem. Já ficas é a saber que é batatas cozidas. Não posso falar alto, caneco. Batatas! Ba-ta-tas cozidas. Xiça! Co-zi-das. Não vês que não posso falar alto?..."