segunda-feira, 28 de maio de 2012

Daqui a 3 meses, estou lá outra vez


Se há coisa que guardo para fazer quando vou à terreola é ir ao Jaime. O Jaime é o barbeiro lá do sítio e é ele que já me apara as gadelhas desde os meus 10 anos. 
A primeira vez que lá fui foi com o meu pai e lembro-me que não aguentava de tão contente. Naquela altura, apesar de tão jovem, tive que tomar uma das mais dificeis decisões da minha vida e que eu sabia que me iria marcar para sempre: escolher entre ir ao Jaime ou ao Nato. Na escola, havia a facção Jaime e a facção Nato.  Apesar disso, a escolha acabou por ser fácil: escolhi o barbeiro onde ía o meu pai. Há quem diga que é quando se vai à tropa ou quando se começa a trabalhar ou mesmo quando nos casamos. Nada mais errado: um miúdo passa a homem quando passa a ir ao Jaime. Quer dizer, ao barbeiro.
Antigamente, o Jaime tinha um salão antigo que me deixava maravilhado só de lá estar dentro. Com cadeiras antigas, uma vitrina cheia de champôs antigos e um sinal que me assustava sempre que o via e que dizia: "Tenha atenção: já existe vacina para a raiva." Era bastante reconfortante saber disso apesar de eu ficar sempre na dúvida se aquilo era coisa que era melhor tomar antes de ir ao barbeiro. Para além de barbeiro, o homem também era bombeiro, o que lhe conferia uma aura tremenda.
Com o passar dos tempos, modernizou-se e mudou-se para uma loja nova ao pé da câmara municipal (já estava tudo a pensar o que raio tinha o desenho da câmara a ver com a história...). Para além das novas instalações, passou a ser preciso marcar o dia e a hora do corte.
De cada vez que lá volto, sinto sempre o mesmo gosto e a mesma sensação de ir a um sítio familiar. Desta última vez, lá estavam os papéis com as marcações colados no espelho e onde pude ver que o "filho da Mena" era a seguir a mim, ou melhor, a seguir ao "filho do engenheiro". Lá estava, também, a mesa cheia de revistas de motas, "Diários de Coimbra" e aquelas revistas de piadas feitas com montagens de fotos (alguém lhe deve ter dito que aquilo tem piada...).
A única coisa que é imprescindível levar, para além do dinheiro para o respectivo, é a deixa para desbloquear a conversa quando me sento na cadeira:
"Então os bombeiros, estão a resistir bem à crise?" Era infalível. Ao longo dos anos, já tinha tentado política, futebol, vinho, televisão e nada. Se queria pôr o homem a falar era puxar-lhe pelo assunto do coração.
Desta vez, porém, a reacção foi diferente. De tesoura em punho, parou de me cortar o cabelo, pegou no telefone e disse-me:
"Ai o que me foste lembrar! Tenho que fazer já uma chamada."
Pegou no telefone e encostou-o ao ouvido. E eu, fiquei à espera? Não.
O Jaime ainda tinha uma mão livre. E as marcações são para cumprir.

2 comentários:

  1. Epá, espera aí, o Jaime mudou de sítio??? Não posso!

    (é mítico, até, o grande Jaime Barbeiro!)

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  2. Quer dizer, mudou de sítio aqui há uns anitos!...
    É mítico sim senhor!

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