terça-feira, 20 de março de 2012

Ser maestro é psicológico


Desde que me lembro, sempre me perguntei o que raio fazem uns tipos de aspecto duvidoso, a que, normalmente, chamamos maestros, a esbracejar em frente a um coro ou a uma orquestra, durante os concertos. Tanto os membros dos coros como os músicos de uma orquestra, sabem, com toda a certeza, as músicas de cor quando vão dar um concerto. E, mesmo que não soubessem, tinham lá as pastas e as pautas para não se perderem. Então para que raio é preciso um tipo à frente deles a mexer-se como se se estivesse a torcer de dores?
Este Domingo descobri a resposta a mais este enigma da Humanidade. E não foi bonito.
Ora, sucede que, lá na terreola aconteceram mais umas Promessas dos Escuteiros do Agrupamento 859.
À hora marcada, a igreja encheu-se de pais e amigos dos miúdos que iriam viver um momento importante das sua vidas. E, como não podia deixar de ser, coube à malta a parte da animação dos cânticos da missa. Era importante fazer boa figura.
Geralmente, quando se ensaiam as músicas com 4 semanas de antecedência, as coisas até correm bem. Desta vez, só houve a possibilidade de ensaiar com uma semanita de antecedência e, antes disso, há um ano que ninguém se juntava para cantar. O caminho estava traçado mas era em direcção ao abismo.
Quando nos instalámos na igreja, antes da cerimónia, o sentimento era de desespero. A tal ponto que, um dos meus colegas que toca viola e ensaia o pessoal me pediu para puxar pela malta em cada música. Ele a ensaiar a malta é do melhor que há, a sério. Mas tem um problema grave: só tem 2 braços. E ali estava ele a pedir-me para eu ser os outros 2 braços dele, puxando pelas vozes de quem tem que lhes dar uso durante as músicas. Eu, que nunca tinha percebido a verdadeira necessidade de um maestro, estava prestes a tornar-me num. Ou não.
Quando chegou a primeira música, pus-me de pé virado para o coro e comecei a esbracejar timidamente. E... nada, não aconteceu nada. Quem estava a cantar continuou, quem estava calado assim ficou. Havia algo de errado no meu esbracejar. Aquilo, afinal, tem técnica.
Mas, o momento era importante e eu não podia baixar os braços, literalmente. Na segunda música esbracejei com mais força e já notei um pouco mais de entusiasmo no coro. À 4a ou 5a música, eu já estava de um jeito que só me lembro de agredir quem estava ao meu lado, tal era o vigor do esbracejamento. E a malta cantava com entusiasmo e, aparentava que ia seguindo as minhas indicações.
Estava eu naquele transe quando tive uma revelação, uma epifania. Sim, finalmente eu tinha descoberto qual a necessidade de ter um maestro à frente de um coro ou de uma orquestra. Depois de todo aquele esforço, recompensado pelo entusiasmo de quem cantava, eu percebi tudo.
É preciso um tipo a esbracejar bastante, mas tem que ser bastante, para que, na cabeça de cada cantor ou músico surja o seguinte pensamento:
"É pá, coitado do gajo. Tá tudo a olhar para a figura triste que ele tá a fazer. Bem, deixa lá cantar mais alto para as pessoas pensarem que é por causa de ele estar ali e não gozarem com ele depois... E mesmo que cante mal ninguém vai reparar. Tá tudo a olhar para ele, coitado."
Sim, ser maestro não tem nada a ver com música. Lamento mas é a verdade.
Agora vou deixar crescer o cabelo sem o pentear, como os maestros das melhores orquestras fazem. Aquilo chama tanto a atenção do público que depois já não é preciso esbracejar tanto para lhes chamar a atenção e fazer os músicos tocar mais alto.

6 comentários:

  1. Não haja dúvidas que os momentos altos do teu blogue são os que descrevem acontecimentos em plenas missas ;)

    ResponderEliminar
  2. Ahaha, muito bom.
    Que bela experiência, eu também nunca entendi muito bem o que é que o homem chamado maestro faz sem ser parecer um louco de cabelos no ar, mas agora com o teu relato fiquei esclarecida, é triste. Mas ainda lhes pagam para isso.

    ResponderEliminar
  3. Ups! não concordo asolutamente nada :(

    ResponderEliminar
  4. Ca, eu também pensei que no fim as pessoas iriam atirar notas na minha direcção, mas não...

    Maria, nem eu!

    ResponderEliminar
  5. Ao dizer tal coisa, só mostra que não tem qualquer cultura musical, antes de falar mal de um maestro ou de qualquer músico meta-se no lugar deles. Ao contrário do que muitas pessoas pensam um maestro ou um músico tem muitas horas de estudo e muito esforço, se lhes pagam é porque merecem ser recompensados por aquilo que fazem.

    ResponderEliminar